3. REALIDADE 

Um barulho seco me fez acordar assustada. Abrí os olhos e percebi que tudo era real, não era um pesadelo; o anel em minha mão corroborava isso. Virei a cabeça e uma nota sobre a mesinha chamou minha atenção. Peguei-a.  

“Tienes ropa en el clóset. Cuando estés lista, baja para que hablemos. Estaré en el despacho en la planta baja. No hables con nadie.  

Sr. M”  

Levantei-me e caminhei em direção a uma das portas que via. Ao abri-la, fiquei maravilhada: ¡nunca na minha vida havia visto tanto luxo! Aquele banheiro era do tamanho do apartamento onde vivia com mamãe e minha irmã. Ontem, devido ao medo, sequer prestei atenção no lugar. Tomei um banho rapidamente e olhei a hora. Precisava sair de lá o mais rápido possível; às dez era a consulta da Luci.  

Busquei o closet, que se revelou ser outra imensa sala. Como ele me dissera, estava cheio de roupas, sapatos e tudo que poderia precisar, mas tudo era de marcas reconhecidas. Não poderia ir vestida assim para a terapia da Luci. Mamãe teria um infarto. Depois de revirar por um bom tempo procurando algo mais simples, acabei optando por uma calça jeans "modesta" e uma blusa o mais normal que consegui encontrar. O mesmo fiz com os sapatos e a bolsa. Mesmo assim, sabia que mamãe perceberia que algo estava errado.  

Saí do quarto e avancei até encontrar a escada. Ontem estava tão assustada que não prestei atenção no caminho que o senhor Minetti me levou. Ao chegar no andar de baixo, percebi que parecia um palácio: era enorme e cheio de luxos. Alguns empregados me cumprimentaram inclinando a cabeça, tentando esconder um sorriso. Sem dúvida, todos sabiam que eu era a louca que havia interrompido o casamento. Caminhei pela sala imensa tentando adivinhar onde estava o escritório. Vi uma senhora limpando e decidi me aproximar.  

—Desculpe, bom dia —a cumprimentei timidamente—. Poderia me indicar onde fica o escritório?  

—Bom dia, senhora Minetti. É aquela porta no final do corredor —me respondeu com um sorriso amigável.  

—Muito obrigada. Só me chame de Lilian, por favor —pedi, devolvendo o sorriso. Ela assentiu. —¿Qual é seu nome?  

—Sou Ninetta, senhora. Deseja algo para comer? —me perguntou com amabilidade.  

—Não, obrigada —rejeitei sua oferta, eu nunca tomava café da manhã.  

Dirigi-me em direção ao escritório, cuja porta estava fechada. Toquei suavemente e ouvi uma voz dizendo:  

—Entre.  

Abri a porta lentamente e entrei. O escritório era amplo e majestoso. Atrás da mesa, o senhor Minetti escrevia em alguns papéis. Ele parecia distante e frio, mas ao mesmo tempo emanava elegância e uma presença masculina imponente.  

—Bom dia, senhor Minetti —cumprimentei com cautela.  

—Bom dia, senhora Minetti. Sente-se, já a atendo —respondeu sem parar de escrever.  

Caminhei devagar até me sentar em uma elegante cadeira na frente de sua mesa. Meu olhar começou a percorrer o local com curiosidade. Atrás dele, toda a parede era uma enorme estante que ia do chão ao teto, cheia de livros que supus serem edições excepcionais. Virei a cabeça e vi um grande retrato do avô na parede. Ao lado, havia um lindo conjunto de sofás renascentistas de couro preto com uma mesa de centro de ébano.  

—Senhora Minetti —a voz do senhor Minetti me tirou do meu devaneio.  

—Sim, senhor.  

—Tome. Este é o contrato da nossa relação. Leia e, se não concordar com algo, me diga e discutiremos —disse, estendendo-me algumas folhas brancas.  

