Cap 301. Uma saudade
O som da água batendo contra os azulejos preenchia o banheiro com uma tranquilidade enganosa. Elisa mantinha os olhos fechados, o rosto voltado para o chuveiro quente, como se pudesse, com aquele banho, apagar tudo o que havia sentido, o toque, o gosto, o peso do corpo dele sobre o dela, mas, principalmente, o que veio depois.
O vazio, a solidão e as lembranças.
Ela não tinha pressa. Passava o sabonete na pele com lentidão, esfregando os braços como se pudesse arrancar as lembranças que grudavam feito perfume forte. À medida que a água escorria, não era só o cansaço físico que ia embora. Eram também os pedacinhos de controle que ela mantinha tão firmes durante o dia.
Quando terminou, se secou com uma toalha macia. Vestiu um robe fino de seda clara, deixou os cabelos soltos, ainda úmidos. Os pés descalços seguiram pela casa silenciosa. Ela pegou uma taça de vinho e a fatia de torta esquecida no forno da noite anterior. Estava fria. Nem se importou.
Na sala, acendeu apenas uma luz f