Sempre fui considerada a errada da família, mas quando decidi romper o noivado "perfeito" e sair da minha pacata cidade natal para estudar, indo contra os planos da minha mãe, acabei sendo deixada a própria sorte. Sou a rainha dos péssimos relacionamentos, por isso achei que nunca realizaria o meu grande sonho de ser mãe, então decidi ser mãe solo e optei pela inseminação. Não podia ter feito uma escolha melhor. Agora, dois anos depois de ter saído da minha cidadezinha, estou diante da decisão mais difícil da minha vida. Meu pai, quer que eu compareça ao evento, mas minha mãe me impôs uma condição ridícula. A proposta surge quando Eric Ferraz, irmão da minha melhor amiga fica sabendo da minha situação. Extremamente bonito. Gentil. Educado. E por coincidência, muito parecido com Helena. Deveríamos passar um final de semana fingindo ser a família perfeita e depois tudo voltaria a ser como antes, mas algo diz que essa farsa pode não durar por muito mais tempo.
Leer másDIANA
Já era noite quando finalmente cheguei em casa. Encontrei a babá sentada no tapete da sala brincando com Helena. Deixei a bolsa sobre a mesa de jantar e, mesmo cansada, fui me juntar a bagunça. Assim que me viu, minha pequena veio engatinhando e esticou os bracinhos para que eu a pegasse no colo.
— Mãmãmã!
Abracei-a forte e mordisquei uma de suas bochechas gordas, segurei-a no alto e fiz cócegas em sua barriguinha, o que a levou a dar gargalhadas. Não há nada mais gostoso de ouvir do que a risada de uma criança.
Paguei e agradeci Joana por ter ficado um pouco além do horário que tínhamos combinado, mas era culpa do trânsito infernal de sexta-feira a noite.
— Como a senhora avisou que atrasaria, eu já dei a janta.
— Obrigada, Joana!
— Se precisar dos meus serviços, a senhora sabe que é só ligar que eu venho correndo ficar com essa bonequinha. — Ela mexeu com Helena e minha filha abriu um sorriso de orelha a orelha.
Assim que ficamos sozinhas, me sentei no tapete para continuar a bagunça com ela. Alguns minutos depois, Helena começou a ficar enjoadinha e me olhava com cara de quem tinha enchido as fraldas.
Levei-a para o quarto e quando fui trocar as fraldas, vi que a situação estava tão crítica que não tinha outro jeito a não ser dar um banho nela.
A água quentinha sempre foi um ótimo calmante para a minha pequena diabinha da Tasmânia, tanto que quando terminei de vesti-la com o pijama comprido de ursinhos, ela já lutava contra o sono.
— Acho que tem alguém com soninho — falei enquanto a observava esfregar os olhinhos com as mãozinhas gorduchas.
Deixei o quarto iluminado apenas pela baixa claridade vinda do pequeno abajur em cima da cômoda. Dei a chupeta e Helena logo se aninhou em meu colo, então comecei a cantarolar uma canção de ninar.
Esses momentos entre mãe e filha eram os meus preferidos, porque era uma forma de fortalecer nossos laços. Eu me sentia completa quando estava com minha filha em meus braços.
Depois que Helena finalmente foi vencida pelo sono, coloquei-a com cuidado no bercinho para que não acordasse. Eu poderia ficar ali, contemplando minha filha pelo resto da vida, mas decidi ir para o meu quarto, a fim de tomar um banho e descansar um pouco.
Antes que eu conseguisse entrar debaixo do chuveiro, meu celular começou a tocar na sala e saí enrolada na toalha, para desligar antes que acordasse Helena.
Mal pude acreditar no nome que eu vi piscando na tela. Era minha mãe. O que ela poderia querer comigo? Coisa boa eu sabia que não era. Para outras pessoas pode ser normal receber ligação dos pais, mas para mim, não.
Pensei duas vezes antes de atender a chamada. Não importava qual seria a desculpa ou o motivo para a ligação, ela sempre arrumava um jeito de jogar na minha cara que eu tinha feito a maior burrada da minha vida e que homem nenhum iria me querer por conta da minha filha.
— Alô?
— Oi, Diana!
— Oi, mãe! O que você quer?
— Você está em casa?
— Eu estava entrando no banho... Se puder ir direto ao ponto.
— Tudo bem! Eu só liguei para avisar que a nossa família será homenageada num evento muito chique promovido pela prefeitura aqui da nossa cidade e como você é nossa única filha, pensei que...
— Vocês querem que eu vá ao evento... Já entendi.
— Sim, mas temos uma condição para a sua vinda.
