Gabriela Carvalho
Eu estava sentada à mesa, olhando para a tela em branco do meu computador. O prazo para entregar o livro estava se aproximando rapidamente, e eu ainda não tinha conseguido escrever uma única linha que me satisfizesse. A semanas que meu cérebro parecia ter sido atingido por um apagão, não sabia mais o que fazer, nem como continuar a história. Suspirei profundamente, sentindo o peso do calendário. Aquele ponto piscando na tela do meu computador parecia zombar de mim, refletindo a minha falta de criatividade. Eu havia tentado de tudo: mudar de ambiente, ouvir música, fazer exercícios, até visitar minha sobrinha que amo de paixão, mas nada parecia funcionar. Meu cérebro estava vazio, e eu comecei a duvidar de minhas habilidades como escritora pela primeira vez. A cobrança da Vanessa Molinari, minha chefe na editora, não ajudava em nada. Eu sabia que ela estava ansiosa para receber o manuscrito, e não podia culpá-la. Afinal, eu havia prometido entregar uma história incrível, mas agora parecia que eu não tinha nada. Me levantei da cadeira e comecei a andar pelo quarto, tentando encontrar alguma inspiração. Mas tudo o que eu encontrava eram dúvidas e medos. Eu me sentia como se estivesse perdida em um labirinto, sem saída à vista. De repente, meu telefone tocou. Era minha irmã, Luana. Atendi, esperando que ela pudesse me ajudar a encontrar uma solução para o meu problema. — Oi, mana. — eu digo, tentando soar mais animada do que realmente estou. — Oi, tudo bem? — diz ela, percebendo imediatamente que algo está errado. — Aconteceu alguma coisa? Como está indo o livro? — Estaria tudo bem se eu pudesse escrever! — Reclamo enfiando uma colher de sorvete na boca em seguida. — Estou tentando escrever a dias... Mas estou com um bloqueio criativo. Não sei se vou conseguir terminar a tempo. — suspiro, sabendo que ela estava ciente do meu prazo apertado. Luana ri. — Você sempre foi uma escritora talentosa. Acredite em si mesma. — Você vai conseguir! Não seja tão, melancolia, não duvido que está debaixo das cobertas com pode deixar sorvete de pistache. E touché ela acerta em cheio, eu sorrio pois conhece bem todas as minhas manias. — Obrigada, mana. Só preciso encontrar o meu ritmo novamente. De repente, me assusto com o grito que minha irmã da no telefone. — Já seiiiiiiii. Por que não vem passar uns dias no apê da mamãe? — ela tá viajando com as amigas. Você pode trabalhar lá é mais tranquilo, tem a praia e, quem sabe encontra alguma inspiração. Penso por um momento. Isso poderia ser exatamente o que eu precisava. — Isso soa como uma ótima ideia. Obrigada, “ Barbie” A chamo pelo apelido que lê dei ainda quando criança, por ser a única morena entre as três irmãs, já que puxei nossa mãe, enquanto Luana e Camila tem cabelos loiros como do papai. — De nada, “anã de jardim”. Ela retribui o apelido carinhoso só que não. Sempre pegaram no meu pé por eu não passar de um metro e meio — Estou aqui para ajudar, deixa eu ir que os gêmeos estão chorando. — E outra coisa, não me faça ir aí buscar você. Sorrio, sentindo uma pequena centelha de esperança. Talvez a mudança de cenário fosse exatamente o que eu precisava para encontrar minhas ideias novamente. Desliguei o telefone, sentindo-me um pouco mais motivada. Talvez assim, eu consiga terminar o livro e entregar dentro do prazo. E, com essa ideia da minha irmã, encontre a inspiração que preciso para fazer isso acontecer. Agora, enquanto fechava as malas, penso em como será bom sentir a areia entre os dedos dos pés e o sol no rosto novamente, a anergia cativante da cidade do Rio de Janeiro. Fazia tempo desde a última vez que eu havia visitado a praia de Copacabana, e poder de passar alguns dias tomando água de coco, ouvindo meu pagode, era incrivelmente atraente. Imaginei-me caminhando pela praia, sentindo o vento no cabelo e o som das ondas ao fundo, enquanto ideias começavam a fluir. Sim, talvez essa viagem fosse exatamente o que eu precisava para reacender minha criatividade e finalizar meu livro. Horas depois enquanto o avião pousava suavemente no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, eu senti uma mistura de alívio e excitação. A viagem havia sido longa, mas finalmente estava aqui, na cidade que me receberia com seus braços abertos e sua energia contagiante. Depois de passar pela alfândega e pegar minha mala, eu chamei um táxi e dei o endereço da casa da minha mãe. O motorista, um mineiro simpático com um sorriso largo, me disse que conhecia bem o bairro e que chegaríamos em cerca de 20 minutos. Enquanto o táxi avançava pelas ruas da cidade, eu não pude deixar de me maravilhar com a beleza do Rio. O sol brilhava sobre a cidade, iluminando os prédios e a praia. Eu podia ver o Pão de Açúcar ao longe, e senti meu coração bater mais rápido com a expectativa de explorar essa cidade incrível. — Estamos chegando, senhorita — disse o motorista, interrompendo meus pensamentos. Eu olhei para fora e vi o prédio onde minha mãe mora, ele é totalmente charmoso mesmo sendo um prédio antigo. Paguei o táxi peguei minha mala, sentindo-me ansiosa para reencontrar o lugar que um dia já foi meu lar e começar minha estadia, a nova fase. Com a mala ao lado, eu entrei no hall e sorri para o porteiro, que me conhecia bem. — Oi, Seu João! Como você está? — perguntei, sorrindo. — Oi, menina! Tudo bem, obrigado! Você veio passar uns dias com a sua mãe, né? Sua irmã me avisou hoje cedo. — respondeu ele, sorrindo de volta. — Isso! Vim mesmo. Posso pegar a chave do apartamento? — perguntei. — Claro, claro! Aqui está — disse ele, entregando-me a chave com um sorriso. — Obrigada, Seu João! — agradeci, pegando a minha mala novamente. Já com a chave no bolso, eu subo pelo elevador até o terceiro andar, atravesso corredor, assim que abro a porta respiro fundo e largo a mala ali mesmo. Tudo que eu preciso é de algumas horas de descanso, me jogo no sofá, sinto o conforto das almofadas, com o livro da vez começo a ler, mas logo nas primeira página fecho os olhos , deixando o cansaço da viagem se dissipar lentamente. O silêncio do apartamento é um bálsamo para minha mente exausta, e eu sinto meu corpo relaxar a cada respiração. Em poucos minutos, estou adormecida, sonhando com o sol do Rio e as páginas em branco do meu livro, sei que a inspiração irá bater à porta.