O quarto branco do hospital não tinha cheiro de flores nem de esperança. O ar parecia estagnado, impregnado de desinfetante e de um silêncio pesado, denso — como se até as paredes esperassem que algo explodisse a qualquer momento.
Ana dormia sob o efeito dos analgésicos, com a cabeça virada levemente para o lado, os cachos amassados sobre o travesseiro e uma expressão de dor contida entre as sobrancelhas. O corpo parecia pequeno demais naquela cama larga, coberta por lençóis impessoais. Havia uma mancha escura se formando no lado esquerdo da camisola hospitalar, onde as costelas haviam sido atingidas. E mesmo ali, imóvel, ela mantinha a mão repousada sobre o ventre. Instintiva. Protetora. Sentado ao lado, com os ombros curvados para frente e as mãos entrelaçadas, Kenji Yamamoto parecia uma escultura. Um homem talhado em mármore, prestes a rachar. A respiração dele era lenta. Controlada. O maxilar travado, os olhos cravad