Kwami começou a construção do lugar que seria o novo lar da sua família no dia seguinte e foi lá, enquanto erguia o fogão a lenha que Nick se aproximou meio cabisbaixo.— Já temos gás encanado, Kwami.O africano ergueu a cabeça, estava abaixado verificando o nível dos tijolos que ele mesmo moldou com argila. Olhou para o amigo e respondeu com sinceridade.— Temos, mas a minha estrela prefere pão feito na lenha.— A Jô?— Isso, a minha nyota. Posso fazer pão para você também, aliás já que está aqui, pode me ajudar a cortar o sabão e espalhar para curar.Nick aceitou, precisava pensar em algo que não fosse o próprio casamento e foi assim, tentando não pensar que encontrou a resposta.— Posso chamar um amigo para ajudar? Digo, o Tank. Ele está meio para baixo, trabalho braçal faz bem.— Não chamaria cortar sabão de trabalho braçal, mas se quer.— Para ajudar você, Kwami, está ficando engraçadinho igual ao meu padrinho.Nick falou e arregalou os olhos em seguida.— O MEU PADRINHO!Kwami n
Tank tomou banho se apegando a detalhes que normalmente não se preocuparia, cortou as unhas, limpou por baixo. Olhou com cuidado e aparou os pelos das axilas.Pensou em fazer a barba, mas acabou desistindo. Olhou no espelho e falou com o próprio reflexo.— Não dá para melhor muito. Só vaiSaiu do banho apressado, a toalha amarrada de qualquer jeito na cintura e os cabelos ainda pingando.Odiava acordar com estranhos na sua cama, e mais ainda odiava o vazio que sentia mesmo com o corpo quente de outra mulher ao lado. Não era a primeira que tentava e com todas, sem exceção, o resultado era exatamente o mesmo. Raiva de si mesmo e uma saudade que não conseguia segurar no peito.A menina dormia alheia a guerra que se instalava dentro do homem que ela sempre quis se aproximar e nunca teve chance. Naquela noite, ela tinha bebido pela primeira vez na vida, quis parecer o tipo de menina que achou que Tank gostava, sentiu vergonha do que fez, mas depois o álcool a ajudou e terminou com uma noit
Julian entrou na casa contendo o sorriso, era a primeira vez que Dállia falava com ele desde que roubou um beijo na empresa. Ela sempre aceitava suas investidas, nunca reclamou, diferente das outras secretárias Dállia simplesmente abaixava a cabeça e permitia.Isso era mais do que prova de que ela gostava. E, também diferente das outras, ela era protegida de um dos sócios da empresa.Ninguém conhecia os outros sócios, o único que aparecia de vez enquanto era Endi, um advogado brasileiro que teria feito fortuna defendendo gangsters Nova iorquinos.Talvez uma lenda, mas o fato era que Endi era o único que aparecia, dos outros, sabiam apenas o nome. Miran Bianchi e Edgar Foster, todos achavam que provavelmente eram um casal, pois nenhum dos dois jamais apareceu nas reuniões de acionistas.Entrou analisando todos os detalhes. O ambiente era acolhedor, limpo, com um perfume suave de flores. Simples, mas bonito. Assim como a menina de olhos grandes e tímidos que ele havia escolhido para ser
Tank foi embora sentindo o peito sangrar, a mente vazia, sem reação. Se o amor não existe, por que dói tanto? O coração apertado como se, mais uma vez, ele só pudesse assistir o próprio destino. Não havia nada que pudesse fazer? Socou o volante, deslocou o pulso, jogou o carro para a guia e parou, não conseguiu continuar, não podia. Pegou o telefone e ligou para ela, precisava ouvir dela, mesmo que já tivesse ouvido. "Chamada encaminhada para caixa de mensagens e estará sujeita a cobrança após o sinal." Imaginou que sabia exatamente o porquê Dállia não podia atender. E o que imaginou o enlouqueceu, ela era sua! Sua menina, sua flor, a princesa que dançava sorrindo com a boca suja de chocolate. Não podia aceitar que ela não quisesse, mesmo no dia em que ela o mandou embora Dállia ainda o abraçou tão forte que pôde sentir o coração dela batendo contra o seu peito. Puxou o ar quase em um gemido e falou em meio aos soluços. — Eu te amo! Eu te amo, minha flor. Até respirar pa
