Capítulo 101

O som da água correndo era o primeiro sussurro do mundo quando Clarice abriu os olhos. A luz não era deste plano. O céu tinha tons dourados e lilases impossíveis. As árvores à margem do rio dançavam com folhas prateadas, como se o tempo ali respirasse devagar.

Sentada na relva úmida, com os pés descalços tocando o espelho cristalino do rio, estava Ela.

A Deusa da Lua.

Seu vestido era feito da própria noite e seus olhos, poços antigos de saudade e sabedoria. Clarice hesitou antes de falar.

— Eu... eu morri?

A Deusa riu. Uma risada leve, melodiosa, como o som de sinos distantes.

— Oh, não, minha filha. Está apenas... tomando sol comigo. Enquanto esperamos seu companheiro perceber a falta que você faz.

Clarice sorriu de leve. A ironia da Deusa era doce. Mas o calor no peito não era riso — era pergunta.

— O que estou fazendo aqui, então?

A Deusa deixou a mão deslizar pela superfície da água, formando círculos de luz.

— O que corre em seu corpo... é sangue de cobra.

Clarice franziu o cenho
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