Olívia
306 dias depois do pedido
— ACORDAR.
O grito me fez acordar atordoada. Christine não tem o hábito de ser gentil; ela puxou o meu cobertor.
— Vai perder a hora, garota preguiçosa! Eu disse ao seu pai que deveríamos ter deixado você com sua avó. — Ela fala com mal-humor. Me levantei ainda sonolenta e olhei para o relógio. Eu entro às 09h no trabalho, e ainda eram 6h da manhã. — Maya faltou de novo, precisamos que você a substitua.
— Claro, porque eu não tenho outros planos. — Falei, sem questionar ou reclamar do jeito dela. Aprendi a não me irritar com Christine, não quando ela perde o controle tão facilmente e j**a o que tiver por perto em mim.
Puxei o ar com força. Ouvi Catharina reclamar de estar sendo acordada e Luana resmungar alguma coisa, mas Christine não se importava em acordar suas filhas. Na verdade, ela tem uma grande habilidade: não se importar com ninguém além dela mesma.
— Ande logo, estão precisando de você! — Ela gritou, e me arrastei até o banheiro.
— Me dá 20 minutos, preciso tomar um banho. — Ela gritou mais algumas ofensas, mas decidi não escutá-la; o barulho do chuveiro abafou seus gritos.Quando Christine me fez a proposta de trabalhar no hotel dos meus pais, no primeiro momento eu recusei. Mas ela me lembrou que, ao contrário de suas filhas, eu não receberia mesada. Então, aceitei o trabalho de camareira. E assim, tenho sido jogada para fazer tudo no hotel. Christine não aceita o fato de que eu não recuo, não deixo ela me desanimar. Coloco um sorriso no rosto e o desentupidor de privada na mão, e sigo em frente.
E para ela, isso é um insulto. Como eu não caí aos seus pés e implorei por misericórdia. Christine é um ser desprezível, e eu tive o azar de meu pai se apaixonar por ela.
Sai do banho e vesti minha armadura de serviçal. Me lembro de quando era criança, perguntando à minha mãe por que eu não podia ter uma roupa como a das garotas do hotel. Eu achava lindo o tom azul escuro do uniforme. Era pequena demais para entender, mas a cor do uniforme era uma forma de distinguir quem era funcionário do hotel e quem não era.
Caminhei em passos firmes até a sala de jantar. O café estava servido. Não que eu pudesse me sentar com Christine, mas era bom que ela me visse indo trabalhar.
— Maya está bem? — Perguntei. Ela me avaliou com seus grandes olhos negros e deu de ombros.
— O filho está doente. Já falei para não contratar mulheres com filhos; elas usam eles como desculpas sempre que precisam. — Maya nunca falta, na verdade, é a melhor funcionária do hotel, mas não irei discutir isso com ela.
— Entendo, vou indo. — Falei, saindo da sala de jantar e indo para a escada de serviço. Christine diz que não devo sair pela porta da frente, não quando estou vestida de serviçal.
As coisas costumavam ser diferentes; por doze anos, eu fui a princesinha do meu pai, o hotel meu castelo, eu era mimada e amada, mas Christine apareceu em nossas vidas, acabara de perder o marido, assim como meu pai tinha perdido a minha mãe, rapidamente os dois criaram conexão, como não criar, ambos pais sozinhos aprendendo a lidar com o luto. No começo, eu achava bom, meu pai sorria, teria irmãs para brincar. Mas tudo mudou quando meu pai ficou doente e, com doze anos, me tornei órfã, e Christine, minha amada madrasta, se sentiu na obrigação de me criar. E aí o mundo desabou, e a princesinha se tornou um estorvo.
— Graças a Deus chegou. — Cairo falou, ajeitando a gravata. Ele é o gerente do hotel, sempre foi leal ao meu pai e, apesar de não suportar Christine, ele me prometeu que nunca me deixaria à própria sorte com ela.
— Estamos lotados, sabe como é perto do Natal e Maya não conseguiu vir. — Sorri para ele, pegando o avental.
— Eu já estou pronta, o que preciso fazer? — Ele sorriu para mim.
— Leve esse café para o quarto 203. — Ele apontou o carrinho com o café da manhã. Senti um frio na espinha, eu sei quem está hospedado no 203.
— Eu posso arrumar os quartos, pede que outra leve o café da manhã. — Cairo olhou para mim impaciente.
— Não temos tempo para isso, sabe como o Sr. Carter é irritante pela manhã. — Puxei o ar, a verdade é que não desejo ir naquele quarto, não desejo chegar perto do Sr. Carter.
— Estou indo. — Falei, sabendo que não posso passar o resto da vida o evitando, ele provavelmente não lembra de mim, estava de máscara e foi uma noite agitada para ele.
Peguei o carrinho e entrei no elevador de serviço, meu coração pulsava como se estivesse em uma corrida de cavalo, já pensei em diversas situações possíveis caso o Sr. Carter me reconhecesse e todas elas terminam com ele me rejeitando quando percebesse que sou só mais uma funcionária do hotel.
Já vi as garotas que Noah andam, todas sempre bem vestidas e lindas, sei que se ele não tivesse entendido naquela noite, nunca teria se aproximado de mim.
Parei de frente ao quarto 203, meu coração batia em um ritmo acelerado, sei que ele não vai me reconhecer. Bati na porta e esperei ele abrir. Seus cabelos negros estavam molhados, ele estava apenas com uma toalha na cintura demonstrando seus músculos, seus olhos grandes e azuis caíram sobre mim.
— Pode entrar, docinho, me desculpa por atendê-la assim, vou colocar o roupão, pode colocar a mesa. — Ele fala, andando para o quarto. O apartamento 203 é espaçoso, tem sala de visitas, o quarto, a sala de jantar, mas sei que ele prefere tomar seu café na varanda. Empurrei o carrinho até o lado de fora.
Não sou tão boa em organizar a mesa quanto Maya, ela tem mais habilidade com isso, apenas coloquei o café sobre a mesa da varanda. Ele logo apareceu, vestindo um roupão. Seus olhos me avaliaram enquanto eu colocava os talheres. Ele se sentou, e seus olhos continuavam fixos em mim. Uma onda de desespero e medo me tomou. Se ele me reconhecesse, se soubesse que a dama misteriosa era eu? Provavelmente falaria com o gerente ou até mesmo com Christine, o que a faria saber que eu não cumpri o acordo e fui ao baile.
— Como se chama? — Ele enfim perguntou, seus cabelos negros estavam bagunçados e molhados, o que o tornava estranhamente mais atraente.
— OlÍvia. — Falei, desviando de seu olhar, me preparando para sair o mais rápido dali. — Posso ajudar em algo mais?
Ele me avaliou como se estivesse pensando em algo, meu coração começou a bater mais depressa.
— Sabe de uma coisa? — Ele sorriu, um sorriso triunfante. — Pode sim, OlÍvia.
— E no que seria, senhor? — Prontifiquei-me depressa, esperando o pedido.Ele novamente me olhou de cima a baixo e sorriu.
— Por acaso tem namorado? — Neguei com a cabeça de imediato.
— Não, senhor. — Ele piscou para mim.— Então me faça um grande favor e se case comigo?