Não faço ideia para onde estou indo.
Não entendo o motivo de continuar seguindo um completo desconhecido entre a floresta.
Quebrei umas três regras que aprendemos quando criança para nossa segurança, não falar com estranhos, não aceitar nada deles e nunca deixá-los entrar em casa. Bom, essa última quem quebrou foi minha avó. Mesmo assim continuo seguindo um completo estranho sem questionar, minha cabeça está explodindo de tantas dúvidas.
Para piorar, sinto que o conheço de algum lugar.
— Pergunta. — Kain puxa a rédea de seu cavalo branco, aproximando-se de mim.
— O quê? — respondo, confusa.
— Eu não estava brincando quando disse que você deveria aprender a esconder o que pensa. — ele diz, e eu engulo em seco.
— Nem sei por onde começar... — Admito.
— Quer saber como conheço sua avó? Por que Edmundo está com o olho roxo? Ou prefere que eu te conte para onde estamos indo? — Ele ri. — Pode perguntar, Mandy. Eu não mordo.
— Bom... gostaria de saber a resposta de todas.
—— Sua avó salvou minha vida umas três vezes, que eu me lembre, quando eu era pequeno. Minha mãe confiava nela cegamente — ninguém mais podia se aproximar de mim. — Ele faz uma pausa. — Apesar de não vir aqui há dez anos, encontrei com ela algumas vezes em Vargan.
— Ela nunca me disse que conhecia Vargan... — murmuro, desconfiada.
Talvez ele tenha se confundido. Vargan é muito longe de Cerne e nenhum humano tem permissão para entrar lá. Adam Fernandez, o soberano do Norte, é dono de todas aquelas terras — território dos lobos e vampiros, que, por mais estranho que pareça, vivem em paz.
Dizem que o comandante de Vargan carrega o sangue das duas raças. Ele derrotou o antigo mestre vampiro e o alfa dos lobos, unificando os clãs sob seu comando. Foi depois disso que os ataques contra outras espécies aumentaram, iniciando uma guerra que quase exterminou tudo.Os complexos foram criados para proteger os humanos, isolando-nos do mundo mágico. Conhecemos as histórias, mas poucos viram essas criaturas de perto.
Eu vi duas vezes, antes do toque de recolher ser imposto.Uma fada e um espectro d'água.
Nunca contei para ninguém.
Nem mesmo para minha avó.
Não gostaria de saber o que os homens do rei seriam capazes de fazer se descobrirem que não só vi, mas me comuniquei com eles. Em minha defesa elas estavam em suas formas humanas.
O toque de recolher foi outra tentativa de nos manter vivos.
As criaturas mágicas tinham hábitos noturnos; durante o dia, éramos livres — ou quase — para explorar a floresta em busca de alimento, ervas e água. Mesmo assim, alguns nunca voltavam. Outros eram considerados "infectados" apenas por terem visto algo e acabavam mortos, decapitados, para "proteger" o complexo.Os homens alegavam que era o único meio seguro de impedir a contaminação
— Sua avó era muito respeitada em Vargan. Ainda é, na verdade. — ele continua, ajeitando as rédeas com uma mão e olhando o caminho à frente. — Só de ouvir o nome dela, muitos se calam.
Eu ia retrucar, dizer que ele só podia estar confundindo os fatos, quando meu cavalo começou a se agitar, cortando meu raciocínio.
Puxei as rédeas, tentando controlar o animal, mas ele ignorava meus comandos, raspando os cascos com força contra a neve. Kain desceu rapidamente do cavalo e tentou acalmar o meu, sem sucesso. O cavalo bufou, a fumaça quente saindo de suas narinas.— Calma, calma... — murmurei, tentando acalmá-lo também.
Mas foi inútil.
O cavalo disparou, galopando na direção contrária da que seguíamos.
A sela virou e eu fui lançada para o lado, batendo a cabeça com força contra algo duro.O impacto me deixou sem ar.
Meu peito arfava, lutando para se expandir. O cheiro ferroso do sangue tomou o ar ao meu redor. Alguém gritava meu nome — ou talvez fosse apenas minha mente desmoronando.A dor se espalhou por todo o meu corpo como fogo.
E então, a escuridão me engoliu.