No dia seguinte, quando desceu as escadas, ouviu uma conversa em voz alta vinda do escritório. Olhou em volta e não viu nenhum empregado e nenhum familiar, então desceu na ponta dos pés para escutar.
— Mas papai, era eu que deveria casar com ele e não ela? — Reclamava Raquel. — Farei isso pelo seu bem, não sei como é o comportamento daquele homem na intimidade. Apesar de ele estar limpando o nome e se comportando como um homem da sociedade e de boa educação, não podemos esquecer de que era um traficante. — Mas eu gosto dele e ele gosta de mim... — Insistia Raquel, chorando. — Seu pai sabe o que está fazendo minha filha. Lia é mais experiente e com certeza saberá lidar com ele e você ainda é muito nova, não vai conseguir domar um homem daquele porte. “Então é isso que eles estão querendo fazer? Unir duas empresas através do casamento e me usando como o boi de piranha? Acho que fiquei muitos anos fora de casa e o amor se acabou, pois que pai faz isso com uma filha nos dias de hoje?” Os pensamentos dela deram voltas, mas rapidamente traça um plano, não podia confiar neles e tão pouco ficar naquela casa, ou seria usada de todas as formas possíveis. Saiu de onde estava, andando de mansinho e foi para a sala de jantar, mas a mesa não estava posta para o desjejum, então seguiu até a cozinha, encontrando o mordomo. — Bom dia, Adalberto. O que está acontecendo por aqui? Ele olhou em volta para ver se havia algum familiar por perto. — A empresa não vai muito bem, os últimos contratos que seu pai fechou só deram prejuízo e por isso, ele precisa com urgência desse novo contrato. Está até aceitando se unir ao capeta para conseguir reerguer a empresa. — As coisas estão tão ruins que não se coloca mais a mesa do café da manhã? E os empregados, só tem você? — Sim. Está tudo muito difícil, mesmo. Só temos uma faxineira, que já está arrumando os quartos, aliás, me perdoe por seu quarto não estar arrumado, mas realmente, não a esperávamos ontem. — Sei disso e sou muito grata a você. Não sei o que aconteceu, mas vou investigar, enviei e-mails todos os meses para avisar como eu estava e não recebi respostas. Também enviei remessas de dinheiro e meu pai não precisava estar passando por essa situação. Adalberto se aproximou mais dela, se abaixou e sussurrou: — A única que parece não se preocupar com dinheiro, é a senhorita Raquel, ontem mesmo ela comprou um vestido novo com par de sapatos e bolsa combinando. Tudo de marca. Lia sabia que podia confiar em Adalberto, ele era um cinquentão que trabalhava com a família desde a época do seu avô e conhecia todos na casa, se ele estava dizendo que Raquel era a única que estava gastando sem preocupação, era a confirmação do que ela estava pensando. — Sente-se, senhorita Lia, vou lhe servir o café da manhã. — Vou deixar um cartão para fazer as compras e pagar mais uma faxineira e uma cozinheira, não mencione a eles, deixe que pensem o que quiserem... — Sim, senhorita, que bom que chegou. Ele serviu exatamente o que ela costumava comer quando ainda morava ali, ovos mexidos, torradas e café com leite. Também havia um bolo de laranja e biscoitos de massa folhada. Ela comeu com gosto e quando terminou, agradeceu e avisou que estava saindo. Chamou um carro de aplicativo e não se despediu de ninguém, pois ainda estavam discutindo no escritório da casa. Foi direto para o seu escritório, mesmo do exterior, administrou todo o processo de implantação. Chegando, já era esperada e ao entrar, avistou uma faixa de boas-vindas e parabéns. Sua equipe consistia em seis funcionários: uma recepcionista, uma secretária, uma pesquisadora, uma arquiteta e uma advogada. Todas aplaudiram sua entrada e ela agradeceu efusivamente, pois estava muito feliz. — Parabéns, chefinha, você estava linda, alguém gravou e postou na internet. — disse Cássia, a pesquisadora, uma jovem baixinha, mas muito alegre e espevitada. — Eu não queria que aparecesse na internet, nem na televisão, em lugar nenhum pra falar a verdade, preciso muito ficar oculta daqui pra frente. — Vou cuidar disso, então. Foram cada uma para o seu lugar e ela para o escritório com a advogada e a outra arquiteta, a secretária as seguiu e relatou a agenda do dia. — Cecília, ligue para o banco e marque uma hora com o gerente o mais rápido possível. — Sim, senhora. As três conversaram sobre o novo escritório e os projetos que tinham para executar, quando deu a hora da abertura do banco, Lia saiu para se encontrar com o gerente. Chegando lá, foi muito bem recebida, pois o gerente sabia quem ela era e dava muito valor a sua enorme conta bancária. — Parabéns, senhorita Moura! Soube da sua vitória e seu prêmio já foi depositado, vamos falar de investimentos? — O senhor sabe que não sou eu quem cuido disso; com certeza ela entrará em contato ou o senhor verificará as transações pela internet. Meu assunto hoje é outro... — Pode falar, a