Uma brisa fria e silenciosa cumprimentou Pedro quando ele abriu a porta de casa. O som da chave girando na fechadura ecoou estranhamente no que deveria ser o lar de um casal. Ele piscou, confuso. A sala de estar, geralmente decorada com a colcha colorida que Ana tanto amava e a estante cheia de seus livros, estava agora nua, revelando a poeira nos cantos.
Ela se foi? Como o advogado disse?
Ele deu um passo à frente, e o eco de seus próprios sapatos no chão de madeira parecia ensurdecedor. As paredes, antes adornadas com fotos do casamento, das férias e de momentos que ele considerava "felizes", agora exibiam apenas manchas mais claras onde os quadros estiveram. Era como se as memórias tivessem sido arrancadas, deixando apenas as cicatrizes.
Pedro caminhou até a cozinha. A caneca que Ana usava para o café da manhã, o pote de biscoitos em formato de coruja, o imã de geladeira com a foto deles – tudo sumira. A geladeira, antes coberta de recados, estava fria e vazia, a superfície branca