8

— O que aconteceu?

— Acho que você ficou tão emocionada por estar ao meu lado que acabou caindo do cavalo. — Ele brinca, mas seu semblante é sério.

Olhando para ele agora, vejo o quanto parece cansado. Seus cabelos negros estão bagunçados e desgrenhados, manchas escuras envolvem seus olhos. Sua camisa tem os três primeiros botões abertos, revelando parte do peito musculoso, e uma mancha de sangue seco estraga o branco do tecido.

Kain enche um copo de água para mim. Precisei beber uns quatro copos para saciar a sede. Pego sua mão e aperto suavemente.

— Achei que... — ele desvia o olhar, engolindo as palavras. — Achei que você não voltaria.

— Em três dias você passou a se importar tanto assim com a minha existência?

— Bom... no caso, seis dias e meio. Você passou três dias dormindo.

— O quê? — pergunto, quase engasgando com o último gole d'água.

Ele dá um sorriso torto, mas não há humor em seus olhos.

— Depois que caiu, te trouxe para Cerne. Você me deixou apavorado. Pedi para um guarda chamar sua avó. Você teve febre alta, convulsões, delírios... Achei que te perderia de vez — ele pausa, olhando para mim com um meio sorriso — principalmente quando você acordou e disse que eu era irritantemente lindo.

Sinto um frio subir pela espinha.

— Eu realmente disse isso?

— Com todas as letras. — Ele ri, enfim, e a tensão em seu rosto suaviza por um breve instante. — E, honestamente, foi um dos melhores elogios que já recebi.

Levo as mãos ao rosto, sentindo o calor da vergonha tomar conta.

— Ótimo... delírios e cantadas ruins. Perfeito.

— Bem, poderia ter sido pior. Você podia me pedir em casamento. — Ele levanta uma sobrancelha, claramente se divertindo.

— Espero que eu não tenha sugerido isso.

Fecho os olhos por um instante, tentando recuperar alguma lembrança, qualquer coisa além daquela confusão onírica de fogo, olhos lilases inundou minha mente.

— Selene... — murmuro.

Kain franze a testa. — O que disse?

Abro os olhos lentamente, fixando o olhar no teto.

— Eu a vi. Uma criança. Ela corria atrás de uma borboleta. Tinha olhos lilases... E havia uma mulher... a mãe dela, talvez.

Kain se aproxima, puxando uma cadeira para sentar ao meu lado. A expressão dele muda, ficando mais fechada, mais contida.

— Você se lembra de Selene? — pergunta com cuidado.

— Eu não sei se lembro. Eu a vi... senti que conhecia. Como se ela fosse parte de mim.

Kain passa a mão pelos cabelos, inquieto.

— Isso confirma o que sua avó temia. Sua memória está voltando. — Bom, esse é um assunto que conversamos quando ela estiver aqui.

Não falo nada.

Eu que caí e bati a cabeça, e ele é quem está delirando? Nunca perdi a memória. Lembro muito bem que, antes de cair, ele estava me contando sobre minha avó ser temida em Vargan — outra coisa que nem faz sentido. E ainda quero saber sobre o olho roxo de Edmundo.Aquele cara deve ter irritado muito o príncipe para levar uma surra.

 O cara apareceu na minha vida em uma semana e já virou tudo de ponta-cabeça. Algo me diz que tem muita coisa por trás disso...

Minha barriga ronca alto, quebrando a tensão do momento. Eu, honestamente, mataria por um pouco das sobras do ensopado de raposa.

Kain sorri ao ouvir o som e se levanta, aliviado por um instante de normalidade.

— Eu sei que você está com fome, mas, se não for pedir muito... gostaria de tomar um banho e depois acompanhá-la no jantar. Você consegue esperar? — pergunta, com um olhar gentil.

Aceno com a cabeça, ainda deitada. Ele sorri de leve, então se vira e sai do quarto, fechando a porta atrás de si com cuidado.

Fico ali, encarando o nada até ele voltar.

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