Eu sabia que não seria um simples convite, tinha que ter alguma condição rídicula por trás. Não esperava nada menos, ainda mais vindo da minha mãe e por ela me considerar a errada da família.
— E que condição seria essa? — perguntei já revirando os olhos.
— Nós sempre dizemos aos nossos amigos que você se casou e... Por isso você não pode aparecer sozinha por aqui sozinha e com essa criança a tiracolo.
— Essa criança é minha filha e sua neta.
— E para piorar, você não sabe nem quem é o pai.
— Não vou discutir esse assunto com você de novo e...
— O que você acha que as pessoas vão falar se te verem com uma criança e sem um pai do lado?
— Não me importa o que os outros vão falar ou achar.
— Você não entendeu, querida.
— Eu entendi perfeitamente! Você quer que eu compactue com a mentira que você criou e contou para a cidade toda só para manter a aparência da família perfeita.
— Diana! Me respeite porque sou sua mãe!
— Eu te respeitaria se não estivesse mentindo sobre a minha filha.
— Tente arrumar um rapaz para lhe acompanhar... Faça isso pelo seu pai.
— Se essa é a sua condição para que eu vá, então eu recuso o convite.
— Por favor, não faça isso! Seu pai vai ficar arrasado... Será um evento para mais de trezentas pessoas e seria uma vergonha se a nossa única filha não estivesse presente.
— Talvez vocês devessem mentir de novo e dizer que morri.
— Por favor, Diana! Não diga uma coisa horrível dessas.
— Por que não? Vocês vivem como se não tivessem uma filha mesmo.
— Isso é um absurdo!
— Absurdo são vocês me renegarem só porque eu decidi ter uma filha através de inseminação.
— Pensa com carinho sobre a festa. — Ela tentou mudar de assunto.
— Eu não vou a lugares onde eu e minha filha não somos bem-vindas.
Encerrei a ligação tão rápido para não ter que ouvir minha mãe dizer mais nenhuma asneira. Eu já estava de saco cheio de ouvir esses absurdos.
Como posso ser filha de pessoas tão antiquadas que preferem mentir do que apoiar a própria filha?
Minha mãe nunca sequer me ligou para perguntar se eu precisava de alguma ajuda quando estava grávida e nem quando tive minha filha sozinha. Nunca quis saber se Helena estava bem, mas para pedir um absurdo daqueles, ela tinha coragem.
Bufei e joguei o celular sobre o sofá. Voltando para o meu quarto, dei uma olhada em Helena para me certificar de que meu anjinho ainda continuava dormindo.
Prendi o cabelo num coque no alto da cabeça e entrei no box para finalmente deixar que a água quente levasse embora todo o meu cansaço e a minha raiva.
Nunca passou pela minha cabeça, nem nos meus piores pesadelos, que um dia eu estaria numa situação como essa. Era inacreditável que minha própria mãe estivesse exigindo que eu arrumasse um "marido" para que eu parecesse a filha perfeita numa festa da cidade. A mesma cidade que fiz de tudo para sair e jurei nunca mais pisar de novo.
DIANAO casamento foi celebrado um mês depois, numa cerimônia mais íntima na igreja de São José, perto da casa dos pais de Eric. Igreja esta que a mãe dele fez questão porque era uma tradição da família. Thaís foi nossa madrinha e Leonardo o nosso padrinho. Logo depois da cerimônia, os pais de Eric vieram nos congratular, meu pai, muito emocionado também se aproximou para um abraço.— Quase não acredito que a minha menininha conhceu o amor verdadeio e, finalmente, se casou.— Eu estou muito feliz, pai.— Acho bom você cuidar dela direito porque se não vai arrumar sérios problemas comigo, garoto. — Meu pai ameaçou Eric antes de um abraço rápido.Nossos amigos e alguns convidados vieram nos desejar felicidades antes que eu me despedisse da minha pequena princesinha, que ficara com os pais de Eric durante a lua de mel. Assim que saímos da igreja num carro enfeitado fomos direto para o aeroporto, tínhamos escolhido não ter festa.O destino escolhido foi Nassau, nas ilhas Bahamas. Depois d
ERICO almoço na casa dos meus pais foi uma delícia, só faltando Diana com a gente. Claro que houveram muitas perguntas sobre a ausência dela e, claro que, tive que mentir, dizendo que ela estava terminando de resolver as coisas do aniversário.Durante todo o tempo em que estava almoçando com meus pais e o pai de Diana, fiquei mandando mensagem para Joana para ter notícias. Conhecendo Diana do jeito que eu conhecia, sabia que ela era teimosa demais para pedir ajuda, mesmo em caso de doença.A festinha de aniversário da pequena Helena estava linda, como eu sempre idealizei para quando tivesse uma filha. Algo pequeno, mas bonito e acolhedor. Nossos familiares e amigos compareceram, deixando tudo ainda ainda mais alegre. Minha noiva estava linda com um vestido que chegava até a altura dos seus joelhos, mas sem deixar de realçar as suas curvas, os cabelos soltos caíam em ondas loiras sobre os ombros e seus olhos tinham um brilho diferente.Confesso que, apesar de estar curtindo a festa, t
