Isabelle Dempsey, uma chef de cozinha em ascensão, decide deixar Miami para passar uma temporada com os amigos Zachary e Gwendolyn Monaghan no Alasca. O que ela não esperava era acabar presa no polo norte em uma corrida para preparar o natal perfeito ao lado de Gustaf Bergqvist, o charmoso cozinheiro da pousada de seus amigos. Acompanhe essa romântica história em um lugar onde os dias duram apenas quatro horas, as luzes do Norte dançam no céu a noite, o espírito natalino vive o ano inteiro e corações quebrados podem ser curados
Leer másIsabelle
O tilintar de uma campainha na boqueta chamou minha atenção, eu caminhei até lá, pegando a nova comanda que havia sido entregue por um dos garçons. Retornei para a bancada central da cozinha que eu comandava em um restaurante na área nobre de Miami.
— Atenção, marchando. Mesa dezessete, Uma vieira, Um lagostin, Duas lagostas com molho Champagne — eu li a comanda em voz alta.
— Sim, chef — a resposta foi unânime.
Com um pequeno sorriso eu peguei um prato que tinha acabado de ser deixado sobre o balcão esperando minha aprovação, eu o finalizei com o molho de laranja, limpando qualquer resíduo antes de colocá-lo na boqueta, tocando a campainha em seguida.
Aquela era minha rotina pelos últimos dois anos, quando me tornei Chef do Le Petit Cuisine, um restaurante em Miami.
Eu adorava minha profissão mas não podia dizer que era uma vida fácil. Eu passava cerca de dez horas em pé em um ambiente quente e abafado, muitas vezes abria mão de minhas folgas e mal tinha uma vida social, toda aquela rotina estava me esgotando em um nível mentalmente perigoso, foi por esse motivo que meu terapeuta recomendou que eu tirasse no mínimo um mês de férias antes que eu acabasse tendo um colapso nervoso aos vinte e sete anos.
Mais uma vez o tilintar, fui até lá, peguei a comanda, marchei mais uma série de pratos sob o barulho constante de panelas.
— Penélope, caso você não tenha percebido, seu filet mignon está pegando fogo, acabaram as raspas de limão, quem foi que fez o mise en place hoje?
— Sinto muito, Izzy. Eu vou conseguir mais raspas — Hugo, meu sub chef avisou.
Aquela noite estava tranquila, e eu pensava que continuaria assim, mas a entrada de Cora Mitchell, a gerente do restaurante, na cozinha carregando um prato devolvido me mostrou que eu estava errada.
— Ainda estou esperando o Ceviche da mesa cinco — Eu declarei antes de me virar para a mulher, analisando um salmão perfeitamente preparado e quase intocado. — Qual o problema?
— A cliente deseja falar com você e explicar pessoalmente o que ela deseja — ela me deu um sorriso enigmático.
— Falar comigo? Cora, eu tenho muito o que fazer!
— Hugo fica no seu lugar por enquanto — ela acenou para o rapaz, praticamente me arrastando para fora da cozinha, apenas me dando tempo de retirar o avental.
Eu odiava quando aquilo acontecia, bem, não me importava tanto quando se tratava de elogios, mas esse tipo de cliente que deseja me ensinar a cozinhar é a pior parte do trabalho.
— Lembre-se de ser educada, Izzy.
— Eu sempre sou educada, Cora.
Nossa pequena discussão foi impedida de avançar quando chegamos à mesa de um típico casal de classe média alta. Aquilo não teria me incomodado tanto, se não fosse a forma como a mulher me mediu.
Eu também não pude deixar de analisá-la, seus cabelos loiros cacheados e as maçãs do rosto bem destacadas lhe concediam um ar jovial, e, adicionado a expressão debochada em seu rosto, transformaram o conjunto em algo odioso.
— Você é a chef? — Ela perguntou descrente.
— Sim, Isabella Dempsey, nossa chef há dois anos — Cora afirmou com orgulho enquanto eu aguardava pacientemente que ela me dissesse logo o que desejava.
— Mesmo? Eu jurava que o chef desse lugar seria um velho gordo, baixinho e de bigode.
— Lindsay! — o rapaz que a acompanhava murmurou parecendo constrangido.
— Bom, eu duvido muito que tenha um velho gordo baixinho e bigodudo por aí chamado Isabella Dempsey, então sim, eu sou a chef!
Eu notei o rapaz esconder um pequeno sorriso ao abaixar o rosto, enquanto Lindsay continuava com aquela mesma expressão, me encarando.
— O que eu posso fazer pela senhorita? — eu decidi terminar de uma vez com aquilo.
— Ahh sim, o meu prato estava com um gosto muito acentuado de peixe — ela declarou com uma expressão séria.
Eu permaneci encarando a mulher pelo o que pareceu uma pequena eternidade, antes de olhar em volta à procura de alguma câmera escondida.
Isso tem que ser uma pegadinha!
