Até que ponto você iria por alguém que ama? Sarah acredita que iria até o inferno e para isso ela vai ter que fazer um acordo com o diabo ou mais especificamente, o homem que já foi seu confidente. Sarah, Lucas e Samuel tem uma longa história de amores não correspondidos, amizades postas a prova e muitos segredos cruéis. Para livrar a mãe de uma acusação injusta, Sarah vai ter que recorrer a Samuel, um homem que já a amou profundamente e que agora a quer envolvida em um casamento por conveniência. Dominada pela culpa e um segredo que a sufoca dia após dia, Sarah vai se ver presa no temperamento explosivo de Samuel, sua proteção sufocante e desejos de fazer seu corpo arder por ele. Obcecado por algo que nunca conseguiu ter, Samuel vai jogar sujo e usar o que tiver em seu alcance para prender Sarah exatamente onde ela nunca deveria ter saído: seus braços. Ambos terão que decidir nesse matrimônio cheio de farpas e problemas mal resolvidos, se vale a pena deixar o orgulho de lado e admitir que ambos foram feitos um para o outro.
Ler maisSarah
Merda. Merda. Merda.
Torço minhas mãos no colo, sem entender como tive a coragem de vir a esse lugar.
Meus olhos passeiam pelo escritório arejado, uma parede inteira de janelas panorâmicas a minha frente. A mesa organizada e de tons escuros combina com os tons frios de chumbo das paredes. A estante de livros ao meu lado me chamando a atenção.
Merda. Ele vai me comer viva.
Semanas atrás, eu recebi a ligação do advogado que cuida do caso da minha mãe a anos e quando ele me disse estar abandonando o caso dela, me desesperei. Tentamos um recurso para a pena dela a anos e logo agora que havíamos conseguido um progresso, ele decide abandonar o caso.
Ela ainda não aceita me receber.
Todo mês, entretanto, eu faço meu caminho até a penitenciária dela. É um caminho infrutífero, mas gosto de pensar que ao menos estou um pouco mais próxima a ela.
Tentei achar um advogado que aceitasse os honorários que meu cargo de assistente social me permite dar, mas ninguém quis aceitar um caso que, para eles, é pura perda de tempo.
Desesperada e admito, muito regada a vinho, eu olhei uma notícia de que o conglomerado das empresas de Samuel havia adquirido recentemente uma das maiores corporações de advocacia do país.
Bêbada e muito confusa, eu mandei um e-mail em meu nome para um dos e-mails que Lucas havia me dado anos atrás. Nunca em mais de sete anos, eu tentei entrar em contato de novo com Samuel e minha cabeça alcoolizada não achou que ele iria responder de qualquer forma.
Merda… o filho da mãe me respondeu.
O e-mail que ele me mandou foi frio e impessoal, tanto que uma parte minha, aquela que se dói até hoje por perder sua amizade, estremeceu em mim.
Ponderei deixar de vir e não mexer mais nessa ferida constantemente aberta que se tornou nosso relacionamento, mas a chance de poder tirar minha mãe daquele lugar falou mais alto. Aquela mulher está apodrecendo naquela cadeia a anos por mim, então acho que consigo engolir meu orgulho um pouco.
Depois daquela noite desastrosa, eu tentei uma única vez conversar com Samuel antes de ele ir embora, mas a forma que ele me olhou, como se tivesse se fechado de vez para mim, me calou e machucou mais do que um dia admitirei.
Passo as mãos nervosas pelos meus fios, que agora caem em ondas grossas e escuras por minhas costas, pensando que talvez eu devesse ter caprichado mais na hora de me vestir. Não é que a calça jeans apertada seja de uma lavagem ruim, mas o tecido já está mais gasto do que pensei. Meus tênis confortáveis também já viram dias melhores, mas também não é como se eu quisesse impressionar.
Não é?
Ouço a porta se abrir e fechar as minhas costas e me empertigo inteira na cadeira, a postura de menina insegura dando lugar a mulher guerreira que sei que sou.
Posso estar ferrada, sem dinheiro e precisando muito da ajuda dele, mas nunca abaixarei a minha cabeça.
Silos sempre me disse que tenho uma veia lutadora em mim que sempre prevalece. Posso estar à beira de um colapso, mas sempre me ponho a postos para a briga.
Seu perfume amadeirado chega a mim antes de sua figura de fato e constatar o quanto o aroma mexe comigo, é desconcertante.
Seus ombros largos estão em uma camisa social simples, o colarinho aberto no peitoral.
Samuel nunca gostou de nada muito apertado em seu pescoço, nem mesmo cordões, ele usava.
Meus olhos se desviam muito singelamente para suas coxas grossas, bem delineadas pelo tecido escuro da calça de alfaiataria.
