As manhãs começavam antes da luz tocar as janelas. Clarice já estava de pé quando os primeiros uivos ecoavam na floresta distante, sinal de que os guerreiros voltavam dos turnos noturnos.
Ela mergulhava as mãos na água fria do poço, esfregava as caldeiras de ferro até os dedos doerem. O cheiro de fumaça e gordura impregnava seus cabelos, e seus pés, sempre descalços, pisavam na pedra gelada da cozinha principal.
“Mais um dia, só mais um.” — repetia para si mesma.
Mirna entrou, como sempre, bufando e reclamando.
— Clarice, essa sopa está salgada. De novo. Ou você é burra ou preguiçosa.
— Desculpe, eu—
— Nem responda! Que tipo de ômega é você? Ficar calada era o único talento que tinha, nem isso mais consegue?
Clarice apenas abaixou a cabeça.
A vontade de responder queimava em sua garganta como fel. Mas sabia: palavras cobravam preço alto.
Saphira, com seus cabelos dourados presos num coque apertado, riu debochada.
— É que ela acha que é especial. Já viu o rostinho dela? Parece que saiu