Mundo de ficçãoIniciar sessãoSenti meu peito se contrair, como se o ar tivesse desaparecido completamente do escritório ao ouvi-lo. Descobrir o quê? O que poderia ser pior do que isso? Ele me olhava como se quisesse me decifrar, ainda com incredulidade e algo que parecia diverti-lo. Não sabia se estava me fazendo um aviso ou lançando uma ameaça, ou se simplesmente estava aproveitando meu evidente nervosismo e desconhecimento.
—Para ser honesta, não, senhor, não sei quem é —respondi, como sempre, com sinceridade—. Mas isso agora não é importante para mim. Podemos continuar essa conversa mais tarde? Já devo ir. Levantei-me com a intenção de ir embora sob seu olhar curioso e incrédulo. Não entendia o motivo por trás de sua atitude, mas também não queria saber. Para meu alívio, ele pareceu entender minha pressa e não insistiu em me deter. Pegou o telefone que estava junto a ele enquanto falava. —Muito bem, vou enviá-la no carro. Diga a ele que a deixe onde preferir; se for de ônibus não chegará a tempo —disse, ainda com o olhar fixo em mim. Depois acrescentou, com um tom meio debochado—: Estou certo de que você também não sabe onde está. Estamos longe da cidade, aqui não passam ônibus, nem táxis se não forem chamados. Vou deixá-la ir agora, mas depois vamos continuar essa conversa. —Muito obrigada, senhor Minetti, e desculpe-me por todos os inconvenientes que causei —respondi inclinando-me levemente diante dele, sem ter muita certeza do porquê. Talvez fosse aquele lugar tão aristocrático e luxuoso que o fazia parecer tão poderoso atrás de sua mesa. Inspirava respeito e uma espécie de autoridade que era difícil ignorar. Estava certa de que deveria ser alguém muito influente, embora eu não tivesse a menor ideia de quem se tratava. Descobriria mais tarde; agora, minha prioridade era chegar em casa para buscar minha irmã e levá-la à consulta no hospital. Não continuei recusando sua oferta e aceitei a proposta de me levar de carro. —Apenas leia o contrato e volte à noite. Tome este telefone —me disse enquanto me estendia um dispositivo dourado dentro de sua caixa—. Ligue-me se precisar que eu a mande buscar; meu número pessoal já está agendado. Mas escute-me bem: só use isso se realmente precisar de mim. Não quero que me ligue simplesmente porque lhe ocorreu. —Sim, senhor —respondi imediatamente. O tom que usou não deixava espaço para discussão. Me irritava muito quando alguém me falava assim, mas me contive. Realmente estava com muita pressa para entrar em conflitos. O exame da minha irmã era vital, e em situações que a envolviam, todo o resto passava a segundo plano. —O motorista a está esperando. Bom dia, senhora Minetti —disse, inclinando a cabeça para retomar o que estava fazendo, ignorando-me completamente. —Bom dia, senhor Minetti, e obrigada por tudo —me despedi apressada antes de sair quase correndo em direção à porta. Guardei o contrato na bolsa, pensando em como me livrar dessa confusão. Ao sair da casa, olhei rapidamente sob a luz do dia. Deus santo, isso parece um palácio guardado por homens de terno preto e armados! Com quem você se casou, Lilian? Avancei, sempre seguida pelo motorista. Entrei em um carro luxuoso e dei instruções de onde ele deveria me deixar. Pedi que me deixasse cerca de cinco quarteirões antes da minha casa. Não queria correr o risco de que alguém me visse. Antes de descer, o motorista me deu seu número de telefone, por ordem do senhor Minetti, conforme me explicou. Tirei o anel de casamento e segui diretamente para a loja do meu melhor amigo, Miguel. —Uau, amiga, como você está elegante! —exclamou assim que cruzei a porta. —Bom dia, Migueliño. Você pode me emprestar algo que não seja tão chamativo? —pedi, evitando chamar a atenção. Não queria que minha mãe me visse assim. —Mas por que? Se você está espetacular com essa roupa —respondeu imediatamente. Sempre foi um amante da moda. —Vou ao hospital com Luci —expliquei enquanto entrava no provador—. Vai, não faça perguntas por enquanto. Prometo que depois conto tudo. Na verdade, vou precisar muito da sua ajuda, mas agora preciso me apressar. —Está bem, está bem —cedeu, notando minha urgência—. Agora mesmo trago algo mais do seu estilo. Enquanto me trocava, pensava em como Migueliño sempre foi meu confidente, um amigo incondicional desde que chegou ao país. Em pouco tempo, voltou com um lindo vestido verde, umas sandálias e uma bolsa menos chamativa. Coloquei tudo e pedi que guardasse o resto das coisas. Assegurei-lhe que voltaria à noite para trocar-me e contar tudo. Sai quase correndo em direção à minha casa. Quando cheguei, vi que um táxi já estava estacionado em frente à nossa porta. —Mamãe, já cheguei! —anunciei ao entrar. —Oh, Lili, pensei que teria que fechar a lavanderia e ir eu com Luci —disse minha mãe com evidente preocupação. —Desculpe, mamãe, me complicou. Luci, como você está? —perguntei diretamente. Não precisava de resposta; conhecia bem seu olhar. Odiava esses exames. —O mesmo de sempre —respondeu minha irmã antes de desviar o tema—. Você está muito bonita hoje. —Não é nada de mais. É Migueliño, que insiste em que eu modele sua nova coleção, como sempre. Você já o conhece. Prometo que comprarei algumas coisas para você e para mamãe —disse tentando animá-la. Miguel a cada temporada me convencía a usar suas roupas, certo de que isso trazia sorte nas vendas. Embora sinceramente não me incomodasse, o fazia por carinho. —Não gaste seu dinheiro com a gente, querida. Agora deixem essas conversas para outro momento; vão se atrasar —interrompeu mamãe, sempre pragmática. Nos passou um pouco de dinheiro antes de se despedir—. Ligue-me assim que terminarem. —Claro, mamãe. Vamos, Luci. Sem mais, subimos no táxi rumo ao hospital. Durante todo o trajeto, tentei distrair minha irmã de seus medos. Sempre tremia antes de suas biópsias. Embora fosse jovem, parecia uma criança pequena e assustada com seu corpo frágil. Me aproximei dela e a abracei, como sempre fazia. Essa doença a submetia a uma vida reclusa e dolorosa. Foi por ela que decidi estudar medicina, sonhando em me especializar em doenças raras para melhorar sua qualidade de vida. Ao chegar ao hospital, uma enfermeira me chamou quase imediatamente: —Doutora Lilian, por favor, aproxime-se. —Bom dia. Diga-me —respondi com temor. —Hoje sua irmã será avaliada por uma equipe de especialistas —me informou ela. Ao ouvir isso, me invadiu o terror. O que estava acontecendo para que uma equipe inteira interviesse? Olhei para Luci, que, trêmula, murmurou com um fio de voz: —E isso por quê? Nós só viemos para uma biópsia. —Aperteou-me com força, tremendo de medo. —Lili? —perguntou com os olhos cheios de angústia.






