O som da água correndo era o primeiro sussurro do mundo quando Clarice abriu os olhos. A luz não era deste plano. O céu tinha tons dourados e lilases impossíveis. As árvores à margem do rio dançavam com folhas prateadas, como se o tempo ali respirasse devagar.
Sentada na relva úmida, com os pés descalços tocando o espelho cristalino do rio, estava Ela.
A Deusa da Lua.
Seu vestido era feito da própria noite e seus olhos, poços antigos de saudade e sabedoria. Clarice hesitou antes de falar.
— Eu... eu morri?
A Deusa riu. Uma risada leve, melodiosa, como o som de sinos distantes.
— Oh, não, minha filha. Está apenas... tomando sol comigo. Enquanto esperamos seu companheiro perceber a falta que você faz.
Clarice sorriu de leve. A ironia da Deusa era doce. Mas o calor no peito não era riso — era pergunta.
— O que estou fazendo aqui, então?
A Deusa deixou a mão deslizar pela superfície da água, formando círculos de luz.
— O que corre em seu corpo... é sangue de cobra.
Clarice franziu o cenho