Ainda sentia a cabeça latejando em busca de alívio. Depois que jantamos ontem, acabei dormindo quase imediatamente.
Meus ossos protestavam a cada mínimo movimento que eu fazia, então permanecia parada o máximo que podia.
Minha avó estava aqui, retirando os curativos da minha cabeça. Segundo ela, não havia nada além de uma linha branca no couro cabeludo.
Machucados profundos assim não deveriam cicatrizar em tão pouco tempo. Graças aos deuses, eu tinha como avó uma curandeira extremamente eficiente, o que me poupava de longos e dolorosos dias de recuperação. Continuava encarando-a, esperando que dissesse qualquer coisa. No entanto, permanecemos mergulhadas em silêncio. Sentia que havia algo que ela precisava me contar, e sabia que precisava esperar até que se sentisse à vontade para soltar a língua. Minha mente estava cheia de perguntas sem respostas, e eu queria que tudo aquilo fosse esclarecido. Pelos céus, não conseguiria dormir bem até encontrar essas respostas.Minha avó se sentou na cadeira que Kain ocupava nos últimos dias. Ela estalou a língua, e seus dedos finos e enrugados seguraram meu queixo, forçando-me a olhá-la.
— Preciso que você escute com atenção tudo o que tenho a dizer.
Tá legal... Eu não estava gostando nada daquilo.
Foram raras as conversas sérias que tive com ela, e sempre acabavam comigo chorando como uma criança de cinco anos.— Você gostaria de um espelho primeiro? — Ela sorriu, entregando-me um pequeno círculo dourado.
Soltei um rosnado frustrado. Não precisava me olhar no espelho para saber que estava acabada. Só o cabelo, embaraçado como um ninho de dragão, já me dava uma boa ideia do meu estado.
— Olhe, Mandy, e me diga o que você vê.
Olhei para o espelho e encontrei uma versão minha mais cansada. Meu rosto estava mais magro, as maçãs do rosto mais altas, os lábios esbranquiçados, com mais rachaduras do que uma pessoa normal deveria ter. Os olhos estavam fundos, com manchas escuras ao redor. Nem precisava comentar sobre a situação do cabelo. Em resumo, eu era um desastre.
— Então? O que viu? — vovó Sena me perguntou com entusiasmo.
Não sabia o que ela esperava que eu dissesse. Aquela era sua forma secreta de dizer que eu estava horrível?— Uma aberração — respondi.
Ela soltou um grunhido.
— Você não reparou em nada diferente?
— Não. A mesma garota de sempre, só mais magra e mais acabada — respondi, tentando devolver o espelho, mas ela empurrou minha mão com delicadeza, fazendo com que eu ficasse com o objeto.
— Seus olhos, Mandy. Estão naturais.
— O quê? Como assim? — Levei o espelho novamente ao rosto e vi os olhos lilases brilhando como o pôr do sol em um dia de verão.
— Kain... Ele viu?
— O príncipe já viu esses olhos mais vezes do que você pode imaginar. Acho que chegou a hora de você saber suas origens. Quem é Kain... e quem sou eu.
Senti o gosto de bile na boca. Pela primeira vez, sentia que, seja lá o que saísse dos lábios dela, não seria bem-vindo.
Observei os quatro cantos do quarto, iluminado pela luz gélida do lado de fora. Ainda nevava e, se eu não estivesse errada, já era entardecer.
Acabara dormindo por mais de meio dia e ainda sentia o cansaço no corpo. Tudo ali tinha o cheiro de Kain... e de ervas que, sem dúvida, haviam sido usadas para me ajudar a me recuperar