A luz tênue que filtrava pela pequena fresta da janela mal tocava o chão de pedra polida. Eu havia perdido a noção do tempo. Horas? Dias? Não importava. Estava presa naquele quarto luxuoso demais para ser uma cela, mas restrito o suficiente para parecer uma prisão.As portas permaneciam trancadas. Sem trancas visíveis, sem maçanetas por dentro. Apenas a certeza de que, por mais que tentasse, não sairia dali por vontade própria.O colar ainda pendia sobre meu peito, morno agora, como se adormecido.Sentei-me novamente sobre a enorme cama de dossel, tentando não pensar nele.Damon.A lembrança de seu olhar cravou-se em mim como uma lâmina quente. Aquela aura de comando absoluto, o modo como me fitava... como se já soubesse o que eu tentava esconder até de mim mesma.Tentei apagar seu rosto da minha mente. Mas era inútil.Minutos depois — ou talvez uma eternidade — a porta se abriu com um estalo suave.Meus olhos voaram na direção do som.Ele entrou com passos silenciosos, vestindo roupa
A maçaneta girou devagar, rompendo o silêncio espesso do quarto. Me encolhi no canto da cama, mas logo vi que era apenas Damon — outra vez. Sem anunciar-se, entrou com a mesma segurança de sempre, como se aquele lugar fosse todo seu. E talvez fosse mesmo. Com passos firmes, caminhou até uma mesa ao lado da janela e colocou uma bandeja prateada sobre ela.— Achei que poderia estar com fome. — disse ele, como se me conhecesse.Não respondi. Meus olhos correram por sua silhueta alta, pela camisa negra justa que moldava seus ombros largos, pelo cabelo escuro preso com descuido na nuca. Não que eu estivesse admirando, claro. Era só... observação.Ele se virou em minha direção com um pequeno sorriso, como se soubesse exatamente o que eu pensava — e odiava que talvez soubesse mesmo.— Estava esperando gritos, tapas ou pelo menos um olhar de ódio. Mas tudo o que recebo é silêncio? Está me decepcionando, Elara.Cruzei os braços, sem me mover.— Não tem nada pra te dizer, Damon. Nem agora, nem
A noite já avançava, e o jantar parecia se estender mais do que deveria. Ainda assim, havia algo viciante naquela tensão silenciosa que crescia entre nós. Damon estava à minha frente, sentado com um porte arrogante e ao mesmo tempo devastador. Os olhos dele seguiam cada movimento meu com uma atenção que queimava.Eu empurrei a comida no prato, fingindo interesse. Não era fome que me dominava. Era algo mais... inquietante. O olhar dele fazia minha pele formigar como se eu estivesse sendo tocada sem que um único dedo encostasse em mim.— Você realmente não gostou do vestido? — ele perguntou de repente, com aquele tom suave e carregado de intenções que parecia sussurrar diretamente na minha pele.— Nem experimentei. — Cruzei os braços, desafiando. — Achei desnecessário.Os cantos da boca dele se curvaram levemente, como se achasse graça da minha rebeldia. Damon tinha esse jeito irritante de parecer sempre no controle, como se já soubesse cada resposta minha antes mesmo que eu dissesse qu
Meus pés mal tocavam o chão enquanto eu corria. O vestido se prendia entre as pernas, os galhos arranhavam meus braços e rosto, mas nada me fazia parar. Eu precisava sair dali. Precisava fugir daquela sensação sufocante que Damon deixava para trás como uma marca invisível. Uma maldita tatuagem que queimava sob a pele.A floresta se fechava ao meu redor, densa, escura, com o cheiro de terra molhada e folhas apodrecendo. O frio da noite se misturava ao calor que ainda vibrava no meu corpo, uma herança daquele quase beijo. Do toque dele. Do olhar.Eu devia odiá-lo. Devia estar amaldiçoando cada passo que ele deu em minha direção. Mas tudo o que sentia era um turbilhão enlouquecedor. Medo. Desejo. Raiva. Tensão. Um caos que não fazia sentido.Achei que, ao entrar naquela floresta, teria alguma chance. Que ele não ousaria me seguir. Mas a verdade é que eu o subestimei.— Está fugindo de mim, Elara?A voz dele ecoou atrás de mim como um trovão abafado. Parei de correr, mas não me virei. Fec
