Capítulo 2

DIANA

Quando saí do banho, já estava me sentindo um pouco mais calma. Por estar morrendo de fome, fui à cozinha, dei uma olhada na geladeira, nos armários e acabei optando por fazer um macarrão instantâneo, pois era o mais rápido.

Fui me sentar no sofá da sala, liguei a televisão e deixei passando Friends, minha série preferida, mesmo que já tendo visto tudo umas milhares vezes. Enquanto devorava aquela tigela fumegante de macarrão, senti meu celular começar a vibrar, estiquei um dos braços para alcançá-lo no braço do sofá e olhei a tela. Era Thaís.

— Onde você está, amiga?

— Estou em casa. Por quê?

— Abre a porta para mim então.

— Mas...

— Abre logo, mulher.

Encerrei a ligação, deixei a tigela sobre a mesa de jantar e caminhei até a porta. Olhei pelo olho mágico só para confirmar e Thaís estava mesmo parada em frente ao meu apartamento. Rapidamente destranquei a porta e a deixei entrar.

— Onde está minha afilhada preferida e mais linda do mundo? — perguntou animada.

— Você só tem ela de afilhada!

— Por isso mesmo.

— Ela está dormindo.

— Ah! Melhor assim porque aí podemos beber esse vinho que eu trouxe.

— Mas você não ia para a casa do Gustavo hoje?

— Ele me ligou falando que não ia dar porque os pais estão de visita.

— Não foi dessa vez que você quase conheceu seus sogros, hein.

— Deus me livre, amiga. O Gu é ótima companhia na cama e fora dela, mas só para isso mesmo... Nada de relacionamentos sérios.

Thaís parecia ter aversão a relacionamentos e casamentos, só de pensar nesses dois, ela estremece toda.

— E por que você está toda borocoxô?

— O quê?

— Ah você sabe. Pra baixo, aborrecida.

— Quem te disse que estou... isso aí que você falou?

— São oito horas da noite de uma sexta-feira, você já está de pijama, vendo programa repetido e comendo... — Ela esticou o pescoço para tentar ver o que tinha na tigela.

— Macarrão instantâneo — completei sua frase e ela fez cara de nojo.

— O que está te deixando borocoxô?

— Minha mãe me ligou hoje — admiti porque não adiantava esconder nada de Thaís, uma hora ou outra ela ia acabar descobrindo.

— O que aquela vaca queria? — perguntou enquanto terminava de abrir a garrafa de vinho e servia duas taças.

— Falar que a família vai ser homenageada num evento importante... — Minha voz ficou embargada. — E que sendo a única filha deles, seria bom aparecer por lá.

— Parece que a vaca está se redimindo.

— Aí que você se engana, amiga... Ela disse que tinha uma condição para eu fosse.

— Lá vem a bomba!

— Eu teria que arrumar um "marido" para me acompanhar e se passar por pai de Helena.

— Que ridículo isso! Qual a necessidade de exigir isso?

— Para manter a boa reputação da família.

— E você falou o quê?

— Falei que recusava o convite porque eu não iria onde eu e minha filha não somos aceitas.

— Fez certinho!

— Claro, tenho a melhor professora.

— Eu sei, eu sei! Sou demais mesmo! — Ela jogou o cabelo para trás e acabamos rindo.

— Mas confesso que queria tanto provar para minha mãe que ela está errada e sendo muito antiquada em pleno século XXI.

— E por que não faz?

— Porque eu sou a rainha dos péssimos relacionamentos.

— Estamos no mesmo barco, amiga! — Ela me abraçou.

— Mas você tem o Gustavo! — alfinetei.

Eu soube desde o primeiro momento em que conheci Thaís no elevador, que ela era uma ótima pessoa. Ela e o irmão dividem um apartamento no andar acima e logo que me mudei, eles sempre me socorriam. O que fez com que ela se tornasse muito mais do que só uma amiga, mas também madrinha de Helena.

— Parece que sua mãe faz isso de propósito!

— Disso eu não tenho dúvida!

— Ela não quer reconhecer que você cresceu, tem um ótimo emprego, uma filha linda, tem seu próprio apartamento e não depende de nenhum centavo deles.

— Queria tanto que, pelo menos, meu pai conhecesse Helena... Tenho certeza de que ele adoraria e seria um avô muito babão.

— Seu pai é uma ótima pessoa, mas o problema é que ele vai nas ideias da sua mãe que é uma vaca quadrada.

— Queria que vissem como estou fazendo um ótimo trabalho com a minha filha, mesmo sendo mãe solteira.

— Eles não te merecem, mas se você quiser ir a essa festa, posso fingir ser sua parceria e chocaríamos aquela cidadezinha inteira.

Imaginar a cara que meus pais e todos os convidados fariam ao me ver chegar de braços dados com outra mulher me fez rir.

— Seria uma ótima ideia, mas já falei que não vou a esse evento.

Helena começou a chorar no quarto e tive que deixar a taça sobre a mesinha de centro e fui ao quartinho dela, mas por sorte, ela não demorou a voltar a dormir e eu retornei à sala.

Ainda ficamos conversando por mais algum tempo, a garrafa de vinho já estava pura e então Thaís falou:

— Acho que já está na hora de ir embora e deixar você descansar.

— Ainda é cedo!

— Cedo nada amiga, são quase uma da manhã e estamos parcialmente bêbadas... Ainda bem que só preciso pegar o elevador para chegar em casa.

Thaís se levantou, se despediu saindo do apartamento logo em seguida. Tranquei a porta, recolhi a garrafa e as duas taças de cima da mesinha de centro e levei para cozinha antes de ir me deitar.

Acordei de madrugada, sobressaltada, meu coração estava acelerado, acendi o abajur e olhei o quarto ao meu redor. Tudo estava no lugar. Me levantei da cama e fui até o quarto de Helena, ela ainda dormia feito um anjinho.

Respirei aliviada ao constatar que tudo não tinha passado de um pesadelo. Tudo tinha parecido tão real.

Peguei minha filha no colo, depositei um beijo no topo de sua cabecinha e a levei para o meu quarto, dormiria melhor sabendo que ela estava ao meu lado. Coloquei-a no cercadinho ao lado da minha cama e poucos minutos depois voltei a dormir.

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