— Lindsay, certo?
Ela balançou a cabeça em concordância, aguardando por uma resposta, enquanto seu namorado me lançava um olhar de desculpas.
— Bom, Lindsay, você pediu salmão ao molho de limão Siciliano.
— Sim, foi o que eu pedi — Ela confirmou com um sorriso.
Eu olhei para Cora, que permanecia com aquela expressão conciliadora em seu rosto.
— Salmão é um peixe.
— Sim, mas dependendo do método de cocção ele não fica com gosto de peixe, e…
— Lindsay, o método de cocção não mudará a proteína final, eu poderia cozinhar a posta de mil maneiras diferentes e ela ainda teria sabor de peixe, porque é um peixe! — eu estava me esforçando para fazê-la compreender o quão absurdo era seu desejo.
Ela respirou fundo como se eu estivesse me recusando a cumprir um pedido simples.
— Tudo bem, Isabella Dempsey, hoje é uma noite especial para Carter e eu, e eu realmente queria que tudo saísse perfeito, então você pode me trazer outro prato que não tenha um gosto tão forte de peixe?
— Eu posso te trazer um medalhão de filet mignon com molho de vinho tinto, e te garanto que não terá nenhum gosto de peixe. Agora se me dão licença, eu preciso voltar ao trabalho — eu não dei a ela a chance de responder, me limitei a dar a costas e retornar para a cozinha, Cora me seguiu de perto após se desculpar com o casal.
Cora me alcançou assim que eu entrei na cozinha, parecendo insatisfeita com minha resposta anterior.
— Isabella, você está mesmo indo a terapia?
— Duas vezes por semana, como você exigiu — eu murmurei indo até a pia para higienizar minhas mãos após colocar mais uma vez o avental em minha cintura, alisando até que ficasse perfeitamente alinhado com o dólmã que eu vestia.
Eu senti a atenção de toda a equipe de cozinha sobre nós, mas escolhi ignorá-los.
— E você não pode dar uma resposta mais educada?
Eu me virei para a mulher com um olhar descrente. O que ela esperava que eu falasse para aquela mulher!?
— Cora, ela me pediu para tirar o gosto de peixe do Salmão! Minha resposta foi educada até demais.
Ouvi algumas risadas sufocadas pela cozinha, mas as ignorei.
— Eu juro que se você não tivesse feito meu restaurante ficar entre os melhores nos últimos anos, eu já teria te demitido — Ela murmurou.
Ela teria me demitido, essa é boa!
— Bom, o seu restaurante me levou à terapia, então o maior risco é que eu me demita! Mas para sua sorte, eu saio de férias em três dias e espero que algumas semanas no Alasca me ajude a esfriar a cabeça para conseguir lidar com pedidos estúpidos de pessoas estúpidas — eu declarei com um sorriso no rosto, recebendo em troca um revirar de olhos.
E eu estava contando as horas para poder rever Gwen, Zach e principalmente o pequeno Daniel, que no auge de seus quatro anos era a criança mais ativa e inteligente que eu conhecia. Não que eu tivesse contato com tantas crianças.
O fato é que eles eram o mais próximo que eu tinha de uma família, e ainda que a vida tenha nos levado para lados opostos do continente, nós mantínhamos contato e éramos bastante próximos.
E eu não via a hora de revê-los.
IsabelleO tilintar da campainha na boqueta chamou minha atenção, eu corri até lá, lendo o pedido antes de colocá-lo na fila, e diferente de outra época da minha vida, eu não marchei o pedido. — Alguma coisa para mim, Zazie? — Gustaf perguntou do outro lado da cozinha que montamos juntos há alguns meses.— Não, parece que todos optaram pela codorna hoje — Eu respondi, voltando para a beira do fogão, me concentrando em finalizar os pratos que estava preparando.Nós estávamos no meio de agosto, fazia um pouco mais de dois meses que Gustaf e eu conseguimos abrir nosso bistrô juntos e nós não imaginávamos um movimento como aquele em tão pouco tempo.— Eu estou terminando os meus pedidos e já vou te ajudar — ele avisou, finalizando um prato com salmão.Juntando nossos recursos financeiros não foi difícil montar o restaurante, a parte física, pelo menos. Por que na questão do cardápio, nós discutimos muito até conseguir mesclar com perfeição todo o meu amor pela gastronomia clássica com a
