Ethan
Os últimos dias foram uma tortura disfarçada de rotina. O tipo de inferno silencioso onde ninguém te fere de fato, mas tudo ao redor te cutuca. E no centro disso estava ela. Sempre ela.
Melo continuava fria. Precisa. Impecável. A senhorita Cross seguia sua rotina como se nada tivesse acontecido — como se a existência daquele estagiário idiota colado nela não fosse, no mínimo, irritante. Ela não sorriu pra mim. Não falou comigo. Não lançou sequer um olhar. Mas com as amigas? Clara e Bianca? Ah, aí sim. Ria. Brincava. Como se vivesse num comercial de margarina corporativa.
E ele estava sempre por perto.
Caio West.
Aparentemente, o “estagiário do ano” tinha tempo e liberdade para acompanhar cada passo da Melo. Projeto novo? Lá estava ele. Correção de planta? Também. Apresentação com cliente? Caio já tinha decorado as falas. Às vezes eu me perguntava se ele tinha uma cama escondida na sala de arquivos.
Eu me esforçava para ignorar. Para focar nos números, nas reuniões, nas entregas.