Obra completa. Sahira é uma gata da terra de Bast, um oásis no deserto, povoado por gatos. Sendo uma gata negra, ela é dotada de magia e está em treinamento para se tornar uma maga. Um dia tigres e leões invadem sua casa em nome de um rei ligre tirano, e Sahira precisa fugir junto com uma leoa branca para encontrar um leão que pode livrar Bast dos conquistadores. Capa por @R_F_Herondale
Leer másO deserto era um enorme mar de areia, imerso em um silêncio quase tão forte quanto o calor do sol da tarde, quebrado apenas pelo soar ocasional do vento.
O pelo cinza listrado de Heru era quase um farol no meio da areia clara, mas ele mantinha-se encolhido na sombra de um cacto, sem saber que havia alguém às suas costas. A jovem gata preparou o bote, a cauda agitada, os músculos retesados e balançando os ombros, e pulou. Heru miou de susto e os dois rolaram pelo chão.
-- Sahira, saia de cima de mim! – o pequeno macho exclamou e se debateu, mal humorado. A gatinha de pelos negros se afastou sorridente.
-- Você está chateado porque eu ganhei. Tocaiei você, e nem percebeu. Sou a melhor caçadora do mundo!
-- Mas você atacou por trás.
-- Um caçador ataca de qualquer lado. Foi você que não me ouviu chegando.
Heru pulou na amiga e de novo os dois rolaram na areia, trocando mordidas e golpes fraquinhos de filhote, e mais uma vez terminou com Sahira por cima.
-- Ganhei de novo. Sou a melhor lutadora também.
-- Crianças, parem com isso – Aton, pai de Heru, se aproximou. Tinha o mesmo pelo cinza com listras pretas, mas os olhos eram igualmente azuis, enquanto os do filho eram um amarelo e um azul.
Ele era um caçador do deserto, sabia encontrar presas até mesmo enterradas na areia, e ensinava tudo que sabia a Heru, que tinha vontade de aprender tudo sobre a terra onde viviam.
-- Só estávamos brincando de esconde-esconde, pai.
-- E de luta também, não é? – o gato adulto riu – Sahira, sua mãe está te chamando.
A gata imediatamente ficou de pé e se dirigiu para casa.
-- Tchau, Heru, agora tenho aula para ser a melhor feiticeira também.
Correu para a toca de sua família, no interior de uma grande rocha. Seu irmão Sef esperava sua chegada ao lado da mãe, Femi, que não estava nada satisfeita. Sahira se encolheu, sabendo que aquele olhar significava carão, e se explicou:
-- Eu estava brincando com o Heru e perdi a noção da hora...
-- Não pode ser boa feiticeira se não consegue nem chegar na hora da aula.
-- Desculpe, mamãe.
Os três tinham pelagem negra como a noite. Somente gatos com essa cor eram capazes de usar magia, por isso a família era uma das mais importantes da região, e gerava magos de grande habilidade há várias gerações.
Femi era a feiticeira chefe da família, e de sua ninhada de quatro filhotes, Sahira e Sef herdaram a cor do pelo e o talento para a magia. Quase todos os dias a matriarca dava lições de feitiços aos dois.
O sol já se punha quando a aula acabou. Sahira saiu da toca quase correndo, ansiosa para fazer algo mais emocionante. Por mais que gostasse de aprender magia, a aula daquele dia se focara mais em História, e a jovem aprendiz gostava de ouvi-las na forma de lendas, não do jeito mecânico da mãe.
Do lado de fora, brincou com seus outros dois irmãos, Caleb e Roxane, ambos malhados como o pai, depois subiu a encosta que marcava o limite da terra de Bast com o vasto deserto. No alto dela, deitada numa pedra, se encontrava uma magnífica leoa, de pelos brancos como as nuvens que raramente se viam naquele céu.
Depois que a festa acabou, ao nascer do sol, Sahira levantou com o café da manhã à espera ao seu lado. -- Como está nossa pequena heroína? – Iana chegou quando ela terminava de comer. -- Muito melhor. Estou pronta para ir para casa. Um grupo de quatro leoas aguardava para levar Sahira. Sirhan também estava lá para se despedir. -- Como você vai ficar sem mim por perto para te encorajar? – a gata brincou. O leão lambeu suas costas.
Arátor correu durante horas. Quando aquelas onças invadiram Xangô e começaram uma briga com os felinos de Ekom, o jaguarundi aproveitou o caos para fugir e se distanciar o máximo possível. Desde que aceitara uma aliança com Ekom, sabia que ele não era muito confiável, mas não esperava ser traído daquela forma.Mas o próprio Arátor não pretendia trabalhar para ele para sempre de qualquer forma. Quando percebeu, chegou ao Rio Verde, e faltando ainda algum tempo para amanhecer, o felino se deitou ali mesmo e imediatamente pegou no sono. Ao nascer do
-- O quê? – Sahira balbuciou – Não, não pode ser verdade. Ela sentiu as patas tremerem como gelatina. Não acreditava, não queria acreditar que Sirhan tivesse morrido. Não conseguiu aceitar que fora incapaz de ajudar o felino que fez tanto por ela. Tudo foi inútil no final.Sahira começou a chorar. -- Ora, por que esse desespero todo? – Enzi perguntou – É só fazer outro pedido, Sahira. -- Como assim? O que se pode fazer se ele já morreu? -- Se desejar que ele
-- Tem um jeito de salvá-lo, mas preciso ir para o deserto o mais rápido possível – Sahira falava para o grupo de curandeiros – Tem alguém que possa me levar até a vila dos caracais? -- O que tem lá que possa curar o Sirhan? – Iana perguntou. Sahira, porém, fizera um juramento aos gatos do deserto. -- Não posso dizer, mas vai ajudar. Tenho certeza. A maioria dos felinos olhava para Sahira com desconfiança, achando que podia ser uma brincadeira. -- Eu posso levá-la – algu
Iana, Sahira, Sef e Kiala chegaram primeiro à margem, tentando enxergar algo no meio das águas escuras. As duas onças, Anami e Acir, entraram no rio para procurar, mas antes que estivessem com a água na altura do queixo, Sirhan reapareceu. O coração de Sahira ficou mais leve ao vê-lo emergir e voltar para a margem, ofegante e sangrando. -- Você está bem, Sirhan?! – Iana correu para perto dele com Sahira em seus calcanhares. -- Onde está o Ekom? – alguém lá atrás perguntou. Mais onças foram para a água e nadaram pelos arredores.
Os outros felinos mal tiveram tempo de se entreolhar, perplexos, antes que o ligre continuasse: -- Aceitarei minha derrota, mas não renuncio o trono. Ele é meu direito de nascença. Imediatamente os felinos leais a Sirhan protestaram, mas aqueles do lado de Ekom responderam: -- Sua majestade descende do rei. -- Sirhan é mais velho – Kiala retrucou. -- Um bastardo não tem direitos reais, não interessa a idade – um tigre rosnou
Último capítulo