Um Contrato e um Segredo
Um Contrato e um Segredo
Por: Nethaly Somni
Capítulo 1 – Oito anos após um coração partido

Sarah

Merda. Merda. Merda.

Torço minhas mãos no colo, sem entender como tive a coragem de vir a esse lugar.

Meus olhos passeiam pelo escritório arejado, uma parede inteira de janelas panorâmicas a minha frente. A mesa organizada e de tons escuros combina com os tons frios de chumbo das paredes. A estante de livros ao meu lado me chamando a atenção.

Merda. Ele vai me comer viva.

Semanas atrás, eu recebi a ligação do advogado que cuida do caso da minha mãe a anos e quando ele me disse estar abandonando o caso dela, me desesperei. Tentamos um recurso para a pena dela a anos e logo agora que havíamos conseguido um progresso, ele decide abandonar o caso.

Ela ainda não aceita me receber.

Todo mês, entretanto, eu faço meu caminho até a penitenciária dela. É um caminho infrutífero, mas gosto de pensar que ao menos estou um pouco mais próxima a ela.

Tentei achar um advogado que aceitasse os honorários que meu cargo de assistente social me permite dar, mas ninguém quis aceitar um caso que, para eles, é pura perda de tempo.

Desesperada e admito, muito regada a vinho, eu olhei uma notícia de que o conglomerado das empresas de Samuel havia adquirido recentemente uma das maiores corporações de advocacia do país.

Bêbada e muito confusa, eu mandei um e-mail em meu nome para um dos e-mails que Lucas havia me dado anos atrás. Nunca em mais de sete anos, eu tentei entrar em contato de novo com Samuel e minha cabeça alcoolizada não achou que ele iria responder de qualquer forma.

Merda… o filho da mãe me respondeu.

O e-mail que ele me mandou foi frio e impessoal, tanto que uma parte minha, aquela que se dói até hoje por perder sua amizade, estremeceu em mim.

Ponderei deixar de vir e não mexer mais nessa ferida constantemente aberta que se tornou nosso relacionamento, mas a chance de poder tirar minha mãe daquele lugar falou mais alto. Aquela mulher está apodrecendo naquela cadeia a anos por mim, então acho que consigo engolir meu orgulho um pouco.

Depois daquela noite desastrosa, eu tentei uma única vez conversar com Samuel antes de ele ir embora, mas a forma que ele me olhou, como se tivesse se fechado de vez para mim, me calou e machucou mais do que um dia admitirei.

Passo as mãos nervosas pelos meus fios, que agora caem em ondas grossas e escuras por minhas costas, pensando que talvez eu devesse ter caprichado mais na hora de me vestir. Não é que a calça jeans apertada seja de uma lavagem ruim, mas o tecido já está mais gasto do que pensei. Meus tênis confortáveis também já viram dias melhores, mas também não é como se eu quisesse impressionar.

Não é?

Ouço a porta se abrir e fechar as minhas costas e me empertigo inteira na cadeira, a postura de menina insegura dando lugar a mulher guerreira que sei que sou.

Posso estar ferrada, sem dinheiro e precisando muito da ajuda dele, mas nunca abaixarei a minha cabeça.

Silos sempre me disse que tenho uma veia lutadora em mim que sempre prevalece. Posso estar à beira de um colapso, mas sempre me ponho a postos para a briga.

Seu perfume amadeirado chega a mim antes de sua figura de fato e constatar o quanto o aroma mexe comigo, é desconcertante.

Seus ombros largos estão em uma camisa social simples, o colarinho aberto no peitoral.

Samuel nunca gostou de nada muito apertado em seu pescoço, nem mesmo cordões, ele usava.

Meus olhos se desviam muito singelamente para suas coxas grossas, bem delineadas pelo tecido escuro da calça de alfaiataria.

Ele sempre foi um homem grande…, mas porra…

Subo meus olhos constrangidos para seu rosto e praguejo mentalmente, encarando os olhos que foram meu porto seguro por muitos anos, mas que agora me encaram como se fitasse uma estranha.

Reprimo a onda de dor em meu peito, com sua indiferença. Algo em meu peito, parece ter despertado anos atrás depois que descobri que Samuel nutria sentimentos por mim. Não é como se eu, do nada, descobrisse, que o amo apaixonadamente, mas uma sensação estranha ficou em mim: e se eu tivesse sido menos cega e dado uma chance?

Eu nunca saberei, pois magoei meu amigo o suficiente para ele me cortar da sua vida, como se eu nunca tivesse estado lá.

— Sarah. — Samuel cumprimenta, a voz grossa parecendo fria.

Pigarreio, não querendo que seu olhar congelante me intimide. Meus olhos passeiam pelos traços amadurecidos que parecem ter adquirido uma sensualidade quase obscena, os cabelos loiros escuros cortados rentes nas laterais e mais ondulados no topo.

— Obrigada por aceitar me receber. — Começo, não gostando nada de estar sob seu olhar atento — É uma questão urgente.

— Eu sei. — Samuel me diz, se recostando na cadeira.

— Sabe? — Guincho, um pouco confusa.

— O advogado da sua mãe abandonou o caso e você achou conveniente voltar a falar comigo. — Ele solta, a voz carregada de um veneno que nunca o vi usar.

— Certo. — Pauso, tentando controlar meu gênio — Te procurei, sim, pois estou em uma situação difícil, mas se você quiser ser um babaca com isso vou embora.

Me levanto, os punhos cerrados.

— Vai mesmo ir e perder à oportunidade de conseguir um advogado decente para sua mãe? — ele sonda, um sorriso cruel se esticando nos lábios sensuais.

Olho para ele, sem reconhecer o homem arrogante a minha frente.

— Meu Deus, Samuel… o que houve com você? — Sibilo, minha voz incrédula.

— Sente-se aí. — Ele retruca, a voz autoritária.

Sinto uma veia começar a pulsar furiosa me minha testa com o tom que ele usa.

— Se você pensa que vou ficar aqui e aturar suas merdas, está muito enganado. — Digo, já me virando e pisando duro até a porta.

— Se você passar por essa porta, perderá a sua melhor chance de tirar sua mãe de lá. — Samuel me diz, a voz muito tranquila.

Paraliso com a mão na maçaneta, meu orgulho brigando ferozmente comigo, por me virar com uma expressão neutra e me sentar exatamente do jeito que o filho da mãe mandou.

— O que você quer de mim? — Pergunto, meus dentes tão cerrados que chega a doer.

Samuel me encara como se eu fosse uma criança birrenta, levando todo o seu tempo para me responder.

Babaca.

— Eu te dou todo o apoio que quiser. Os melhores advogados que o dinheiro pode comprar, enquanto o processo de sua mãe durar, mas existe algo que você terá que suprir para mim. — Ele me diz, a voz toda negócios.

Franzo as sobrancelhas, não entendendo. O que eu poderia dar a um homem que já tem tudo.

— O que é? — pergunto, mais do que impaciente.

— Você. — Ele diz, os olhos de cores diferentes mirados nos meus com intensidade — Quero que se case comigo.

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