atenderei no que for possível. — É sobre as remessas que tenho feito do exterior para cá e transferido para a conta da família. Gostaria de saber se foram recebidos e quem recebeu? — Vou verificar... — Virando-se para o computador, começou a digitar rapidamente e conforme os dados foram aparecendo, ele franzia a testa. — O dinheiro foi transferido para uma outra conta e em seguida para outro banco, mas já acionei o programa para rastrear o caminho do dinheiro. — Tem o nome da pessoa que fez essa transferência? — Ela foi feita através da internet, quem fez tem acesso a conta com a senha e os dados pessoais do titular. — Acaso o senhor tem aí a lista de quem tem acesso a essas contas? Ou mesmo para qual conta foi transferido o dinheiro? Ela o viu movimentando novamente o teclado e em seguida virou para ela a tela para que visse. — Não dá para ver quem acionou a conta, mas a transferência foi feita para a conta da sua irmã, aqui mesmo neste banco e da conta dela foi para o nosso banco concorrente. — Era o que eu suspeitava. O senhor pode me dar uma cópia dessa transação, meus pais não sabem que ela andou mexendo na conta da família e quero mostrar a eles um comprovante de que realmente eu enviei todo esse valor. — Sim, vou lhe dar a cópia desses extratos e farei melhor, enviarei para o seu e-mail todos os depósitos e retiradas feitas nos últimos anos. — Uau! São muitas informações, mas agradeço, pois embora tenha sido minha irmã quem fez as transferências, não deixa de ser um roubo, já que ela não contou nada para os meus pais e usou o dinheiro como bem quis. — Sinto muito por isso, mas infelizmente, nós não temos controle de quem acessa a conta virtual. Se a pessoa tiver os dados e a senha, fica fácil até mudar o acesso. — Está tudo bem, o senhor me ajudou bastante. Continuaremos trabalhando juntos e aguarde minha gerente financeira.No dia seguinte, quando desceu as escadas, ouviu uma conversa em voz alta vinda do escritório. Olhou em volta e não viu nenhum empregado e nenhum familiar, então desceu na ponta dos pés para escutar. — Mas papai, era eu que deveria casar com ele e não ela? — Reclamava Raquel. — Farei isso pelo seu bem, não sei como é o comportamento daquele homem na intimidade. Apesar de ele estar limpando o nome e se comportando como um homem da sociedade e de boa educação, não podemos esquecer de que era um traficante. — Mas eu gosto dele e ele gosta de mim... — Insistia Raquel, chorando. — Seu pai sabe o que está fazendo minha filha. Lia é mais experiente e com certeza saberá lidar com ele e você ainda é muito nova, não vai conseguir domar um homem daquele porte. “Então é isso que eles estão querendo fazer? Unir duas empresas através do casamento e me usando como o boi de piranha? Acho que fiquei muitos anos fora de casa e o amor se acabou, pois que pai faz isso com uma filha nos dias de ho
Carlos continuou passando as folhas, uma por uma, e na última, viu o nome de Raquel como aquela que transferiu todo o dinheiro para si mesma. Olhou para sua filha mais nova, sem acreditar que ela poderia fazer algo assim, principalmente, quando eles precisavam tanto desse dinheiro. — O que aconteceu, Carlos? — perguntou Noêmia, ao ver o olhar gelado que ele lançou para Raquel. — Você fez tanto sacrifício para manter nossa filha caçula vivendo com luxo e ela nos roubou esse tempo todo. — Como assim, não entendo? — Lia nos enviou remessas de capital muito acima do que demos a ela para mantê-la no exterior, já faz três anos que esse dinheiro chega e Raquel transferiu tudo para a conta dela. — Isso é verdade, minha filha? — perguntou Noêmia, olhando para a filha sem acreditar. O que vocês queriam? Eu vi que vocês sustentaram Lia por quatro anos no exterior e quando percebi que a empresa estava indo à falência, me preocupei com o custo de meus próprios estudos e
Ao contrário do que Lia imaginou, Carlos viu uma oportunidade no que ela falou. Imediatamente começou a relatar os termos do contrato entre as empresas e depois sobre o casamento: — Será um casamento proforma, durará apenas um ano, que deverá ser o tempo em que decidirão o vencedor da licitação. Você terá apenas que morar na mesma casa que ele, pois será anunciado para todos o casamento de vocês e precisam manter as aparências. — Tem certeza de que ele cumprirá o contrato e os acordos? — O casamento será a garantia, você acha que suporta um ano de casamento? Lia pensou que, se tivesse liberdade de ir e vir, morar em outra casa não atrapalharia seus planos. Já tinha planejado morar separada dessa família irresponsável. Está bem, eu concordo, mas preciso conhecê-lo primeiro. Carlos abriu um grande sorriso de satisfação e logo estava se levantando e chamando Adalberto para preparar um jantar, seguiu então para o escritório e ligou para seu futuro ge