IsabelleEu encostei minha cabeça no banco do táxi, respirando aliviada por finalmente estar em Fairbanks. Eu não podia acreditar na bagunça que tomou conta da minha vida nos últimos dias, logo que saí do restaurante eu me sentia perdida, não sabia o que fazer e qual atitude tomar a seguir, a única pessoa com quem eu podia contar naquela cidade era meu sub chef, e de certa forma ele estava envolvido em tudo. Eu estava sozinha.Foi quando eu vi a passagem que Gustaf me deu, e não foi difícil tomar aquela decisão, principalmente quando eu comecei a receber inúmeras mensagens me avisando que alguém havia filmado toda a confusão e o vídeo tinha viralizado. Eu precisava da minha família, era o único lugar onde eu sabia que encontraria apoio e eu também queria acompanhar de perto a nova gravidez da Gwen.Pelo menos essa foi a mentira que eu contei para mim mesma ao me convencer que esse era o melhor caminho, mas ainda assim, foi o endereço de Gustaf que eu dei ao Taxista. Eu adorava meu
Gustaf— Por falar nela, vocês viram o vídeo? — eu me recuperei depressa, ignorando o olhar questionador de minha mãe sobre mim.— Acho que todo mundo viu o vídeo — Gwen suspirou.Minha família trocou olhares confusos até que meu tio resolveu se manifestar.— Sobre o que vocês estão falando?— Você se lembra da Izzy, certo, pai? — Stefan se virou para o pai.— Ahh as garota que roubou o coração do seu primo? — Brianna soltou em um tom sugestivo, me deixando um pouco desconfortável diante do olhar da minha família.Não que eu pretendesse esconder Izzy deles ou algo assim, eu só preferia falar que estava com alguém quando tivesse nossa relação resolvida, e eu não sabia nada sobre ela há dias.— Você tem uma namorada? — Greta me observou.— Não exatamente — eu forcei um sorriso.— Enfim, ela viralizou em um vídeo ontem — Gwen tentou mudar o assunto.— Que tipo de vídeo? — Blenda quis saber.Porém, antes que eu pudesse responder, Danny, que estava brincando com Declan, se manifestou.— A
GustafGwen conseguiu uma vaga e logo estacionou, se virando para mim em seguida, olhando em meus olhos.— Izzy sabe que você é um cara maravilhoso, Gustaf. E ela valoriza isso. Mas tem muita coisa acontecendo dentro dela. E você pode me odiar por te impedir hoje, mas eu não posso deixar que ela sinta a culpa pela sua recaída.Eu me senti a pior pessoa do universo naquele momento por sequer ter cogitado a hipótese de beber. Eu havia prometido a ela que a esperaria e a aceitaria como fosse. Como eu posso ser tão fraco?Eu desviei o olhar, me sentindo um fracassado. Se não fosse pela intervenção da minha amiga, meu arrependimento seria bem maior. Uma notificação chegou ao celular dela, fazendo ela franzir o cenho enquanto encarava a tela do aparelho.— Tudo bem?— Sim, o voo adiantou, o grupo que viemos buscar já desembarcou — ela balbuciou — Gustaf, eu tenho algo urgente para resolver e pensei que daria tempo, você se importa de encontrá-los?Grupo? Pensei que era apenas um homem. Ma
Gustaf Cambaleei pelas ruas próximas a pousada sem saber exatamente para onde ir, minha mente parecia nublada e desnorteada, aquele tormento não me deixava desde que deixei a cabana alguns minutos antes.Eu tinha chegado a considerar a possibilidade de pegar o carro e ir para Fairbanks em busca do meu conforto, mas eu descartei a possibilidade de dirigir em seguida, me contentando em ir até a mercearia ver o que poderia conseguir ali.Uma semana era tudo o que eu precisava aguentar para completar dois anos de sobriedade, e eu me sentia péssimo por não ser capaz de suportar, mas eu precisava daquele alívio. Mas antes que eu pudesse chegar ao meu destino, uma mini van parou ao meu lado, abaixando o vidro.— Gustaf, que bom que eu te encontrei — Gwen me cumprimentou sorrindo, parecendo alheia a tudo o que se passava em minha mente — eu preciso buscar um hóspede no aeroporto, e o Zach está ocupado, você pode ir comigo? Eu pisquei atordoado, e por um momento pensei em negar seu pedido.
IsabelleNós saímos do restaurante parando alguns metros adiante na calçada, eu me encostei na parede observando o Céu azul. Eram quase 5:30 da tarde e o sol estava perto de se pôr, me fazendo pensar que nesse mesmo horário todos já estariam na mais absoluta escuridão no Alasca.— Você não me contou como foi a sua viagem — Hugo comentou.— Foi incrível, aquele lugar me surpreendeu de tantas maneiras. Eu não esperava que fosse gostar tanto — eu admiti ainda olhando o céu.— Eu nunca pensei ir para o Alasca para mim aquele lugar não tem nada além de gelo, eu gosto do calor.Não pude evitar rir diante do seu comentário que era tão parecido com a minha própria opinião quando embarquei um mês atrás. — Eu vi Aurora boreal — eu comentei — e andei de trenó com husky.— Isso parece interessante, como é Aurora? Eu me lembrei do dia que passamos na fonte termal, e de toda a explicação que Gustaf me deu sobre as auroras depois. Aquele pensamento me fez sorrir mais uma vez, pois eu sabia que p
Último capítulo