Nós três dividimos uma garrafa de vinho. Ninguém ficou bêbado, mas o clima estava descontraído e agradável. Quando o jantar já estava quase no fim, eu mandei uma mensagem para Jean pelo Line.Ele respondeu:[Chego em mais ou menos meia hora.]Fizemos as contas e, calculando o tempo, resolvemos nos levantar e sair quando imaginamos que ele já estaria próximo. Bela insistiu em nos acompanhar até a saída. Quando chegamos à porta do restaurante, o carro de Jean chegou exatamente naquele momento.Bela, parada ao meu lado, inclinou-se discretamente para cochichar:— Vai, confessa. Desde quando vocês dois estão juntos, hein?Fingi que não entendi:— Do que você está falando? Você deve estar bêbada.— Não se faça de desentendida!— Não tem nada disso! Você está confundindo as coisas... — Respondi, tentando parecer séria, e complementei. — Não se esqueça de que eu nem me divorciei ainda. Como seria possível? Além disso, mesmo que eu estivesse divorciada, sou uma mulher divorciada, com um pai qu
— Então você senta no meio. Daqui a pouco eu vou descer, é melhor ficar perto da porta. — Dei um giro rápido e empurrei Amélia para a minha frente.Mas Amélia, ágil como sempre, torceu o corpo e voltou para trás de mim:— Eu não vou sentar perto do meu irmão! Ele vai começar a me dar sermão! Prefiro ficar no canto, quietinha.O carro já estava parado na beira da rua havia alguns minutos, e nós continuávamos nesse vai e vem, empurrando e puxando. Era uma cena completamente desnecessária. Por fim, não tive escolha a não ser ceder. Subi no carro e me sentei no meio.O aroma de Jean imediatamente tomou conta do meu espaço. Era uma mistura fresca, intensa e ao mesmo tempo sofisticada. Sem perceber, engoli em seco. O lado do meu corpo que estava encostado nele parecia diferente, como se tivesse ganhado vida própria.— Bela, estamos indo. Obrigada por hoje à noite! — Amélia foi a última a entrar no carro e se despediu de Bela.— Tudo bem, tchau! — Bela acenou para nós enquanto o carro arranca
Mas eu sabia que Amélia não estava dormindo. Na verdade, ela provavelmente estava de ouvidos atentos, escutando tudo.Entre mim e Jean, o silêncio se instalou por algum tempo. A atmosfera na cabine do carro ficou cada vez mais tensa e desconfortável.Eu comecei a sentir calor. Não sabia se era porque estava nervosa demais ou se o vinho finalmente estava fazendo efeito. Depois de um bom tempo tentando me controlar, senti um leve suor se formando nas costas e não aguentei mais ficar calada:— Está ligado o ar-condicionado? Está um pouco quente…O motorista de Jean, um rapaz jovem que eu já tinha visto algumas vezes, respondeu rapidamente. Ele tinha a pele bronzeada, era alto, com uma postura impecável que denunciava seu passado provavelmente era um ex-militar, agora trabalhando como motorista e segurança.Ele olhou rapidamente pelo retrovisor, claramente surpreso com a pergunta, e respondeu:— Srta. Kiara, a temperatura está em 22°C.Era a temperatura mais confortável para o corpo humano
Por esse motivo, fui “recusada”. Disseram, de forma muito educada, que eu seria mais adequada como modelo de lingerie e sugeriram que eu considerasse essa possibilidade. Apesar de gostar de ganhar dinheiro, eu ainda tinha meu orgulho e não estava desesperada a ponto de usar meu corpo para subir na vida.Além disso, toda vez que eu fazia desfiles, sempre apareciam alguns homens inconvenientes me importunando. Quando Davi descobriu, ele foi categórico: proibiu-me de continuar.Hoje, tantos anos depois, ao pensar nisso, percebo como era bom ser jovem. Apesar de toda a correria, ainda havia entusiasmo e energia. Agora… mesmo sendo dona do meu próprio negócio, vivo tão exausta quanto um cachorro.Momentos como o de hoje, em que me reúno com amigos, saboreio boa comida, bom vinho e desfruto de uma leveza descontraída, tornaram-se um verdadeiro luxo.Enquanto eu refletia, perdida em memórias e nostalgia, Jean permaneceu cismado com o que eu havia dito. Ele franziu levemente a testa, visivelme
