O beco estreito no coração de Nova York cheirava a chuva recente e lixo acumulado, um lembrete constante da cidade que nunca dormia. Sophia Valente ajustou o capuz da jaqueta preta, seus olhos verdes varrendo o entorno com precisão calculada. Eram 23h47, e seu relógio de pulso piscava discretamente. O cliente anônimo fora explícito: um envelope com dados confidenciais sobre a Blackwood Enterprises estaria na lixeira marcada. Missões como essa eram rotina para ela — infiltrar, coletar, desaparecer —, mas algo no ar daquela noite a deixava em alerta, como se olhos invisíveis a observassem.
Ela se aproximou da lixeira com passos silenciosos, a mão direita pairando perto do coldre escondido sob a jaqueta. Profissionalismo era sua armadura; nada de distrações, nada de erros. Seus dedos ergueram a tampa com eficiência, mas antes que pudesse pegar o envelope, um arrepio subiu por sua nuca. Não era o vento — era instinto puro, forjado em anos de trabalho solitário.
"Mostre-se," ordenou ela, a voz baixa e autoritária, sem um traço de hesitação. Ela girou, sacando a faca da bota em um movimento fluido, pronta para confrontar qualquer ameaça.
Um riso grave ecoou das sombras, seguido por uma silhueta emergindo da escuridão. Ethan Blackwood. Alto, com ombros largos sob um casaco escuro que se fundia à noite, ele tinha olhos âmbar que pareciam capturar a luz fraca da lua cheia filtrando-se entre os prédios. Sophia o reconheceu das pesquisas preliminares: o CEO bilionário, recluso e poderoso. Mas ali, no beco, ele parecia mais predador do que executivo.
"Impressionante," disse ele, a voz rouca com um tom de admiração genuína. "Você é tão profissional quanto os rumores dizem, Senhorita Valente. Nenhum pânico, apenas ação."
Sophia manteve a faca erguida, o rosto impassível. "Você não é o meu cliente, Blackwood. Explique-se, ou isso termina mal para você." Sua postura era ereta, o tom frio e direto — ela não se deixava intimidar por fortunas ou olhares penetrantes. Era o trabalho que importava, não o homem à sua frente.
Ethan inclinou a cabeça ligeiramente, um sorriso sutil curvando seus lábios enquanto ele a avaliava. Havia algo nela — aquela compostura inabalável, a eficiência sem floreios — que o intrigava mais do que esperava. Mulheres como ela eram raras: focadas, independentes, sem espaço para jogos emocionais. Ele deu um passo à frente, o ar entre eles carregado de uma tensão que ele sentia mais intensamente do que ela. "Talvez eu seja o cliente," respondeu, os olhos fixos nos dela. "Ou talvez eu saiba que você está bisbilhotando minha empresa por razões que vão além do óbvio."
Sophia não piscou, calculando riscos em segundos. "Se tem provas, apresente-as. Caso contrário, saia do meu caminho." Seu profissionalismo era uma barreira, mas Ethan via além — uma mulher que controlava o caos, e isso o encantava, despertando um interesse que ia além da curiosidade.
Antes que ele pudesse responder, um uivo baixo e gutural rasgou a noite, vindo de algum lugar próximo, ecoando pelos prédios como um aviso primordial. Ethan ficou rígido, os músculos tensionando visivelmente sob o casaco. Seus olhos brilharam com um fulgor estranho, quase animalesco, por um instante fugaz. Ele agarrou o braço dela com firmeza controlada, mas Sophia se soltou com um puxão preciso, mantendo a distância.
"O que foi isso?" perguntou ela, a voz ainda firme, embora seu instinto gritasse perigo.
"Algo que você não está preparada para enfrentar," murmurou ele, olhando para as sombras que pareciam se mover ao fundo do beco. Figuras indistintas surgiam na penumbra, olhos refletindo a lua como predadores noturnos. "Corra, Sophia. Ou descubra segredos que podem te destruir."
Ela hesitou por um segundo, avaliando — não por medo, mas por estratégia. O envelope ainda na mão, ela recuou um passo, mas o uivo se repetiu, mais perto, acompanhado por um rosnado que soava inumano. O que quer que estivesse vindo, não era uma ameaça comum. E Ethan... ele parecia saber exatamente o que era.