Capítulo 160
Derrick
Cheguei na clínica no limite do relógio. Os vidros já refletiam a noite e, por trás da porta de correr, as luzes tinham virado meia-luz de encerramento. A recepção estava vazia — só uma mulher guardando canetas numa caneca, computador já desligado.
Bati na porta. Nada. Bati de novo, mais forte. Ela levantou os olhos, fez sinal de “acabou”, e apontou pro relógio.
Ergui o envelope de retirada pelo vidro.
— Eu tenho uma coleta pra buscar. Hoje.
Ela aproximou-se, ainda do lado de dentro.
— Senhor, estamos fechados. Volte amanhã a partir das oito.
— Não. — Minha voz saiu baixa, seca. — Quero hoje.
— Sinto muito. Procedimento do laboratório. — Ela tentou sorrir, aquele sorriso de manual que irrita. — O setor técnico já encerrou.
Olhei em volta: corredor vazio, câmera no canto, o bip distante de alguma máquina no fundo. A corrente de raiva quis subir. Eu segurei. Toquei o coldre, respirei uma vez.
— Abre a porta.
— Senhor, eu não posso…
O