O silêncio tomou conta do carro. Minhas mãos, que antes estavam segurando o casaco, caíram devagar. As abas abertas do casaco também se soltaram, deixando meu corpo mais exposto.Talvez por causa do assunto anterior, minha atenção ficou presa em algo que não deveria: o cinto de segurança que passava bem no meio do meu peito, fazendo com que ele parecesse ainda mais… evidente.Eu queria puxar o casaco e me cobrir novamente, mas não tinha coragem de fazer esse movimento. No meio desse silêncio desconfortável, arrisquei lançar um olhar de canto para Jean.Ele estava encostado na porta do carro, com o cotovelo apoiado na janela, segurando levemente o queixo com a mão. Conforme os postes de luz passavam, as sombras brincavam no rosto dele, criando um contraste que destacava ainda mais seus traços marcantes.Meus olhos pararam em seu pescoço, onde o pomo de Adão se movia levemente para cima e para baixo. Era um detalhe simples, mas que me pareceu incrivelmente atraente, quase hipnotizante. E
Eu balancei a cabeça em concordância:— Isso é certo! Com seu sucesso e suas conquistas, com certeza os líderes da universidade vão te acompanhar pessoalmente.Ele sorriu, humilde:— Lidar com isso também é cansativo. Preferiria algo mais tranquilo.Eu não resisti e brinquei:— Esse é o tipo de problema que só os bem-sucedidos têm. Para nós, pessoas comuns, basta sentar entre os espectadores e aproveitar.Jean ficou visivelmente sem graça com o elogio. Ele abaixou a cabeça e sorriu de leve, mas logo mudou de assunto:— No dia da celebração, podemos ir juntos para a universidade.— O quê? Eu estava pensando em ir de metrô. Você vai mesmo comigo?Eu imaginei como seria o centenário da universidade: certamente um evento grandioso, com a área ao redor completamente congestionada. Sabendo disso, a escola provavelmente não permitiria a entrada de tantos carros, o que tornava o metrô a opção mais prática.Jean arqueou uma sobrancelha, com um leve tom de provocação.— Você vai toda arrumada e
Camila hesitou um pouco, mas sorriu de forma cautelosa:— Será que o preço total não pode ser um pouco mais baixo? A gente realmente não tem tanto dinheiro assim.Era exatamente como eu havia previsto.Enquanto dirigia, respondi com total tranquilidade:— Tia Camila, minha situação também não está fácil. Lá fora, eu devo trezentos milhões. Trezentos! Você acha que eu durmo? Que eu não fico ansioso? Todo dia cai cabelo meu. Olha só, passei o final de semana inteiro trabalhando. O estresse está acabando comigo, nem consigo pensar em descansar.Eu já tinha entendido tudo sobre a natureza humana e sobre os Mendes, essa família cheia de parentes interesseiros. Ser bonzinho com eles? Pra quê? Só me traz prejuízo. Eles pegam o que podem e ainda saem rindo de mim pelas costas, me chamando de idiota fácil de enganar.Então, agora, nem um passo para trás.Como esperado, tia Camila ficou sem palavras diante da minha choradeira:— É… eu sei que sua vida também não está fácil.— Pois é, tia. Se eu
— Kiara, Camila! Quem deu permissão para vocês transferirem essas ações? Essa empresa é o trabalho de uma vida inteira do Carlos! Vocês ficam passando de mão em mão até não sobrar nada. Isso é um absurdo! Quer ser presidente da empresa? Sonha! — Isabela entrou de repente, berrando como uma louca.Todos ficaram chocados.Tia Camila também ficou surpresa, mas logo se adiantou para tentar explicar:— Cunhada, meu irmão está preso. Como ele vai administrar a empresa? Eu já estou aqui há mais de dez anos. Ninguém conhece essa empresa melhor do que eu.— Que besteira! Camila, acha que eu não sei o que você está fazendo? Você está aproveitando a situação para roubar o que é do seu irmão!— Cunhada, isso não é justo. Eu paguei com dinheiro de verdade pelas ações! Como pode chamar isso de roubo?— Dinheiro de verdade? O Carlos trabalhou por essa empresa a vida inteira, e agora ele deve quase um bilhão só de multas fiscais. Ele está afundado em dívidas, e vocês aproveitaram para pegar tudo de gr