Desci as escadas com passos leves, tentando não fazer barulho, como se cada degrau fosse uma chance de escapar da tensão que ainda pairava no ar daquela casa. Estava indo direto para a porta quando a voz dele — grave, firme e inconfundível — me fez parar no mesmo instante.
— Tem um carro à sua espera. Ele vai te levar pra casa e vai buscá-la amanhã às dez, perto do horário que as crianças voltam da escola.
Me virei e vi o Sr. Cretino — claro — sentado em uma das poltronas, a postura relaxada demais para alguém que parecia estar sempre pronto para explodir. E, como sempre, com o maldito copo de whisky na mão. Ele parecia tão confortável naquele ambiente, tão dono de tudo, que só de olhar dava vontade de rolar os olhos.