Adan conquistou o ápice da sua carreira na política aos quarenta e dois anos, se tornando o presidente mais jovem dos EUA. Ele nunca se conformou com situações erradas, mas, com o tempo, conformou-se com um casamento falido, vivendo de aparências e mentiras. Com o fim do amor e paixão, Estela tornou-se apenas uma confidente e real apoiadora depois da perca do seu único filho. Apenas o peso na consciência de mandá-la embora após a última vitória, é o que impede Adan de recomeçar a vida amorosa. Porém, as cosias podem mudar em segundos quando uma jovem jornalista cruzar o seu caminho, fazendo ressurgir a chama em seu peito que há tanto tempo havia se apagado.
Leer másAdan
Presidente dos Estados Unidos da América, aos quarenta e dois anos.
Esse é o sonho de carreira de muitos políticos, mas apenas um poderá alcançar a cada quatro anos. Eu era o presidente mais jovem a possuir este título.
Sentado no Salão Oval, às dez da noite, encarava um quadro na parede com a minha figura pintada na sua tela. A última reunião havia sido encerrada duas horas atrás, mas eu continuava ali. Não porque ainda havia algo para ser feito, mas porque estava prolongando ao máximo o momento de atravessar os corredores até o lado, onde residia dentro da Casa Branca.
Há seis meses, eu ocupava aquele espaço, morava naquela casa de paredes tão brancas onde eu governava uma nação. Há malditos seis meses continuava a sustentar uma mentira na minha vida. Uma infeliz mentira, devo dizer.
Suspirando fundo, apanhei o copo sobre a mesa e derramei na minha boca o último gole de um bom e caro uísque, sentindo descer por minha garganta o calor tão brevemente aconchegante que desaparecia no esôfago. Nem todo o uísque do mundo faria com que esse calor chegasse aonde eu mais sentia a sua falta: no meu peito.
Levantei-me da cadeira e apanhei o meu paletó sobre o encosto. Deixei o Salão Oval e caminhei pelo corredor com dois seguranças no encalço. Aquilo ainda era estranho. Ao chegar na parte onde habitava, a porta foi aberta por um dos homens que me acompanhava. Logo que
entrei, ele a fechou.
Ali, sozinho ao menos naquele espaço, respirei aliviado e me permiti sorrir minimamente, sentindo o cansaço latejar os meus ombros.
— Você demorou! — A voz de Estela ecoou atrás de mim.
Engoli em seco ao fechar os olhos por alguns segundos. Guardei as mãos nos bolsos da calça e girei os calcanhares na sua direção.
— Boa noite, querida esposa — ironizei.
Ela sorriu falsamente.
— Estava sozinho, espero. Ou estava trancafiado naquela sala com a sua secretária? — Havia tamanha repulsa na sua voz. Era sempre assim quando Estela falava de Alex, a minha secretária há oito anos.
O meu sorriso aumentou deixando os meus dentes aparentes. Era engraçado o seu comportamento. Até parecia que ela ainda me amava.
Caminhei na sua direção e apanhei o seu queixo delicado com os meus dedos. Ergui um pouco o seu rosto para poder encará-la nos olhos. O perfume da mulher por quem um dia fui apaixonado, entranhou nas minhas narinas. Era estranho que nem saudade do passado eu não sentia mais.
— Já disse, Estela. Alex é somente a minha secretária. — E realmente era. Fiquei muito feliz de poder trazê-la comigo do meu cargo de governador. Alex era excelente no que fazia. Não conhecia ninguém melhor para ser minha secretária.
Estela sorriu com tamanho desprezo. Era tão grande quanto o que eu sentia por ela naquele momento. Afastando a minha mão do seu rosto, ela sustentou o meu olhar por mais alguns segundos e se virou seguindo pelo corredor, à direita.
Ela ainda era tão linda quanto o dia em que a conheci, anos atrás. Mesmo hoje, aos quarenta anos e com algumas linhas de expressão no rosto, tinha uma beleza marcante. Era uma pena que as coisas acabaram entre nós, uma vez que nos amamos de verdade. E era ainda mais digno de pena como o nosso casamento se desfez. Dia a dia. Noite após noite.
A cada semana que se passava, um pedaço se desfazia, tornando-se nada. Era triste nenhum de nós ser maduro e humano o suficiente para acabar com esse relacionamento que se tornou algo conveniente para ambos. Perguntava-me quem teria primeiro a dignidade de encerrar a nossa história.
