Gabriela Carvalho
Eu estava profundamente adormecida quando as batidas na porta me arrancaram do sono. Levantando-me sonolenta e desengonçada, cambaleei até a porta, sem ideia de quem poderia ser ou do que queriam a essa hora. Quando abri a porta, dei de cara com um vizinho que eu nunca havia visto antes. Ele é bonito, com um corpo sarado e uma presença que parecia preencher todo o espaço. Acabara de tomar banho, e seus cabelos ainda estavam molhados, com algumas gotinhas de forma desalinhada sobre a testa. Vestia apenas uma calça de moletom, sem camisa, mostrando músculos definidos. Ele estava escorado à porta, segurando uma xícara com uma mão, e seu olhar encontrou o meu com um sorriso leve, mas confiante. Minha reação inicial foi de surpresa e um pouco de irritação por ter sido acordada, por que realmente odeio isso. Ajeitei meus óculos no rosto, tentando parecer mais alerta do que realmente estava, enquanto ele me olhava com um brilho nos olhos. A primeira coisa que ele disse foi: — Boa noite, para a vizinha mais gata do andar. O encarei, confusa e ainda me manter focada, sem saber como responder àquele comentário. Meu cérebro ainda estava tentando processar a presença dele e o que ele havia dito, enquanto eu tentava manter uma aparência de dignidade apesar do meu estado desgrenhado. — O que... o que você quer? — consegui perguntar finalmente, tentando soar mais firme do que realmente me sentia. Minha voz saiu rouca e irritada, e eu não pude evitar um tom de desaprovação. Ele sorriu, parecendo não se importar com meu estado ou com meu tom. Em vez disso, seu olhar percorreu meu rosto, e ele pareceu notar minha aparência. Por um momento, pensei que ele fosse rir ou fazer algum comentário sobre meu estado, mas em vez disso, ele apenas manteve o sorriso e disse: — Açúcar. Eu preciso de um pouco de açúcar. Esqueci de comprar e estou fazendo um café. O olhei, ainda tentando entender o que estava acontecendo. A presença dele era tão... intensa. E aquele sorriso... Eu senti um arrepio estranho, e me fazendo ainda mais parecer uma idiota, mas tento me concentrar no que ele estava dizendo. Açúcar. Café. Coisas normais. Coisas que eu podia lidar. — Açúcar... — repeti, mentalmente processando seu pedido. — Sim, claro. Açúcar. — Eu me afastei da porta, deixando-o entrar, e caminhei em direção à cozinha, tentando me recompor. — Vou pegar um pouco para você, falo seca ainda brava por ter sido acordada. Enquanto eu procurava o item no armário, eu podia sentir seus olhos em mim. Não era exatamente desconfortável, mas era... consciente. Eu sabia que estava parecendo um trapo, com cabelos bagunçados e óculos tortos, e que provavelmente completo desastre em frente a esse deus grego. Mas ele parecia não se importar. Quando finalmente encontrei o açúcar, eu me virei: — Aqui está. Quanto você precisa? Ele me encarando por completo, fez eu senti meu coração bater um pouco mais rápido. — Só um pouco, por favor. O suficiente para adoçar meu café. — ele fala um pouco mais sério, percebendo o quanto estou desconfortável na sua presença. Entreguei o açúcar há ele, e nossos dedos se tocaram brevemente. Foi um toque leve, mas eu senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo. Me afasto rapidamente, tentando me recompor. — Tudo bem. Aqui está. Acho que ele também sentiu o mesmo e contnua parado ali. — Antes que eu me esqueça eu sou Carlos Eduardo mas pode me chamar de Cadu. Acabei de me mudar há pouco tempo e ainda estou me organizando. Esqueci de comprar algumas coisas básicas, como açúcar — explicou, erguendo a xícara em mão enquanto coloca a outra no bolso. Eu sorri com aquele sorriso que não chega aos olhos, para não dar a impressão de que estou dando bola para ele. — Ah, bem-vindo ao prédio! Penso que mamãe nem havia me dito que haviam vendido o apê da senhora Soraia. Der repente um sorriso de canto aparece naquele rosto. E com um brilho malicioso nos olhos ele me agradece. — Obrigado, docinho! Você é um anjo da guarda com açúcar. Eu fiz uma careta, com a cantada. — Docinho? Você está brincando comigo? Ele riu, parecendo se divertir com minha reação. — Não, não! É apenas um apelido carinhoso. Você foi um doce em emprestar o açúcar e acredito que podemos ser bom vizinhos. Eu bufei, tentando não rir. — Vá embora antes que eu decida que você é um pé no saco. Ele sorriu novamente, desta vez de forma mais ampla. — Tudo bem, docinho. Vou embora. Mas não se esqueça de sorrir um pouco mais. Você fica ainda mais bonita quando sorri. O empurrei gentilmente para fora da porta, tentando não mostrar o efeito que suas palavras tiveram em mim. Mas, ao fechar a porta, eu não pude evitar um pequeno sorriso. Docinho? Quem era esse cara? Estou vendo que essa estadia não vai ser como havia imaginado, pensei comigo mesma. E, por algum motivo, isso me deixou intrigada. Me afastei da porta com a minha mala e fui direto para o quarto de visitas, sentindo um suspiro de alívio ao deixar o corredor atrás. Ao entrar no quarto, comecei a desempacotar minhas coisas, tentando me concentrar na tarefa em mãos. Mas, enquanto eu arrumava minhas roupas e objetos pessoais no armário eu não pude evitar pensar no porque eu estava ali. Eu havia vindo para trabalhar no meu livro, e não para pensar em homens charmosos.