Capítulo 39
Miguel Fonseca
O sol começava a surgir no horizonte, tingindo o céu de um laranja intenso, como se até a natureza pressentisse que algo estava prestes a explodir. Eu observava a paisagem pela ampla janela do meu apartamento em Lisboa, com uma xícara de café quente entre os dedos e a mente mergulhada em lembranças que ardiam como fogo.
Caio.
Meu maldito irmão. Meu espelho, minha cópia, minha sombra, e meu maior traidor.
A maior decepção da minha vida.
Crescemos no mesmo inferno. Comemos o mesmo pão amassado pelo diabo, como dizem. Odiamos o mesmo homem. Treinamos juntos, apanhamos juntos, matamos juntos. Mas, em algum momento, ele decidiu que queria "ser bom". Que não queria mais essa vida. Que queria paz, amor, uma família. E eu? Eu fiquei sozinho. Carregando o maldito nome, o império, a culpa.
E o que ele fez? Me deixou. Fugiu como um covarde. Matou o velho que foi a prova que dei, achando que ele não faria, e sumiu, deixando-me sozinho com todo o caos.
Por um tempo, pens