Capítulo 4

Carlos Eduardo Salvatore

A porta se fechou atrás de mim com um clique suave, mas firme, e eu fiquei ali por um momento, sorrindo para o nada. “Docinho”, eu havia dito, sem saber exatamente por quê. Talvez fosse o jeito como ela me olhou, com uma mistura de surpresa e irritação. Ou talvez fosse apenas porque eu queria ver sua reação.

      Fiquei ali por um momento, apoiado na porta, sentindo o silêncio do corredor do lado de fora. Não sabia muito sobre ela, exceto que tinha um temperamento forte e uma reação interessante ao meu comentário. Ela nem me disse seu nome.  E por que diabos eu estava tão curioso?

       Caminhei até a cozinha, lembrando-me do açúcar que havia emprestado dela. Decidi preparar um café para tentar clarear as ideias. Enquanto a água fervia, coloquei uma colherada de açúcar no bule, pensando em como ela havia reagido ao meu comentário. Havia algo na forma como ela me olhou, como se eu tivesse dito algo que não deveria.

      Com o café pronto, servi uma xícara e caminhei até o sofá. Sentei-me, tomando um gole do líquido quente, e fechei os olhos por um momento, sentindo o aroma preencher o ambiente. Aquele açúcar havia feito toda a diferença. Enquanto isso, não pude evitar pensar nela novamente: quem era? O que estava fazendo ali? Mas de uma coisa eu tinha total certeza... Isso seria divertido!

    Enfim, o final de semana chegou! Acordo cedo, para pegar aquele nascer do sol. As ondas estão incríveis, faço algumas manobras, uma cutback perfeita, seguida de um floater sobre a espuma branca. Pego uma onda maior e consigo fazer um re-entry, sentindo a adrenalina correr pelas veias. Saio antes que fique tarde demais. Já são sete e meia da manhã.

     Ainda tenho que passar  na loja, buscar o restante do laminado para troca do piso. Com tudo dentro da caminhonete, rumo para a nova fase: a reforma.

     Ao chegar ao apartamento, comecei a descarregar a caminhonete, levando as caixas de laminado para dentro.  O cheiro de madeira nova e o som das caixas sendo abertas criaram um novo cenário. Eu já estava começando a imaginar tudo pronto, adoro pôr a mão na massa. Trabalhar com arquitetura me ensinou muita coisa nesses 20 anos de profissão.

    Comecei a preparar o local de trabalho, movendo os móveis e  os cobrindo o  com plástico. O barulho da serra e do martelo logo preencheram o ar, e a poeira começou a voar. Eu estava preparado para a bagunça, com minha máscara e meus óculos de proteção. O laminado estava perfeito, com suas cores e texturas, pronto para ser instalado.

      A reforma estava em andamento, e eu estava no controle. O som da música alta misturava-se com o barulho das ferramentas, criando uma sinfonia de construção. Eu estava imerso no processo, cortando, martelando e ajustando. A sujeira e a poeira não me incomodavam, era tudo parte do processo de criar algo novo.

     Com cada peça do laminado sendo colocada, o apartamento começava a tomar forma. Eu estava ansioso para ver o resultado final, para ver como tudo se encaixaria. Morar no local e reforma-lo  estava sendo um desafio, mas também uma oportunidade de criar algo incrível. Vamos ver como vai ficar!

 

    Depois de algumas horas de trabalho, já sem camisa, todo suado, de repente escuto uma batida frenética em minha porta. Paro o que estou fazendo e vou atender. Abri a porta e fiquei surpreso ao ver uma expressão irritada no rosto da pessoa do lado de fora.

 

 — O que está acontecendo aqui?  — ela perguntou, olhando para o apartamento bagunçado e sujo.

 

 

— Uma reforma não está vendo? — Eu disse com um sorriso irônico, gesticulando em direção ao apartamento bagunçado.

 

 A expressão irritada no rosto dela não mudou.

 

— Você está fazendo um bom trabalho de criar uma bagunça, isso sim! —  Ela responde, cruzando os braços. Mas talvez você possa fazer isso um pouco mais silenciosamente?

 

—  Eu comecei a rir. — Silêncio? —  Você quer que eu faça uma reforma em silêncio? Isso é como pedir para um surfista pegar uma onda sem entrar na água, docinho.

 

Ela franze a testa.  — Para com isso, não me chame de docinho. E, sério, preciso de silêncio para poder trabalhar.

 

 Eu sorrio irônico — Vou até tentar, mas não prometo nada. Até porque, segundo as normas do prédio, com aviso prévio, eu posso fazer a reforma até às 17: 30h da tarde. Então, vou aproveitar meu direito de fazer barulho até lá.

 

 Ela me lançou um olhar como se fosse  um assassino preste a  me matar, com um misto de desaprovação. — Espero que você seja mais silencioso por favor!.

 

 Ainda irônico.  — Veremos, docinho.

 

Olho para meio metro de gente na minha frente cruzo os braços, olhando para o pijama que ela está vestindo  com um sorriso debochado. — Sério, se eu soubesse que tinha uma especialista em moda de pijama aqui, teria trazido um tapete vermelho para você desfilar!

 

Claro que não poderia perde a chance de provoca – lá, mas a verdade  é que aquele pijama provocou o meu amiguinho lá em baixo.

 

O pijama curto, feito de um cetim branco suave e brilhante, abraça suas curvas de maneira irresistível. A parte de cima, com um decote profundo em V, revela um toque de pele que é ao mesmo tempo sutil e provocante. As alças finas deslizam pelos ombros, acentuando a elegância, o shorts, justo e curto, destaca as pernas pequenas mas bem cuidadas.

 Me aproximo um pouco mais, com um olhar provocador. — Mas cuidado, docinho! Com tanto estilo assim, posso acabar me distraindo e esquecer a reforma. Afinal, quem consegue se concentrar em martelar quando tem uma visão tão... aconchegante à sua frente?

 

A expressão dela mudou instantaneamente dando lugar a uma mistura de raiva e constrangimento.

 

— Cadu, você é insuportável!

 

    Ela se virou rapidamente, o rosto ardendo de vergonha enquanto puxava o hobby sobre os ombros, tentando cobrir o pijama que agora parecia mais revelador do que nunca.  Dirigindo-se para o apê  no outro lado do corredor, decidida a sair daquela situação embaraçosa. Cada passo ecoava no chão e eu continua me deliciando  com aquela visão de mulher.

— Não enche, projeto de irmãos à obra!  — E, sem mais delongas, bateu a porta com força, fazendo o som ecoar pelo corredor.

 

Eu fiquei ali, rindo sozinho. A interação havia sido uma mistura de tensão e humor, e eu não conseguia me livrar da imagem dela, tão decidida e cheia de atitude. Era impossível não admirar a forma como ela se defendia, um verdadeiro furacão em forma de mulher.

 

 

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