Marina
O cheiro do café fresco ainda pairava no ar, mas não tinha gosto. Tudo naquele apartamento parecia limpo demais, ensaiado demais. Eu estava sentada à beira do sofá, o diário no colo, os olhos fixos em Sofia, que andava de um lado para o outro como se as palavras estivessem espalhadas pelo chão e ela pudesse tropeçar nelas.
Ela parou de andar.
— Eu não queria que fosse assim — disse, enfim. — Juro por Deus, Marina, eu nunca quis te machucar.
— Mas machucou — respondi, sem elevar a voz, o que pareceu doer mais nela do que qualquer grito.
Ela se sentou à minha frente. Os olhos estavam vermelhos, e as mãos tremiam no colo.
— Quando você voltou… depois do acidente… você estava tão perdida. E eu também. Eu olhava pra você, e só via minha melhor amiga despedaçada. A gente achava que você não ia sobreviver. E aí você voltou. Mas sem lembrança. Sem dor. Parecia… em paz. Pela primeira vez em muito tempo.
— Eu não estava em paz, Sofia — sussurrei. — Eu estava anestesiada.
Ela mordeu o láb