Acordei com o som do chuveiro desligando. Ainda era cedo — tão cedo que o céu pela janela do loft parecia indeciso entre azul e cinza. Me espreguicei no colchão duro, sentindo o peso da semana nos ombros. A torneira da cozinha começou a gotejar em algum momento e, por algum motivo, isso me irritou mais do que deveria.
Me vesti devagar, prendi o cabelo em um coque mal feito e fui até a cozinha. Caio já estava lá, encostado no balcão com uma caneca de café preto na mão. Descalço, cabelo molhado, camiseta cinza simples e aquela expressão de quem está acordado há horas — e bem-humorado com isso.
— Bom dia — murmurei, abrindo o armário para pegar um copo.
— Bom dia — ele respondeu, sem tirar os olhos de mim.
Enchi um copo d’água. Bebi inteiro. Ele continuava ali. Silencioso, atento. O café cheirava forte. O silêncio entre nós também.
Peguei um pedaço de pão da cesta que tínhamos deixado em cima da bancada. Era o último.
— Você quer? — perguntei, já mordendo a borda.
El