Já haviam se passado alguns dias desde o jantar tenso na casa dos pais de Caio. O assunto não voltou à tona entre nós desde então, o que me pareceu um alívio mútuo. As palavras ditas ali — e principalmente as não ditas — ainda pairavam no ar como um eco, mas escolher deixá-las repousar foi nossa forma silenciosa de seguir em frente.
Naquela noite, depois do expediente, fui até a casa das minhas tias para encontrar Lana. Ela tinha prometido me ajudar com os detalhes do chá de panela que estava organizando — embora, tecnicamente, ela insistisse em chamar de “chá de lingerie”. Segundo Lana, “chá de panela” era coisa do século passado.
Quando cheguei, a casa estava com aquele cheiro inconfundível de bolo no forno e lavanda — mistura típica do lugar onde cresci.
— Lara! — exclamou tia Noemi ao abrir a porta. — Estávamos só falando de você.
— Oi, tia. — Sorri, abraçando-a. — Que saudade.
Tia Sônia apareceu em seguida, enxugando as mãos num pano de prato florido.
— Vai querer bolo? Fiz de ba