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capítulo 5 - Fome E Fogo

A luz tênue que filtrava pela pequena fresta da janela mal tocava o chão de pedra polida. Eu havia perdido a noção do tempo. Horas? Dias? Não importava. Estava presa naquele quarto luxuoso demais para ser uma cela, mas restrito o suficiente para parecer uma prisão.

As portas permaneciam trancadas. Sem trancas visíveis, sem maçanetas por dentro. Apenas a certeza de que, por mais que tentasse, não sairia dali por vontade própria.

O colar ainda pendia sobre meu peito, morno agora, como se adormecido.

Sentei-me novamente sobre a enorme cama de dossel, tentando não pensar nele.

Damon.

A lembrança de seu olhar cravou-se em mim como uma lâmina quente. Aquela aura de comando absoluto, o modo como me fitava... como se já soubesse o que eu tentava esconder até de mim mesma.

Tentei apagar seu rosto da minha mente. Mas era inútil.

Minutos depois — ou talvez uma eternidade — a porta se abriu com um estalo suave.

Meus olhos voaram na direção do som.

Ele entrou com passos silenciosos, vestindo roupas escuras que realçavam ainda mais seus traços aristocráticos. Em uma das mãos, uma bandeja. Na outra, uma garrafa de vinho.

— Achei que já estaria batendo na porta — disse com um sorriso enviesado, como se estivesse se divertindo com a minha frustração.

Revirei os olhos, mas não disse nada.

Ele se aproximou com calma, pousando a bandeja sobre uma pequena mesa redonda próxima à janela. Carnes fumegantes, frutas frescas, queijos envelhecidos. A comida parecia ter saído de um banquete real.

Meu estômago roncou, traidor.

— Achei que pudesse estar com fome — disse ele, e seus olhos escuros pousaram nos meus com uma intensidade desconcertante. — Você tem resistido bem.

— Resistido ao quê, exatamente? — retruquei, mantendo a voz firme.

Ele se aproximou, cada passo ecoando como uma provocação.

— Ao que realmente quer.

— Você está enganado — rosnei.

— Não estou — ele sussurrou, já perto demais. — Sabe por que? Porque eu também sinto.

Seu olhar desceu para minha boca, lenta e deliberadamente. E por um segundo, juro que esqueci de respirar.

— Você me sequestrou — rebati, tentando recuperar a razão. — Não confunda fome com atração.

Ele riu, baixo, rouco.

— A fome também tem seus desejos, Elara. Desejos que você ainda não reconheceu... mas vai.

Ele se afastou como se não tivesse acabado de me deixar em chamas, puxando uma das cadeiras e sentando-se casualmente.

— Coma — disse apenas.

— E se eu não quiser?

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Vai preferir fraquejar? Isso só me daria motivos pra fazer... outras escolhas.

— Ameaças agora?

— Apenas lógica — respondeu. — Você precisa de força, Elara. Vai precisar dela. E, bem... — ele olhou para a taça que acabava de servir com vinho escuro — ...não sou tão cruel a ponto de deixar você desmaiar de fome.

Fiquei olhando pra ele por um instante. Damon Valtor era um enigma. E, pior, um enigma tentador. Como alguém podia ser assim? Perigoso e... hipnotizante.

Aproximei-me da mesa devagar, sentando na cadeira oposta. O aroma da comida invadiu meus sentidos.

— Por que tudo isso? — perguntei, encarando a carne à minha frente.

— Porque quero que esteja inteira. E porque... — seus olhos cravaram nos meus — ...quero ver até onde vai sua resistência.

Peguei o talher com um leve tremor nas mãos, e comecei a comer.

Ele apenas observava.

A cada mordida, sentia seus olhos queimando em mim. Mas era mais que um olhar. Era... uma presença. Uma força invisível que me envolvia e pressionava, como se estivéssemos presos num jogo que eu não tinha aprendido a jogar.

— Você me observa como se eu fosse um experimento.

— Não — respondeu, cruzando as pernas com calma. — Como alguém que finalmente encontrou o que procurava. E que está curioso para ver no que isso vai se transformar.

— Eu não sou sua posse.

— Não. — Sua voz foi um sussurro. — Você é algo muito mais raro.

Silêncio.

Por alguns segundos, só o som dos talheres preencheu o ambiente.

— Me diga uma coisa — murmurei, recostando na cadeira. — Você sempre age assim com... prisioneiras?

— Nunca tive uma antes.

— Então o que eu sou?

— A exceção — respondeu. E havia algo de verdadeiro demais na forma como disse aquilo.

Não consegui evitar o arrepio.

Ele se levantou.

— Terminou?

Assenti.

Ele recolheu a bandeja, com movimentos suaves.

— Descanse. Vai precisar de energia.

— Pra quê?

Ele sorriu.

— Para quando resolver parar de lutar contra si mesma.

E saiu, fechando a porta atrás de si sem fazer barulho.

Fiquei ali, sozinha outra vez. Mas o calor de sua presença ainda pairava no ar.

E, pela primeira vez, temi o que estava sentindo.

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