Quando ela tomou a decisão de dormimos em quartos separados, já não nos tocávamos intimamente há dois anos. Honestamente, respirei aliviado com o seu anúncio. Aquela atmosfera densa quando nos deitávamos para dormir era extremamente exaustiva.
Àquela altura, eu já não sentia mais nada por Estela, e isso me doía. Como podia acabar assim uma história de amor tão intensa como a que vivemos juntos? Às vezes, sentia que foi ela quem deixou de amar primeiro. E sem resposta, os meus sentimentos se foram.
Sentia falta de tocá-la. Ou será que sentia falta de tocar um corpo feminino do modo mais íntimo que existe? Há três anos não fazia isso. Nem sequer me lembrava de como era o gosto de uma boceta, ou a sensação de dois corpos nus se roçando, ofegantes.
Uma pequena pressão surgiu dentro da minha calça. Levei a mão até ela e apertei de leve, fechando os olhos. Suspirando cheio de frustrações, segui para o meu quarto. Quando governador já era impossível ir à procura de outra mulher para pura satisfação carnal. Agora, presidente do país, esse pensamento não devia sequer existir na minha cabeça.
Debaixo do chuveiro, eu apreciava a água gelada nos meus ombros, enquanto me masturbava pensando na mulher nua da última revista pornô que vi. Isso fazia uns vinte anos. Cômico ou triste? Após gozar, sempre vinha aquele sentimento depressivo de infelicidade amorosa.
“Quando terei colhões o suficiente para acabar de vez com esse casamento?”
A verdade é que eu tinha medo de magoar Estela ao me separar. Ela foi minha parceira, amiga e cúmplice por longos quinze anos. Passamos por muitas coisas para que eu chegasse até aqui, mesmo dormindo em camas separadas. Lutamos lado a lado contra o machismo para que ela alcançasse a sua realização profissional. Passamos pela perda trágica do nosso único filho e por inúmeras derrotas, até mesmo financeira. E por tudo isso, sentia que ainda devia muito para ela. No fundo, ainda amava Estela. Mas como uma grande amiga.
DianneBorboletas reviraram o meu estômago, tornando o enjoo mais forte. Não era possível que eu vomitaria em Adan. Seria uma cena desajeitada que nem nos meus livros eu me atreveria a escrever.Uma ansiedade enorme brotou em mim, fazendo-me agora esquentar por dentro. Ele fechou a minha mão e beijou os nós dos meus dedos. Adan era meu amor verdadeiro. O meu um terço. Aquele alguém que eu não sabia precisar tanto até encontrar. Aquele alguém que eu nunca deixaria ir. Acho que sim. Sim, eu queria esse próximo passo.Para mim, a nossa história pareceu errada no começo. Mas nós dois nunca fomos nada tão certo a se acontecer nesse mundo. Mesmo com tantas dificuldades no caminho, nunca desistimos um do outro. E isso é a maior prova de amor possível: não desistir no primeiro buraco no caminho.Ambos conseguimos gerar a maior perfeição já vista por mim. Geramos a Sophia. Mesmo se um dia nós dois deixarmos de existir, porque talvez nem tudo seja eterno, ela será o maior rastro do que vivemos
Dianne— Olha, querida. São peixinhos.Sophia estendeu a mão em direção da água, abrindo-a e fechando, como se chamasse os peixinhos. Era assim que ela fazia com os gatos quando queria chamá-los até ela. E incrivelmente eles entendiam.Apanhei um pouquinho da água fria com a mão e joguei na sua. O verão estava chegando ao fim. A minha menina completava cinco meses naquele dia.Adan remava a canoa em uma ponta, enquanto nós duas estávamos sentadas na outra. A manhã estava quente. Sophia parecia gostar de quando fazíamos isso. Em breve, o frio chegaria e teríamos de achar outra programação para fazermos com ela.Voltamos para a margem e saímos do barco. Andei com ela pelo jardim enquanto Adan guardava a canoa. Ele veio ao nosso encontro e pegou-a dos meus braços. Ficamos um pouco mais ali até que voltamos para casa.À noite, enquanto eu arrumava a cozinha do jantar, Adan colocou Sophia para dormir. Ele veio até mim e abraçou-me por trás enquanto eu limpava a bancada.— Temos colaborador