Ele sempre foi um homem grande…, mas porra…
Subo meus olhos constrangidos para seu rosto e praguejo mentalmente, encarando os olhos que foram meu porto seguro por muitos anos, mas que agora me encaram como se fitasse uma estranha.
Reprimo a onda de dor em meu peito, com sua indiferença. Algo em meu peito, parece ter despertado anos atrás depois que descobri que Samuel nutria sentimentos por mim. Não é como se eu, do nada, descobrisse, que o amo apaixonadamente, mas uma sensação estranha ficou em mim: e se eu tivesse sido menos cega e dado uma chance?
Eu nunca saberei, pois magoei meu amigo o suficiente para ele me cortar da sua vida, como se eu nunca tivesse estado lá.
— Sarah. — Samuel cumprimenta, a voz grossa parecendo fria.
Pigarreio, não querendo que seu olhar congelante me intimide. Meus olhos passeiam pelos traços amadurecidos que parecem ter adquirido uma sensualidade quase obscena, os cabelos loiros escuros cortados rentes nas laterais e mais ondulados no topo.
— Obrigada por aceitar me receber. — Começo, não gostando nada de estar sob seu olhar atento — É uma questão urgente.
— Eu sei. — Samuel me diz, se recostando na cadeira.
— Sabe? — Guincho, um pouco confusa.
— O advogado da sua mãe abandonou o caso e você achou conveniente voltar a falar comigo. — Ele solta, a voz carregada de um veneno que nunca o vi usar.
— Certo. — Pauso, tentando controlar meu gênio — Te procurei, sim, pois estou em uma situação difícil, mas se você quiser ser um babaca com isso vou embora.
Me levanto, os punhos cerrados.
— Vai mesmo ir e perder à oportunidade de conseguir um advogado decente para sua mãe? — ele sonda, um sorriso cruel se esticando nos lábios sensuais.
Olho para ele, sem reconhecer o homem arrogante a minha frente.
— Meu Deus, Samuel… o que houve com você? — Sibilo, minha voz incrédula.
— Sente-se aí. — Ele retruca, a voz autoritária.
Sinto uma veia começar a pulsar furiosa me minha testa com o tom que ele usa.
— Se você pensa que vou ficar aqui e aturar suas merdas, está muito enganado. — Digo, já me virando e pisando duro até a porta.
— Se você passar por essa porta, perderá a sua melhor chance de tirar sua mãe de lá. — Samuel me diz, a voz muito tranquila.
Paraliso com a mão na maçaneta, meu orgulho brigando ferozmente comigo, por me virar com uma expressão neutra e me sentar exatamente do jeito que o filho da mãe mandou.
— O que você quer de mim? — Pergunto, meus dentes tão cerrados que chega a doer.
Samuel me encara como se eu fosse uma criança birrenta, levando todo o seu tempo para me responder.
Babaca.
— Eu te dou todo o apoio que quiser. Os melhores advogados que o dinheiro pode comprar, enquanto o processo de sua mãe durar, mas existe algo que você terá que suprir para mim. — Ele me diz, a voz toda negócios.
Franzo as sobrancelhas, não entendendo. O que eu poderia dar a um homem que já tem tudo.
— O que é? — pergunto, mais do que impaciente.
— Você. — Ele diz, os olhos de cores diferentes mirados nos meus com intensidade — Quero que se case comigo.
Sarah Dois anos e seis meses depois...Minha visão embasbacada encara o homem nu ao meu lado. Samuel se vira, o rosto perdido naquela expressão serena de quem está em um sono tranquilo, os lábios cheios um pouco separados, uma respiração constante.Lindo.Ele envolve o braço pesado em minha cintura, a mão subindo em direção ao meu seio e eu o olho segurando o riso.— Não vai fingir que ainda dorme, vai? — provoco, sabendo que ele está entre o sono e entre a realidade.— Não sei... se eu o fizer, vai te fazer ficar mais aqui comigo? — ele me responde, a voz rouca e uma ereção poderosa se enrijecendo em minha coxa.Penso nos nossos momentos de algumas horas atrás, das carícias trocadas, do sexo, primeiro afoito e depois mais tranquilo que fizemos.— Seria perfeito, mas sabe que hoje não posso. — Digo, percebendo o desânimo em meu tom.— Merda... eu esqueci que era hoje. — Ele me diz, se sentando e esfregando o rosto.— Ta tudo bem, se quiser pode ficar. — Digo, sendo sincera.— Nem ve
