Natalie permaneceu ao lado da cama, sentindo a tensão no ar. Alejandro Rojas era diferente de todos os outros pacientes que ela já havia tratado. Ele não se parecia com alguém que tivesse medo da morte ou da dor; pelo contrário, parecia aceitar ambas como parte natural da vida, como se soubesse que elas estavam sempre ao seu redor, aguardando a próxima oportunidade para se manifestar.
Ela se afastou um pouco, tentando pensar racionalmente sobre a situação. Alejandro Rojas não era o tipo de pessoa que se deixaria ser mantido em um hospital por muito tempo. Ele parecia ter um objetivo, um trabalho a ser cumprido, como ele mesmo havia dito. Mas o que poderia ser tão urgente para alguém como ele? Por que ele estava em Nova York, e por que havia sido atacado daquela forma? O monitor cardíaco continuava emitindo os sinais da recuperação dele, mas algo dentro de Natalie a alertava. Ela não poderia simplesmente deixá-lo ir sem mais nem menos. Havia algo nele, algo não resolvido, que pairava no ar, como uma tempestade prestes a se formar. Ela respirou fundo e decidiu investigar mais. Sabia que o hospital tinha uma rede de informações mais detalhadas, e, mesmo com a falta de dados no prontuário dele, talvez houvesse algo que pudesse ser encontrado. Se houvesse uma chance de entender melhor quem ele era, ou ao menos descobrir mais sobre sua presença em Nova York, ela tinha que agarrá-la. Natalie olhou para o homem mais uma vez. Alejandro parecia ter relaxado, os olhos fechados novamente, mas ela sabia que ele estava ciente de tudo ao seu redor. O que ele queria dela? O que ele esperava dela? Com um último olhar furtivo, ela saiu da sala e foi até a estação de enfermagem. Colocou os arquivos de volta na gaveta e pegou o telefone, digitando rapidamente o número do hospital. — Preciso de mais informações sobre Alejandro Rojas — disse ela, tentando manter a voz firme, mas a ansiedade se infiltrando lentamente em suas palavras. — Urgente. Qualquer coisa que possa ser encontrada sobre ele. De preferência, sem levantar suspeitas. Ela aguardou alguns segundos enquanto a linha estava em espera, sentindo o peso de sua decisão. Algo dizia a ela que aquilo não era um simples caso médico. Havia muito mais envolvido, e ela estava entrando de cabeça. — Estamos verificando, doutora. — A voz do atendente na linha era baixa, mas clara. — Ele parece estar vinculado a algumas atividades internacionais. Não sabemos muito mais ainda, mas estamos fazendo as conexões. Natalie sentiu uma pontada de tensão. Atividades internacionais? O que isso significava? Ela não sabia ao certo, mas já suspeitava que seu instinto estava correto: Alejandro não estava ali por acaso. E ela, de alguma forma, estava sendo puxada para um jogo muito maior. De volta à sala, ela encontrou Alejandro acordado, observando-a com aquela intensidade inquietante, como se soubesse que ela estava em busca de algo. Ele estava mais calmo agora, mas o perigo ainda parecia emanar dele, uma presença que ela não conseguia ignorar. — Você não vai encontrar o que procura. — A voz dele era suave, mas cheia de uma confiança implacável. Natalie ficou em silêncio, seu olhar se estreitando. Ele sabia mais do que estava deixando transparecer, isso ela sentia com toda a certeza. — Eu não tenho interesse em encontrar nada além da verdade. — A resposta dela foi firme, mas seu coração acelerou um pouco, como se ele tivesse acertado um ponto sensível. Alejandro deu um sorriso sutil, como se soubesse algo que ela ainda não entendia. — A verdade? — Ele perguntou com uma leveza, mas a forma como seus olhos a estudaram fez com que ela sentisse um calafrio na espinha. — A verdade, doutora, é que nada nesse mundo é o que parece. E, com essas palavras, ele voltou a se recostar, fechando os olhos, como se tivesse dito tudo o que precisava dizer. Mas Natalie sabia que ele ainda tinha mais a esconder. A inquietação de Natalie aumentou. Ela tinha a sensação de estar começando a desenrolar um mistério que não poderia ser desfeito. Alejandro Rojas não era apenas um criminoso qualquer, como ela inicialmente pensou. Ele era alguém envolvido em algo muito maior, e ela, sem querer, havia se tornado parte disso. Ela olhou para ele mais uma vez, um pressentimento crescendo dentro de si, enquanto se preparava para o que quer que estivesse à frente. Porque, ao que parecia, o verdadeiro jogo estava apenas começando. Natalie não conseguiu tirar a imagem de Alejandro da sua mente enquanto caminhava pelo corredor vazio. Ela sentia como se estivesse em um labirinto, onde cada passo que dava a levava mais fundo na intrincada rede de segredos que ele parecia