—¿Contrato? ¿Que quer dizer? ¿Pensa em continuar com esta loucura? —Ele me olhou fixamente, com um olhar tão assustador que me fez encolher.  

—¡Você foi quem nos meteu nessa confusão! —vociferou furioso—. Pegue o contrato, leia e, se não concordar com algo, me diga.  

Ele me ordenou com uma voz que parecia que estava me disparando, lembro da sua arma, e me resigno a não contradizê-lo. Vejo que agora não pode ser, por isso me encho de coragem e pergunto:  

—¿Posso fazer isso mais tarde, senhor?  

—¿Mais tarde? —repetiu, apertando os olhos.  

—Sim, senhor. É que tenho que acompanhar minha irmã mais nova a uma consulta às dez, e já são nove —expliquei rapidamente.  

—¿Consulta? —perguntou, visivelmente curioso.  

—Sim, senhor. Minha irmã sofre de granulomatose e hoje devem fazer uma biópsia. Não podemos faltar —respondi com seriedade.  

—Quantos anos tem sua irmã? —perguntou, sem desviar o olhar de mim.  

—Dezoito, senhor —respondi imediatamente.  

—Está bem, mandarei o motorista para te levar —disse, aparentemente dando por encerrado o assunto.  

—¡Não! —gritei, levantando-me instintivamente.  

O senhor Minetti levantou a cabeça surpreso, olhando-me com curiosidade. Engoli em seco e tentei disfarçar.  

—Traga-me o prontuário da sua irmã. Procurarei os melhores especialistas e tratamentos —me pede imediatamente.  

—Não se preocupe, senhor —suavizei meu tom, sentando-me novamente—, seu médico é muito bom. E quanto a essa história de me mandar de carro, prefiro que não, senhor. Não quero que ninguém descubra que estamos casados. Preferiria ir por conta própria.  

Ele ficou me olhando fixamente, com a testa franzida e suas narinas começaram a se abrir e fechar, o que me dizia que não gostou dessa última coisa que disse, mas tenho que ser clara, sempre fui, e preciso esclarecer esse ponto.  

—¿O que quer dizer, senhora Minetti? —perguntou devagar, com um tom que me enviava arrepios pela espinha.  

—Bem… gostaria de continuar com minha vida —soltei, tentando manter a compostura.  

—¿O que quer dizer, senhora Minetti? —pergunta de novo agora muito devagar, com um olhar assustador que me faz encolher no sofá. No entanto, reúno coragem e digo:  

—¡Pois gostaria de continuar com a minha vida!  

—¿Com sua vida? —ele se inclina, apoiando os cotovelos na mesa enquanto continua a me olhar fixamente—. ¿Pode ser mais específica?  

—Bem… bem… —¡Deus!, ¿em que encrenca estou metida?  

Minhas pernas começam a se mover nervosamente, enquanto tento encontrar as palavras certas para dizer o que penso. Endireito-me, respiro fundo e solto:  

—¡Quero apenas vir dormir quando for estritamente necessário. Se possível, acompanhá-lo o mínimo possível a atos públicos —não era exatamente o que queria dizer, mas fico com medo de como ele me olha—. ¡Eu me meti sozinha nessa! Vamos resolver, senhor, te prometo.  

Por um momento ele ficou como se não houvesse ouvido bem o que eu disse. Depois recostou-se na cadeira com uma expressão que não consigo decifrar. Às vezes sinto que me observa como um bicho raro, uma espécie em extinção. Até pensei ver surgir um leve sorriso no canto de seus lábios, acompanhado de uma expressão de incredulidade em seu rosto.  

—Na verdade, senhorita Lilian, parece que você não tem ideia de quem eu sou, não é? ¿Você realmente não sabe onde se meteu? —me pergunta com um pouco de sarcasmo ou diversão. Depois, me diz com uma seriedade que me deixou paralisada: —Descubra logo, antes que seja tarde demais.

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