4

Quase chorei com as palavras dele. Não fui capaz de me mexer. Romeu Goz é tão misterioso que chegou ao ponto de fugir dos próprios caminhos. Estava apenas começando a sentir o peso da solidão.

Na manhã seguinte, acordei no sofá com o pescoço dolorido de tão duro que estava. Me estiquei com força e percebi que Romeu me observava, desviando o olhar logo em seguida e voltando a ler o jornal. Ele estava sem camisa. Olhei para o relógio: eram 7h30 da manhã. Fui até o closet e peguei uma camisa social azul, um terno preto e uma gravata cinza. Deixei tudo disposto em cima da cama. Abri a gaveta para pegar um de seus relógios importados. Fiquei parada em frente ao espelho e pensei: Como alguém pode ser tão rude consigo mesmo? Ele não me pareceu tão ruim assim. Eu, como mulher, preciso de mais do que brincar de casinha. Romeu, com aquele hábito de levar a mão à boca para morder os lábios, me deixou confusa. Nunca vai me enxergar como mulher. Fui boba por aceitar esse casamento. Fui infantil. Veja onde ele está… e eu aqui, prestes a...

— Está a ponto de quê, Anny? — perguntou ele por trás de mim, sussurrando com o bafo quente no meu pescoço.

Me virei, assustada, revirando os olhos. Minha respiração ficou presa. Falei baixinho:

— O que você disse, Romeu?

— Quero saber até que ponto você é capaz de chegar. Eu perguntei, então me responda.

— Não é nada. Só estava falando comigo mesma. Preciso ir para o meu quarto.

— Volte aqui, Anny. Ainda não terminei.

Romeu segurou meu braço para me impedir de sair. Parei, olhei para ele e disse:

— Não foi nada, estava apenas falando alto, só isso.

Suas mãos tocavam as minhas. Meu coração estava prestes a sair pela boca, disparado. Minha boca secou. Eu estava a ponto de abraçá-lo. Mesmo sem sentir uma paixão avassaladora, aquele sentimento era novo. Não entendia o que meu coração queria dizer.

— Vamos até a sala. Preciso te mostrar algo — disse ele.

Achei estranho. O que poderia ser? Ele não iria trabalhar?

— Não, eu sou o chefe. Esqueceu? Você pergunta demais, garota.

Revirei os olhos e o acompanhei até a sala, em silêncio, como forma de protesto. Já que, segundo ele, eu perguntava demais... Ai, meu Deus, até quando vou aguentar esse mau humor infernal?

Romeu mandou que eu me sentasse no sofá. Obedeci. Sugeriu que assistíssemos a uma série. Quando li o nome, Paixão Sem Limites, surtei: era minha favorita. Não entendi suas atitudes repentinas, nem como descobriu esse meu gosto. Ele abriu uma garrafa de gim enquanto preparava o filme. Estava ansiosa — era a primeira vez que assistiria acompanhada por um homem. Afinal, meu esposo. Para mim, foi um bom começo para uma boa relação.

A manhã estava tensa. Romeu assistia à série vidrado. Meu corpo reagia estranhamente quando ele repetiu, em voz baixa, um trecho palavra por palavra:

— “E é aí, bem nesse momento, que você percebe que tudo só acontece uma vez.” (Paixão Sem Limites)

Engoli em seco. Romeu sorriu, percebendo meu nervosismo. Olhei para ele, com os olhos vermelhos. Não entendi sua risada repentina. Por Deus, devo estar maluca, só pode... Levantei do sofá, mas ouvi sua voz rouca:

— Não se vá. Espere até a série acabar. Não me deixe aqui sozinho.

— Por que não? Você está acostumado a ficar sozinho. Olhe à sua volta: grande e espaçoso, só pra você.

— Não seja malcriada. Sente-se, por favor.

Sentei de novo, sem opções. Peguei a taça de gim sobre a mesa e bebi tudo de uma vez. Revirei os olhos, cruzei os braços e continuei assistindo. Ele riu novamente. Levantei e perguntei:

— O que você tem, hein? Essas suas risadas estão me incomodando.

— Esse trecho... achei engraçado.

— Qual trecho?

— “Quer ser o meu primeiro.”

Engoli em seco.

— O que tem ser o primeiro de alguém?

Ele não demorou a responder:

— Todos já estão com suas flores abertas e com galhos... Então, são contadas aquelas flores que ficam abertas e depois murcham.

Falou olhando nos meus olhos. Encarei firme:

— Você está enganado. Eu sou uma delas. Uma flor fechada e com galhos.

Corada, deixei ele sozinho e subi para o quarto. Aquele quarto ainda era estranho para mim. Não era meu estilo. Fazia dias que dormia lá, mas ainda parecia alheio. Abri o guarda-roupa, senti o cheiro de novo. As gavetas estavam organizadas com peças íntimas. Comecei a olhar tudo, ver o que havia ganhado do meu marido. Peguei uma roupa de dormir e me preparei para descansar. Era de manhã, mas precisava recuperar o sono mal dormido no sofá.

Era tudo tão diferente do meu apartamento, do meu quarto, da minha cama. Sentia falta do cheiro da simplicidade. Suspirei. Não conseguia dormir. Lembrei do filme, da primeira noite, do meu falso marido... Romeu foi duro comigo. Aquela série era de arrepiar. Algo que, certamente, nunca viverei. Eu, Anny, nunca tive sorte no amor.

Na manhã seguinte, acordei cedo para ir ao jornal. Romeu ainda dormia. Preparei algo nutritivo para o café da manhã: torradas com geleia e morango, acompanhadas de um cappuccino com leite. Era uma manhã friamente congelante. Meu corpo pedia minha cama, meu cobertor. Deixei a mesa posta e, na geladeira, um bilhete:

“Voltarei tarde esta noite. Terei uma cerimônia e entrevistarei o presidente da Inglaterra. Não me espere para o jantar.”

Pensei: Estou dando satisfação para o homem errado. Ele não me esperaria, mesmo que eu voltasse cedo.

Saí de casa e peguei um táxi. Ao descer na congregação, corri para não me molhar na tempestade. Estava atrasada. Esbarrei em um estranho. Levantei a cabeça com cara de poucos amigos — meu peito doía.

O senhor pediu desculpas gentilmente. Já ia indo embora quando voltou e se apresentou formalmente:

— Desculpe-me novamente. Me chamo Oscar Leweek, dono daquela empresa de Marketing. E a senhorita, qual é o nome?

— Anny Beltron Goz. — Falei meu sobrenome. Era esse que usaria de agora em diante.

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