O silêncio da noite era cortado apenas pelo crepitar da lareira no quarto. A sede da matilha estava imersa na escuridão, mas ali dentro, entre aquelas paredes de pedra fria, Serena sentia um calor inquietante crescendo dentro de si.Sentada na beirada da cama, observava Dominic próximo à janela. Ele parecia perdido em pensamentos, os olhos prateados refletindo a luz bruxuleante do fogo. Havia uma tensão em seus ombros largos, um peso que ele tentava esconder dela, mas que Serena percebia com clareza.— Você tem estado diferente — Ela comentou, cruzando os braços.Dominic demorou um momento para responder.— Muita coisa na cabeça — Dominic disse simplista.Serena arqueou uma sobrancelha.— Isso é óbvio. O que não é óbvio é o motivo.Ele desviou o olhar para ela, analisando-a em silêncio.A verdade pulsava dentro de Dominic. Ele sabia que havia um traidor dentro da matilha, alguém repassando informações para os inimigos. Cada movimento que fazia precisava ser calculado, cada decisão tom
O tempo parecia ter desacelerado na sede da matilha. Após semanas de tensão, Serena notou uma mudança sutil na rotina de Dominic. Embora ele ainda estivesse atento a qualquer movimentação suspeita, a inquietação que antes endurecia sua postura agora parecia mais controlada, como se ele tivesse conseguido, ao menos temporariamente, equilibrar o peso sobre seus ombros.Os dias passaram com uma cadência quase pacífica. Serena se acostumava, aos poucos, à nova dinâmica de sua vida dentro da matilha. Pela manhã, tomava café da manhã ao lado de Seth e Jeremy, que nunca perdiam a oportunidade de provocá-la sobre sua relação com Dominic.— Dormir no quarto do alfa não te dá certos privilégios? — Jeremy brincou em um tom sugestivo.Serena, que levava uma xícara de café aos lábios, arqueou uma sobrancelha antes de responder:— Claro. Agora posso pegar qualquer livro da biblioteca sem precisar pedir.Seth caiu na risada, enquanto Jeremy revirava os olhos.— Não foi exatamente isso que quis dizer
O Sol mal havia rompido o véu da madrugada quando Serena acordou com um incômodo no peito. Não era físico — era aquela velha sensação de estar sendo observada, como se os olhos do destino estivessem voltados para ela, sussurrando que algo se aproximava.Ela se sentou devagar, esfregando os olhos e inspirando profundamente o ar frio que entrava pela janela entreaberta. Dominic ainda não havia retornado.O lado da cama dele estava frio.Serena se vestiu em silêncio. Um suéter grosso, calças confortáveis e botas. O castelo estava quieto, exceto pelo ocasional rangido da madeira sob seus pés. Ao chegar à cozinha, encontrou apenas Cristopher, encostado no balcão com uma caneca de chá nas mãos e uma expressão pensativa no rosto.— Bom dia — Ela cumprimentou, tentando soar mais animada do que se sentia.Ele ergueu o olhar, assentindo.— Bom dia, Serena. Dominic ainda está fora — Comentou, como se adivinhasse a pergunta não feita.Serena serviu-se de café e sentou à mesa.— Seth e Jeremy fala
As sombras se moviam sob a luz das velas. Tecidos esvoaçantes, risadas abafadas e o som ritmado dos sapatos contra o chão de mármore enchiam o grande salão. A sede da matilha nunca estivera tão viva – ou tão perigosamente quieta sob a falsa euforia do evento.Dominic observava tudo de um ponto estratégico, encostado em uma das colunas centrais. Seu olhar varria a multidão, avaliando os movimentos, os olhares trocados, os gestos que se prolongavam além do necessário. Cada convidado estava mascarado, tornando qualquer reconhecimento imediato impossível – exceto para aqueles cujos corpos e presenças ele já conhecia de cor.Incluindo a de Serena.Ela estava radiante, vestindo um vestido preto com detalhes prateados, o tecido delicado como um véu de luar, cobrindo-a até os pés, mas fluindo ao menor movimento. A máscara que usava era um misto de mistério e encanto, adornada com pequenos cristais que refletiam a luz da festa. Seus cabelos foram trançados parcialmente, deixando fios soltos mol
