CAP-03

A festa começava a esvaziar.

Convidados se despediam com sorrisos satisfeitos, brindes encerravam acordos silenciosos, e o salão, pouco a pouco, perdia seu brilho dourado para dar lugar a uma penumbra carregada de exaustão e intenções ocultas.

Eu me mantive perto de Paolo o máximo possível. Fingimos sorrisos, trocamos cumprimentos, agradecemos por presenças hipócritas — o ritual de sempre. que Paolo já estava acostumado mais eu não e minha energia foi sugada.

Foi quando uma das criadas se aproximou, discreta, e me entregou um pequeno envelope preto.

— Para a senhorita. Disseram que era particular.

Meus dedos hesitaram. O papel tinha cheiro de perfume masculino barato misturado com algo mais... azedo. A caligrafia era firme, elegante, mas havia uma violência contida em cada curva da letra.

Abri com cuidado.

Uma única frase.

Escrita com tinta preta, como se fosse um sussurro envenenado.

— Terei você.

Senti o chão se mover sob meus pés. Meu coração disparou como um alarme mudo.

Levantei os olhos, instintivamente.

E ele estava lá.

Arturo.

De longe. Parado próximo à escadaria do salão, meio envolto pela sombra de uma cortina. Os olhos fixos em mim. Sem pressa, sem disfarce. Um sorriso torto no canto da boca.

Segurava um copo de uísque com uma mão. Com a outra, mexia no anel da família, girando-o no dedo como quem afia uma faca.

Respirei fundo, tentando manter a compostura. Escondi o bilhete em minha luva, como se nada tivesse acontecido.

— Isa, está tudo bem? — Paolo perguntou, notando a tensão em meu corpo.

Olhei para ele. E, pela primeira vez naquela noite, menti.

— Sim. Só estou cansada.

Seus olhos buscaram os meus, desconfiados, mas ele assentiu.

E naquele momento, eu soube: não podia mostrar fraqueza.

Não ainda , Não pra ele.

Arturo desapareceu da escadaria como uma sombra que se recolhe. E mesmo com todo o brilho da festa, com todas as promessas de proteção ao meu redor, um arrepio percorreu minha espinha como um aviso.

A caçada havia começado.

E eu era a presa.

O silêncio da manhã seguinte tinha um gosto estranho.

Como se algo estivesse fora do lugar... escondido, prestes a explodir.

Paolo já estava em seu escritório particular, revendo relatórios de aliados e movimentações suspeitas da noite anterior. O rosto sério, as mangas da camisa arregaçadas, e o olhar de quem já pressentia o mal. Sempre pressentia. Ele não se tornara Dom por acaso.

Foi quando Maria — uma de suas criadas mais antigas, de confiança — bateu à porta e entrou, hesitante.

— Diga — murmurou Paolo, sem desviar o olhar dos papéis.

— Achei isso na lixeira do quarto da senhorita Isadora, senhor...

Ela estendeu o envelope preto pequeno . Ainda cheirava a perfume barato e ameaça.

Paolo ergueu os olhos. Pegou o bilhete com calma cirúrgica. Leu.

Não uma, mas três vezes.

— Terei você.

Silêncio.

Um silêncio tão denso que Maria recuou dois passos, sem saber se tinha feito certo ao entregar aquilo.

Ele se levantou devagar, como um vulcão antes da erupção.

— Quem entrou no quarto dela? Quem mais sabia disso?

— Ninguém, senhor. Ela mesma deve ter jogado fora. Mas o envelope estava escondido entre os papéis. Só vi porque fui esvaziar o cesto.

Paolo fechou os olhos por um segundo. Respirou fundo. O som do papel sendo amassado em seu punho pareceu mais alto que qualquer explosão.

— Onde ele está? — sussurrou. — Arturo.

— Ele voltou pra casa esta manhã. Teve a audácia de deixar um presente na portaria. Um colar... com uma rosa negra pendurada.

O copo de uísque na mesa foi parar na parede com um estilhaço seco.

Paolo virou-se para a janela, os punhos cerrados.

— Chega.

Sua voz agora era puro aço.

— Mande mateus investigar todos os passos de Arturo nas últimas semanas. Quero saber onde anda, com quem dorme, o que come, o que pensa. Se ele espirrar... eu quero saber antes do lenço chegar ao nariz.

Virou-se de volta, os olhos ardendo.

— E duplique a segurança da minha irmã. Sem que ela perceba.

Maria assentiu e saiu apressada.

Paolo ficou ali. Parado.

O bilhete ainda pulsando em sua mão fechada.

Não era apenas raiva. Era fúria ancestral. Era o irmão, o protetor, o Dom... despertando.

Arturo havia cruzado a linha.

E agora... seria caçado.

Ele foi sozinho.

Sem seguranças. Sem anúncio.

O carro preto deslizou até a mansão dos Salvatore como um presságio de tempestade.

Os capangas à porta sequer ousaram barrá-lo. Bastou um olhar e o único que tentou levou um tiro na cabeça .

Um Dom não pede passagem — ele toma.

Arturo estava na sala de estar, degustando seu uísque com aquele eterno ar de superioridade asquerosa. Um leve sorriso nasceu em seu rosto quando viu Paolo entrar, como se já soubesse o motivo da visita... e ainda assim achasse graça.

— Que honra, Dom Ortega... — começou ele, com falsa cortesia.

Os socos vinheram antes das palavras.

Seco. Rápido. Cirúrgico.

O som do osso quebrando se misturou ao do copo de cristal estilhaçado no chão.

Arturo caiu sobre a mesa de centro, gemendo, tentando se levantar. Mas Paolo o puxou pela gola do terno e o jogou contra a parede. O impacto fez um quadro cair.

Outro soco. Outro. Mais um.

O sangue já escorria da boca de Arturo, e mesmo assim ele ria.

Uma risada rouca, debochada, entrecortada por cusparadas vermelhas.

— Então é isso? — ele sussurrou, cuspindo no chão. — O Dom perfeito perdeu a compostura... por uma mulher? Pela sua irmãzinha?

Paolo o segurou pelo colarinho, aproximando o rosto do dele.

— Ela é minha alma. Meu sangue. E você, verme... ousou tocá-la com palavras.

Soltou-o, deixando Arturo cair de joelhos, tossindo sangue e orgulho ferido.

Paolo se afastou lentamente. Ajustou a manga da camisa. Pegou um lenço do próprio bolso e limpou o sangue da mão com a calma de quem acaba de tomar um café.

Na porta, parou.

Se virou só por um instante.

— Fique longe dela ou eu apago sua existência da terra .

Sua voz foi baixa. Mortal.

E então foi embora. Sem pressa.

Sem olhar para trás.

Arturo ainda ria. Uma risada que escondia ódio. Orgulho ferido. E uma promessa silenciosa de vingança.

Mas Paolo já sabia.

Esse jogo não terminaria ali.

A guerra silenciosa havia começado.

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