Lucile
Os dias se misturavam entre o hospital, a faculdade e as visitas frequentes de Russ. Ele parecia não me dar espaço para me afastar, e eu não tinha forças para lutar contra isso. Estava sempre ali — silencioso, atento, firme. Às vezes com um café na mão, às vezes apenas com o olhar, tentando me segurar em pedaços quando eu mesma não sabia como permanecer inteira.
Eu ainda não tinha coragem de questioná-lo. Não sobre o que ouvi do médico. Não sobre o que significava ele ter doado algo de si para salvar minha mãe. Minha mente se dividia entre gratidão e culpa. Se, de um lado, ele tinha me roubado tempo ao esconder a gravidade do estado dela, de outro ele tinha devolvido esse mesmo tempo, talvez até mais, ao se sacrificar daquela forma. E o paradoxo me corroía.
Quando mamãe começou a dar sinais de melhora, percebi o alívio nos olhos da equipe médica. Pequenos avanços que, para eles, eram esperança. Para mim, era o medo em silêncio. Toda conversa que eu tinha com ela parecia