DIANAAlguns meses depois...O dia do aniversário de um ano da nossa princesinha tinha chegado e eu teria ficado louca se Eric não tivesse me ajudado com a organização. Nossa convivência tinha melhorado muito desde que ele se mudou para o meu apartamento e passou a estar presente vinte e quatro horas por dia.Nosso café da manhã foi corrido e quase nem conseguimos comer direito, deixei Helena sob os cuidados de Joana e depois saí para terminar de resolver as últimas pendências e ainda buscar meu pai no aeroporto. Eu não tinha ficado nem um pouco surpresa quando minha mãe se recusou a vir e eu até achava bom porque assim não estragaria o clima de festa.— Está tudo bem, Di?— Sim. Só estou organizando o que tenho que fazer na rua.— Você quer que eu vá buscar o seu pai?— Não precisa, eu já tenho que ir a rua mesmo.— Tudo bem.Com um beijo de despedida, deixei ele para trás e saí do apartamento. Quando cheguei à garagem e entrei no meu carro, me senti um pouco mal por ter que mentir p
DIANA Jantar com os pais de Eric não era o que eu estava esperando para encerrar a noite, mas não podia recusar, era bom que todos ficassem sabendo logo que estávamos noivos. Enquanto me arrumava, vários pensamentos me ocorreram, mas deixei de lado. Quando Eric tocou a campainha, corri para abrir a porta do apartamento, percebi que ele estava usando uma calça jeans com rasgos no joelho, uma camisa pólo azul e um tênis branco. Ele não quis entrar então só pedi que segurasse Helena enquanto eu pegava a bolsa dela que tinha deixado arrumada no quarto. A caminho da casa dos pais de Eric, confesso que fiquei tensa, as mãos suavam, ele pareceu perceber porque apoiou a mão em minha perna esquerda e acariciou por cima do tecido da calça, um gesto carinhoso e encorajador. Assim que ele estacionou o carro em frente à casa dos pais, ele deu a volta e abriu a porta para mim. A mãe dele veio apressada em nossa direção, me envolveu num abraço como se eu fosse sua filha e depois pegou Helena do
ERIC Desde que voltei de Paris, não tenho usado a minha aliança, mas não por querer parecer que ainda sou solteiro, mas por ter decidido, durante o voo, que esperaria a chegada de Diana para contarmos juntos a novidade para nossos familiares e amigos. Só Deus sabe o quanto está sendo difícil conviver com a minha irmã perguntando sobre o resultado do exame e o que eu tinha ido fazer em Paris. Ao que tudo indicava, Diana não tinha falado nada com a minha irmã. Quando recebi a mensagem de Diana informando que tinha chegado ao Brasil, não imaginava que era verdade, pensei logo que era algum tipo de pegadinha, mas depois de confirmar com a minha irmã, decidi surpreendê-la e levar o almoço que ela tinha pedido. Quando finalmente cheguei ao andar do apartamento de Diana, respirei fundo e toquei a campainha, não esperava encontrá-la vestindo um short que realçava ainda mais a sua bunda e camiseta era combinação perfeita para deixá-la ainda mais atraente. — Eric! — Dava para perceber a sur
DIANAQuando finamente desembarquei no Brasil, já era de tarde, tive que pegar um táxi já que não tinha avisado ninguém que estaria chegando, pois queria fazer uma surpresa. Por sorte, Helena tinha dormido quase a viagem toda, acordando apenas quando estava com fome.O motorista, vendo que eu estava sozinha, gentilmente me ajudou a colocar as malas no porta-malas e me levou ao meu prédio. Eu estava cansada e só queria poder dormir, mas quando eu saí do carro, dei de cara com Thaís saindo do prédio.— Di, não acredito que você está de volta! — Ela me envolveu num abraço apertado. — Meu irmão já está sabendo?— Eu queria fazer surpresa.— Entendi. Ele está no restaurante desde a manhã, se quiser aparecer por lá.— Não sei, estou querendo descansar um pouco.— Entendo. — Ela olhou o relógio de pulso. — Preciso ir.— Thaís, não fale nada para o seu irmão, ok?— Pode deixar comigo. — Ela fez sinal de como estivesse fechando o zíper na boca.— Obrigada.Minha melhor amiga se despediu de mim
Último capítulo