Não há como medir quanto de dor um ser humano suporta sem reagir, Tank se lembrava com a alma o que sentia a cada vez que assistia o pai tomar Dállia no meio da casa, como machucava vê-la com aquele olhar.Ela não pedia, nunca reagiu, jamais reclamou, mas focava um ponto no nada e se perdia no tempo, o olhar vazio, sem as lágrimas de quem ainda é capaz de sentir. Ela não sentia, não mais. Simplesmente tinha aceitado o próprio destino, assim como o aceitou no dia do próprio aniversário.Tank não se sentia melhor do que o pai, também a tomou para ele para satisfazer o desejo do corpo, mas em algum momento isso havia mudado e tudo o que mais queria era poder chamá-la de sua.Mas como? Em um lugar onde a lei é escrita por pessoas que podem mudar de opinião com o nascer do sol, como arriscar ir contra o código?Ele estava errado, não Russo.Tank não apenas se deitou com uma mulher casada, como ela era sua madrasta, havia traído o pai, desejado a esposa de outro soldado e transado com ela v
Tank voltou com Dállia ao seu lado, ainda em silêncio. O olhar dela era o de alguém condenado a algo que não queria. Ainda estavam no carro quando ele perguntou— Não pode ficar naquela casa, Dállia. Aquele cara vai chamar a polícia, entende isso, não entende?Dállia não respondeu, mas fechou as duas mãos apertando o tecido da saia.— Meu emprego, eu deixei meu computador lá. A Mel me deu de presente, eu preciso dele. O que eu vou falar para ela?— O QUE VAI FALAR? É SÉRIO? ESTÁ PREOCUPADA COM UM MALDITO COMPUTADOR? QUER TRABALHAR NAQUELE LUGAR, DÁLLIA, COM AQUELE CARA?Tank gritou e ao mesmo tempo se lembrou das fotos. Passou a língua nos dentes, um tique inconsciente que Dállia sempre achou encantador.— Eu não quero voltar.Ela respondeu decidida, e por um segundo ele sentiu o alívio invadir seu peito.Mas então, ela terminou a frase.— Não quero voltar para o condomínio. Não quero morar com você.O silêncio tomou conta do carro. Tank fechou os punhos no volante. O peito queimava,
E foi depois disso e de prometer que ele voltaria para a ex-namorada, para a vida que tinha, para o mundo antes dela que Dállia voltou com ele para o condomínio.Sombra assistiu satisfeito os jovens chegarem juntos, mas estranhou que nenhum dos dois estivesse sorrindo. Bateu com o cotovelo no afilhado.— Aquele ali não é o seu amigo e a namorada?— É! Vou lá.Nick deixou os planos para o próprio casamento conversou com o amigo e o ajudou a tirar as coisas da própria casa.Tank voltou a morar na casa que havia sido de Russo, era afastada, daria a Dállia a liberdade que ela queria e a ele o espaço que precisava para viver o luto pelo que estava abrindo mão.A última caixa foi na mão de Tank e ele se sentou na antiga cozinha com a ela em seu colo. Aquele lugar estava cheio de lembranças, boas e ruins.Talvez mais ruins do que boas e ainda assim, sentia saudades.— Já pensou que o inferno pode ter coisas boas?Perguntou ao amigo quase como se não esperasse por uma resposta, mas Nick respo
Tank pegou o pacote na casa do amigo, mas achou que não deveria seguir aquele conselho. Parecia absurdo, quase sem sentido.— O que é isso?— Um computador, peguei com o Pablo. É dela, tem tudo o que um computador precisa ter e mais algumas coisas. Pedi para ele instalar alguns programas e fazer a matrícula dela em um curso de administração online, um de Excel e outro de web design. Ela quer trabalhar, Tank, você ajudar é o melhor meio de se aproximar.— Está louco? Ela não quer nem olhar para mim, nem sei como entrou no carro de novo. Fugiu de mim no meio da estrada, Nick.— Então deixa com a Amara e pede para ela entregar. Vai por mim, se quer ela de volta vai precisar passar pelo processo. E olha, se for complicado como foi com a Ratinha, serão meses de tortura.Nick se lembrou da gravidez de Olívia, nunca se sentiu tão perdido, tão sem saber o que fazer, estava feliz por tê-la com ele e em pânico por não a ter.A ouvia chorar, mas não podia abraçá-la, Olíe não comia, mas gostava d