Com a boca aberta de espanto, ela ficou parada, olhando para ele sem acreditar. — Não é isso que está no contrato, é um ano de casado e só estaremos unidos para garantir a parceria empresarial. Ele tirou de dentro do bolso interno do casaco, igual fez o seu pai, os papéis que ela assinou e mostrou-lhe na segunda folha, bem em cima. “... e neste prazo de um ano, terá que ser gerado um herdeiro.” — Não pode ser! Então Lia lembrou da correria na hora de assinar o contrato, seu pai fez de propósito e sua mãe cooperou. Deixaram para assinar no último momento para que ela não tivesse tempo de ler e conferir. Assinou confiando no seu pai e percebeu tarde demais que ele não era digno de confiança. Olhou a sua volta e avistou uma poltrona de couro, onde se jogou, totalmente derrotada por aquela traição. Lembrou-se que há duas semanas sua mãe insistiu em levá-la ao médico, mesmo ela dizendo que não havia necessidade, pois estava muito bem. A médica preencheu seu formulário, perguntou
Na casa da família Brandão, sem ter noção do que a filha passava, Carlos expulsou a rolha da garrafa de champanhe, que estourou, e todos comemoraram. — Estamos salvos. Eu sabia que aquela menina um dia iria me servir e muito. — Regozijou-se ele. — Mas era eu quem devia ter me casado com Romão. — reclamou Raquel. — Pare de ser ingrata. Sua irmã está lhe fazendo um favor, mesmo depois de você ter roubado todo o dinheiro que ela nos enviou e você ainda está reclamando? — É mãe, mas agora é ela que está se refestelando com ele, o meu homem, o meu macho que deveria estar comigo. Carlos não teve dúvida, ao ouvir a forma vulgar com que sua filha estava falando, levantou a mão e acertou seu rosto com um forte tapa. As duas mulheres ficaram horrorizadas, nunca tinham sido agredidas desta forma. — O que pensa que está fazendo, Carlos? Como se atreve a bater na cara da nossa filha? Não sabe que não se bate na cara de ninguém, principalmente de uma mulher? — Ela não é ninguém, é a
Chegando em casa, Romão viu que, sua mãe, andava de um lado para o outro na sala, perturbada com a presença de Raquel, sentada no sofá. — Que bom que você chegou, meu filho, deu tudo certo? — Claro que sim, mamãe. — Ela reclamou ou fez escândalo, como foi? Enquanto a mãe falava, Raquel levantou-se e grudou-se em seu braço, emburrada. — Foi bem mais tranquilo do que eu esperava. — olhou para Raquel. — Aliás, aproveitando que você está aqui, precisamos conversar. — Ela não só está aqui, ela se mudou para cá. Chegou com duas malas e se instalou no seu quarto. — Obrigado, mãe. Vamos para o escritório, Raquel. Ele segurou-a pelo braço. Amava-a por sua doçura e delicadeza, por sempre o apoiar sem ligar para o seu passado de Dono do morro, mas se instalar em sua casa, no seu quarto, sem pedir permissão? Foi um grande erro. Agora que ele estava casado, como o grande empresário que é, não pode deixar nenhum escândalo desse tipo vazar e atrapalhar seus negócios. Também tinha o fato
Romão ficou intrigado, não sabia no que acreditar. Uma mulher forte que se dedicou a carreira, ganhou muitos prêmios, mas deixou a família em dificuldades financeiras, não parecia muito justa. Estava indeciso. Não era um homem bom, obtinha o que queria sem pedir licença, mas gostava de se ver como justo. Desde quando liderava o contrabando e o tráfico no morro, mantinha tudo em ordem com mãos de ferro. Sempre protegeu mulheres e crianças de maldades e abusos. Agora se tornou um abusador por acreditar em uma mentira. Será que sua menina era tão descrente da competência da irmã que não acreditava em sua capacidade de conquistar sucesso profissional? — Então, sua filha é uma arquiteta profissional e ganha a vida com seus projetos? — Creio que sim. Não sei muito sobre sua vida no exterior. É impossível alguém ter tanto dinheiro só desenhando riscos num papel. — Raquel disse, entrando no escritório, despeitada e não querendo que seu namorado descobrisse a verdade. Romão a olhou sério
Romão levantou-se para sair, mas a governanta o chamou. — Senhor Ferreira, o buffet do casamento deixou aqui algumas caixas com bolo e salgadinhos, o senhor não gostaria de levar para sua esposa? Ele parou um instante para pensar e chegou à conclusão que seria uma ótima desculpa para voltar a cabana, ainda neste dia. Havia prometido que a procuraria dia sim, dia não, mas podia aparecer com uma desculpa. Queria vêla e colocar o plano de sua mãe em prática. — Prepare uma boa embalagem que vou levar para ela. Obrigada, Zuleide. Chegando à cabana, surpreendeu Lia, que estava deitada no sofá. Sentia-se apática e ainda dolorida, mas sentou-se rapidamente, percebendo que a porta da frente abriu. Havia ouvido o som do motor de seu carro, chegando, mas pensou que era ilusão de sua cabeça, já que ele prometeu voltar só no dia seguinte. Quando ele apareceu, ela olhou-o com olhos arregalados e medrosos, não suportaria mais uma sessão de sexo como a do dia anterior. — O que faz aqui