DianneA sua mão alisou a minha barriga uma última vez. Então, a beijou em despedida e sussurrou algo para ela, inaudível para mim. Os seus olhos transbordavam lágrimas incessantemente.— Vou sentir falta — disse ele antes de retirar a sua mão.Olhou-me por alguns segundos e acariciou o meu rosto suado. Adan entrou na enorme banheira inflável posta no meio do quarto e se sentou atrás de mim, ainda vestindo a calça social e a sua camisa branca.Há dezessete horas eu sentia dor. Já havia gritado, chorado, jurado nunca mais engravidar e até mesmo não deixar que Adan me tocasse outra vez. Mas lá estava ele, dentro da água fria, ajudando-me a dar à luz.— Dez centímetros — avisou o médico após verificar a minha dilatação.Estava cansada e já havia me arrependido de ter tomado a decisão de um parto natural, na casa do lago. Àquela altura, eu queria uma anestesia, mas era tarde demais.— É hora de fazer força, Dianne — falou Karen.Neguei com a cabeça. A dor agora era constante, ela não vinh
AdanDeitado no chão, ele colocou a ponta do dedo no meio de sua testa.— Aqui, presidente — falou baixo e sorriu.O maldito risinho debochado e covarde. Minha pele esquentou enquanto eu o encarava mais uma vez recordando daquele maldito vídeo que queimava meu cérebro diariamente.— Você não é... capaz — disse ao tentar se levantar.E como se meu dedo tivesse tomado a decisão por mim, o gatilho foi apertado. Seu corpo terminou de se deitar no chão branco. O sangue escorreu em abundância de sua cabeça. Seus olhos ainda me encaravam. A ponta de seu dedo fora arrancada pela bala agora cravada em sua cabeça.Olhei para as minhas mãos e não conseguia me dar conta ou entender que realmente fui capaz de matar um homem. Eu parecia meio anestesiado. Agora não sentia nada. Absolutamente nada! Nem raiva, ódio ou desespero. Meu coração ainda batia forte.— Preciso prosseguir — disse para mim mesmo.Olhei a minha volta pensando em como explodir tudo ali. Esse era o plano, mas ainda não sabia como
AdanEntrei no extenso corredor que levava às despensas, câmara fria, casa de gás e uma vasta cozinha gourmet, que comportava até cinquenta trabalhadores.Algumas poucas pessoas passaram por mim. Fui cumprimentado com acenos singelos e sorrisos discretos. Mais adiante senti cheiro de cigarro. Entortei o nariz para esse odor que me incomodava veemente.De repente, surgiu uma figura à minha frente. Ele usava o smoking enviado por mim, mas nos pés calçava velhos sapatos gastos. O homem não parecia ter ao menos se dado o trabalho de tomar um banho. Uma parte dos cabelos estava pregada no couro cabeludo e a outra parte arrepiados no topo da cabeça. A sua pele manchada, olheiras profundas e mais rugas que deveria ter na sua idade. Ele estava um tanto diferente, mas o reconheci. Era o mesmo homem peçonhento daquele maldito vídeo.Quando os meus olhos enfim encontraram os seus, senti algo ferver dentro de mim. Fúria, talvez. As minhas mãos estremeceram levemente. A respiração mudou. A tensão
AdanNa madrugada, trancado no meu escritório, limpava a pistola. Aprendi aquilo com o meu avô. Por muitas vezes, eu e os meus irmãos pensamos em vendê-la. Houve dias de muita fome na minha infância, mas minha mãe nunca permitiu.Alguns anos mais tarde, o meu irmão mais velho a entregou para mim. Disse que não queria aquilo na mesma casa que a sua filha. Ele estava certo. Também nunca quis levar isso para casa, sempre ficou no banco. Desde esse dia, era a primeira vez que pegava nela. E a usaria em uma semana se aquele maldito celular tocasse.Como se fosse a força do meu pensamento, o celular à mesa tocou. Olhei-o nervoso. Coloquei a arma sobre a mesa e apanhei-o. Apertei o botão e levei-o até a orelha, calmamente.— É você?Um minuto de silêncio. Uma risada roca e escrota ecoou do outro lado da linha.— É você!— Então acho que é comigo que quer falar.Outra risada.— Está a fim de negociar? Sei que é um homem de boas negociações.— Estou. Qual é a sua proposta, Paco?O meu coração
Último capítulo