Sarah Existem momentos que ficam marcados em você como fogo. Deitada nessa cama, vendo a médica passar o gel no pequeno ovo que se resume a minha barriga, a sensação de estar sendo marcada só aumenta. Há cerca de doze horas atrás eu estava nos braços de Samuel na cama, com ele me dizendo quantas vezes foram necessárias que a consulta com o médico para descobrir o sexo do bebe correria bem, que tínhamos tomado a decisão correta em tentar descobrir. Uma parte de mim queria prolongar a espera, apreciar as pequenas descobertas, mas após tantos contratempos e decisões difíceis, eu decidi que as surpresas agora se restringiriam a pequeníssimas coisas. Meu olhar encontra o de Samuel, o carinho e a expectativa que vejo ali, me dizendo que ele está na mesma situação que eu, que ele entende. — Nervosos? — O doutor de aparência quase nórdica, nos pergunta. — Muito. — Admito, vendo na tela pequena, uma pequena forma aparecer. — Muito bem... vai valer cada cabelo branco, garanto a você
Sarah Eu tenho ouvido muito sobre como é normal se sentir emotiva durante a gravidez, como é necessário ter uma certa paciência e isso de certa forma me chateia, pois eu sei que não só os hormônios da gravidez, que me fazem correr para os braços de Silos nesse momento e chorar em seu ombro como uma criança. É saudade e uma boa dose do revés de ter tido uma das piores experiências da minha vida, essa que me mostrou como os laços se estreitam no medo, na incerteza. Eu tive momentos ruins naquele quarto, em que me senti presa, presa em algum tipo de piada ruim do destino. Tive decisões importantes lá e depois disso, uma delas, sendo essa, de valorizar cada pequeno momento com quem amo. Sinto como Silos me aperta firme, uma sensação de afago, proteção me cercando. Samuel teve uma longa conversa com Silos e Lucas pelo telefone, tendo que contar a eles, claro, omitindo as piores coisas, sobre os acontecimentos na Europa. Silos, que já vinha planejando suas férias, as retirou as pressa
Sarah Um movimento me faz despertar e levanto minha cabeça, sentindo-a latejar em resposta. — Está doendo muito? — Ouço a voz grave de Samuel me perguntar, a raiva nítida em seu tom. Olho bem para ele, cada traço, até as imperfeições e sentindo as lágrimas me encherem os olhos, eu o abraço, não sabendo quando que terei o suficiente dele. — Eu pensei que nunca mais fosse te ver... Meu Deus, eu odeio todos eles. — Esbravejo, agarrada a sua camisa. Sinto outro tranco e percebo que estamos em um carro, esse que segue em alta velocidade. — Ren? — Chamo, olhando desesperadamente no banco da frente. — Fala, patroa. — ele me cumprimenta, sua voz sempre cheia de charme, me enchendo o peito — Esse pessoal é meio barra pesada, sabe...acho que quero um aumento. Samuel me puxa para seu peito novamente e sinto a risada no vibrar de seu peito. — Fale com o cara das finanças. — Respondo a ele, aproveitando esse pequeno intervalo nessa loucura toda, antes que eu me veja obrigada a reconhecer
AgoraSarahAcordo como se algo muito pesado repousasse em minhas pestanas. Minha primeira tentativa de abrir os olhos se da em uma tonteira terrível.Conheço essa sensação. Fui drogada, de novo.As lembranças do que me ocorreu vão desencadeando batidas frenéticas em meu peito, assim como o pavor.Minhas mãos vão ao meu ventre e me sento, mesmo que isso me custe uma onda de náusea terrível. Testo as minhas pernas e meu sexo para ver se sinto alguma dor, mas nada me acomete. Minha barriga também permanece sem ferimentos e eu a apalpo até a exaustão, a possibilidade de terem me tirado meu filho, sendo dura demais.— Seu filho está aí, menina. — Ouço Nicolas me dizer e o procuro com o olhar.O vejo encostado na parede, os braços cruzados e olhar atento em mim.— Demétrio... ele ... — começo a dizer minha língua um pouco pesada.— Ele viajou assim que a deixou aqui, não se preocupe. Ele sempre foi um moleque que não aguentava ver as próprias atrocidades, então foi a algum lugar, fingir qu
SarahDois dias antesMeu andar pelo quarto é vagaroso, a vontade de tirar o vestido sujo da minha pele só não sendo maior, que o medo de ficar nua nesse lugar.Por Deus... eu quero sair daqui.A cada hora que passa, eu fico mais tensa com o que pode ter acontecido a Samuel ou ao Ren.Minha vontade é parar de bancar a vítima plácida e lhes mostrar um pouco do que realmente sou, mas tenho segurado o meu gênio em garras firmes, poderosas.Um pequeno espelho em frente a cama me chama atenção. Olho-me nele, por um momento, vendo minha mãe. As olheiras, a tez ficando cada vez mais pálida, os olhos atormentados.De súbito, eu vou entendendo o que Demétrio está fazendo comigo. Ele pode estar sendo mais sutil que seu pai e seu irmão, mas é a mesma atitude.Ele está me quebrando, pouco a pouco. A tática de me tornar mais plácida o acalmou tempo o suficiente para que ele não partisse para meios mais rudes, mas ele ainda está me quebrando, tomando a minha vontade, me fazendo recuar até que eu es
Último capítulo