Depois que Cori finalmente foi para a sua cama, no seu novo quarto, respirando curto, quase sempre enroscada na boneca como se agarrasse coragem, eu fiquei ainda alguns minutos ali, encostada no batente, observando-a. A meia-luz deixava tudo com um brilho dourado que não existia em mais lugar nenhum do mundo. Sempre que ela dormia, parecia que todo o caos lá fora precisava fazer silêncio.
Fechei a porta devagar, puxando o ar com cuidado para não desmoronar junto da exaustão. O corredor estava silencioso demais, e eu seguia meio no automático até a cozinha. Helena estava sentada na bancada, uma xícara na mão, pernas cruzadas, postura totalmente tranquila. Parecia que tinha passado o dia num spa, não cuidando de uma criança pós-transplante. Ela tinha essa coisa… serena. Como se fosse impossível tirá-la do eixo.
— O chá está pronto — ela disse, levantando a xícara extra antes mesmo que eu abrisse a boca. — Você precisa.
Sentei na outra banqueta, sentindo o corpo todo reclamar. E