As últimas batidas do meu coração ainda ecoavam dentro do meu peito. Meus lábios ainda ardiam pelo beijo que havíamos compartilhado, tão proibido quanto inevitável. Damon estava diante de mim, e por um momento, nada mais existia. A floresta em volta se calou, como se até ela tivesse medo de interromper aquele instante.Mas o silêncio não durou muito.— Isso... isso não deveria ter acontecido — murmurei, recuando um passo. Minhas pernas ainda estavam trêmulas, e eu não sabia se era pelo beijo ou pelo homem à minha frente.Ele deu um meio sorriso, aquele que me tirava o ar.— Mas aconteceu, Elara. E você correspondeu.Engoli em seco, sem saber como negar aquilo. Porque ele estava certo. Eu tinha correspondido. Cada centímetro do meu corpo havia gritado por ele.— Você é um vampiro... Eu sou humana. Isso é errado.— Errado para quem?— Para todos! — rebati, a voz mais alta do que pretendia. — Para mim, para você, para qualquer um. Não tem como isso dar certo. Não existe um "nós".Ele se
Acordei assustada, como se um vento gélido tivesse passado direto por dentro de mim. Meus olhos se abriram num sobressalto, e levei alguns segundos para entender onde estava. As cortinas pesadas ainda bloqueavam a luz da madrugada, mergulhando o quarto em penumbra. Meus sentidos estavam confusos, o coração acelerado batendo contra as costelas. E então me lembrei. O quarto. As portas trancadas. Damon. Sentei-me devagar, sentindo os lençóis grossos e macios contra minha pele. A lareira crepitava baixo, emitindo apenas calor o suficiente para espantar o frio da madrugada, mas não o suficiente para aquecer meu peito. Foi aí que senti. A presença. Densa. Silenciosa. Havia alguém ali. Virei o rosto lentamente. E então o vi. No canto mais escuro do quarto, onde a luz da lareira não alcançava, ele estava de pé, como uma estátua feita de trevas. Os olhos vermelhos como brasa ardiam no escuro. Damon. — O que está fazendo aí? — minha voz saiu baixa, trêmula, entre a indignação e o med
O quarto estava mergulhado em penumbra quando abri os olhos. O silêncio era denso, cortado apenas pela brisa suave que entrava pelas frestas da janela. Minha atenção foi capturada por algo sobre a cadeira próxima à cama: um vestido. Um vestido justo, de um vermelho tão profundo que mais parecia vinho recém-derramado. Ao lado, cuidadosamente dobrada, uma pequena carta repousava.Meus dedos hesitaram antes de tocá-la. O papel era firme, com a caligrafia perfeita que eu já reconhecia como dele."Vista. Espero você lá embaixo. – Damon."Um arrepio percorreu minha espinha. Não havia mais nenhuma instrução, só aquela ordem suave, insinuante. Ele queria me ver com aquilo... queria me provocar? Ou... me testar?Minha primeira reação foi deixar o vestido ali mesmo e continuar com o que estava vestindo. Mas algo dentro de mim – talvez o resquício do orgulho ferido, ou a curiosidade perigosa que Damon despertava – me fez mudar de ideia. Ele queria um jogo? Eu jogaria também. Mesmo com o medo ain
O silêncio que ficou após a saída de Ravik parecia ainda mais pesado que sua presença. Damon estava de pé, de costas para mim, os punhos cerrados ao lado do corpo, como se lutasse contra algo dentro de si. Eu deveria estar com medo. E estava. Mas também havia algo mais... algo quente, rastejando por debaixo da pele, como se meu corpo estivesse sintonizado com o dele, apesar da minha mente gritar por distância.— Ele queria me matar, não é? — minha voz saiu baixa, quase um sussurro.Damon se virou lentamente, os olhos vermelhos como brasas em brasa. Seus passos ecoaram pelo salão de pedra até que ele parou diante de mim, sem tocar, mas perto o suficiente para que eu sentisse o calor que emanava dele.— Provavelmente — respondeu, sem rodeios. — Ravik não perdoa falhas. Nem surpresas.— E eu sou o quê? Uma falha ou uma surpresa?Os olhos dele caíram nos meus lábios, depois subiram devagar até meus olhos. Ele sorriu de canto. Um sorriso perigoso.— Você é uma tentação. E isso... é bem pio