esconder. Ele era enigmático, e algo nela não conseguia resistir à necessidade de entender mais, de descobrir o que estava por trás daquele olhar penetrante e daquela presença intimidante. Ela se dirigiu até a sala de informações do hospital, tentando manter a calma, embora a sensação de urgência crescesse dentro de si. Sabia que tinha algo maior em suas mãos, algo que não poderia simplesmente ignorar. Estava ciente de que as peças do quebra-cabeça estavam começando a se juntar, e ela não podia mais se dar ao luxo de permanecer à margem. Ao entrar na sala, encontrou a enfermeira responsável pelo setor de registros médicos. Era uma mulher mais velha, de aparência séria, mas sempre confiável quando o assunto eram informações. — Doutora, o que posso fazer por você? — A enfermeira perguntou, enquanto olhava de cima para os papéis diante dela. — Preciso de todas as informações possíveis sobre Alejandro Rojas. — Natalie falou, sem hesitar, sentindo o peso de suas palavras. — Sem levantar suspeitas, por favor. Eu preciso saber o que ele está envolvido, especialmente no que diz respeito a atividades internacionais. A enfermeira a olhou, franzindo a testa, mas pareceu entender a urgência no tom de Natalie. Sem fazer mais perguntas, ela começou a digitar no computador, vasculhando o banco de dados. O silêncio pairava na sala enquanto as teclas do computador ecoavam na quietude. Por um momento, Natalie se sentiu como se estivesse à beira de um precipício, prestes a desvendar algo que mudaria tudo. Ela sabia que, ao obter essas informações, ela estaria irrevogavelmente envolvida no que quer que fosse que Alejandro estivesse fazendo. Finalmente, a enfermeira interrompeu o silêncio com uma voz grave. — Aqui está o que encontramos. — Ela girou a tela do computador para Natalie. — Alejandro Rojas. Nacionalidade colombiana. Ele tem algumas ligações com organizações internacionais de alto nível. Não conseguimos acessar muitos detalhes, mas há algo relacionado a movimentos financeiros suspeitos, transferências de grandes quantias, e o nome dele aparece em diversos documentos que não podemos liberar sem mais autorização. Natalie franziu a testa, absorvendo as informações. Movimentos financeiros suspeitos? Organizações internacionais de alto nível? Algo estava claramente muito errado ali. Mas o que exatamente? Ela não sabia, e isso a deixava ainda mais intrigada. — Há mais alguma coisa? — Ela perguntou, forçando-se a manter a voz controlada. A enfermeira hesitou, como se estivesse considerando a seriedade da situação. Finalmente, ela falou: — Existe um relatório confidencial sobre ele, mas só pode ser acessado por altos escalões da administração do hospital. O que eu posso dizer é que, por algum motivo, ele tem uma grande influência em vários círculos internacionais. Natalie sentiu um calafrio na espinha. Alejandro Rojas não era apenas um homem comum, e ela havia acabado de arranjar uma maneira de se envolver com algo muito maior do que ela imaginava. Algo perigoso. — Obrigada — disse ela, já se virando para sair. Ela precisava de mais respostas, e agora sabia onde procurar. Mas, mais importante ainda, ela sabia que precisava ter muito cuidado. Se Alejandro estava realmente envolvido com o que parecia, as consequências poderiam ser muito mais profundas do que ela jamais imaginou. Quando voltou à sala de Alejandro, ele ainda estava deitado, seus olhos fechados. Mas, ao entrar, ele virou a cabeça ligeiramente, como se soubesse que ela estava ali. Seus olhos se abriram devagar, e, mais uma vez, aquela sensação de estar sendo observada tomou conta de Natalie. — Você encontrou o que procurava? — Alejandro perguntou, sua voz suave, mas carregada de uma confiança inquietante. Natalie manteve seu olhar firme sobre ele, tentando esconder o turbilhão de pensamentos em sua mente. Ela não sabia se devia confiar nele, mas, por alguma razão, sabia que não poderia simplesmente virar as costas. — Eu encontrei algumas coisas... mas você ainda está me escondendo muito, não está? — Ela respondeu, seu tom firme, mais uma vez desafiante. Alejandro a observou em silêncio, e por um momento, parecia que o tempo parava. Seus olhos escuros, como duas cavernas de mistério, a estudaram com uma intensidade que a fez sentir como se estivesse sendo devorada por seu olhar. — Como eu disse, doutora... — Ele sorriu, sutilmente, como se fosse um aviso. — Nada nesse mundo é o que parece. Natalie deu um passo à frente, mais certa do que nunca de que estava prestes a entrar em um jogo que poderia mudar sua vida para sempre. A pergunta que ficou no ar era: até onde ela iria para descobrir a verdade?