A escuridão tinha peso.Serena sentia isso no ar estagnado ao seu redor, no silêncio denso que fazia seu coração martelar contra as costelas, no frio que parecia emanar das paredes de pedra. Não sabia quanto tempo havia passado desde o baile — ou desde o momento em que seu corpo cedeu ao efeito daquela erva maldita que agora fazia sentido. Noctis Amara. Esse era o nome que Phill havia sussurrado casualmente dias antes em uma conversa com Cristopher, como quem falava de algo raro e inofensivo. Agora, ela entendia: aquela planta era um veneno disfarçado de remédio, e Phill, o curandeiro em quem todos confiavam, era um traidor.Seus pulsos estavam presos por correntes frias e grossas, fixadas à parede atrás de si. A pedra irregular mordia suas costas, e seus tornozelos também estavam amarrados, impedindo qualquer movimento brusco. Uma dor insistente latejava em sua cabeça — resquício da substância que havia a derrubado como se fosse frágil. Indefesa. Uma palavra que ela odiava, mas que a
A raiva tinha gosto de ferro.Dominic sentia o gosto metálico na boca desde que acordara em meio aos cacos da própria festa. Seus sentidos estavam turvos, o corpo pesado, os batimentos acelerados como se estivesse voltando de uma transformação forçada. A substância ainda circulava por suas veias, retardando sua percepção, mas ele já sabia. Sabia antes mesmo de Seth tropeçar até ele, a boca suja de sangue, os olhos confusos.Serena não estava mais no castelo.E alguém tinha mentido para ele.— DESGRAÇADOS, EU MATO VOCÊS! — O rugido de Dominic ecoou pelas paredes de pedra da antiga fortaleza, fazendo dois lobos próximos se encolherem.Ele esmagou uma taça em uma das mãos, os cacos se cravando nos dedos, mas ele não sentiu dor. O curandeiro da matilha havia usado uma planta extinta para dopá-los — e o pior: Dominic lembrava perfeitamente da conversa em que Phill mencionara a Noctis Amara como um composto antigo e instável. Ele confiara, como todos.Agora Phill estava desaparecido. Leah t
A escuridão envolvia Serena como um manto sufocante. Seus pulsos estavam marcados pelas amarras que a prendiam a uma estrutura de pedra úmida, enraizada no chão de uma câmara ancestral. O cheiro de terra molhada, musgo e sangue impregnava o ar — a essência do templo oculto dos D’Argent.Ela não sabia exatamente onde estava, mas já entendia que não era um local comum. Aquela caverna cravada nas entranhas das Montanhas Negras carregava séculos de energia antiga, poderosa e doentia. Ali, o tempo parecia dobrar, e os sussurros dos mortos eram tão altos quanto as respirações dos vivos.Vincent surgira horas antes, os olhos negros ofuscando a luz fraca das tochas. Trazia nas mãos um grimório de couro escuro e nas palavras, a arrogância de quem acreditava estar no controle.— A Lua escolheu você, Serena — Ele dissera, a voz macia como veneno diluído. — E eu escolhi a Lua.Serena se debatia, mas as correntes estavam entalhadas com runas. Símbolos primordiais que drenavam sua energia, impossib
A escuridão da floresta era densa e opressiva, com o luar mal penetrando através das copas das árvores centenárias. Serena cambaleava entre as raízes retorcidas e arbustos espinhosos, cada passo uma luta contra a exaustão que pesava em seus membros. Seus pulsos ainda ardiam das amarras que os haviam prendido durante o ritual interrompido, e sua mente estava enevoada pela dor e pelo medo. Vincent a puxava pelo braço, seu aperto firme, mas impaciente, enquanto a guiava por um labirinto de vegetação densa.— Precisamos continuar — Sussurrou Vincent, seus olhos constantemente vasculhando a escuridão ao redor. — Lucian não desistirá tão facilmente.Serena não respondeu. Sua respiração era irregular, e cada inspiração parecia um esforço monumental. Ela sabia que não podia confiar em Vincent, mas, naquele momento, ele era sua única chance de sobrevivência. O ritual que ele tentara realizar a deixara debilitada, sua conexão com sua própria essência lupina enfraquecida e instável.Eles avanç