Capítulo Três

Dimitri Blackthorn

O cheiro dela me atingiu antes mesmo que ela falasse.

Não era o cheiro de uma humana.

Era mais.

Era antigo. Selvagem. Encoberto por algo que tentava enganar os sentidos, mas não os meus.

Ela me olhou, os olhos ainda marejados pela dor e pelo medo, e, mesmo assim, ousou se manter firme.

— Obrigada… por me salvar — disse com a voz fraca, mas cheia de orgulho.

Tão humana. Tão corajosa. Tão... minha?

Por um instante, fiquei em silêncio. O vento soprou entre nós, carregando seu perfume, revelando o que ela realmente era. Ou ao menos, o que estava escondido nela.

Eu a encarei, meus olhos cravando nos dela. Não era apenas beleza ou dor que me atraíam. Era o chamado da minha alma. A vibração que apenas a verdadeira Luna podia provocar em um alfa.

Mas ela não estava pronta para essa verdade.

— Você quer me agradecer? — perguntei, deixando minha voz sair grave, firme, carregada da autoridade que a minha posição exigia.

Ela hesitou, confusa.

— Claro… O que você gostaria?

Olhei para o céu. A Lua ainda não havia surgido, mas eu sentia a contagem regressiva queimando sob minha pele. A próxima Lua cheia do próximo ciclo, após passar doze Luas, era tudo que me restava para reivindicar o trono completo da Alcatéia e ser completo aos olhos dos anciãos. E, para isso, eu precisava dela.

— Quero que more comigo. Por um ano. Fingindo ser minha Luna.

Ela arregalou os olhos, o queixo tremendo levemente.

— O quê? Eu… eu não posso fingir ser sua Luna. Eu sou uma humana.

Antes que eu respondesse, Séfora surgiu, como se o destino exigisse a verdade naquele instante.

— Como não percebeu, Séfora? — perguntei sem desviar o olhar de Scarlet. — Você não contou a ela?

Séfora ficou tensa, abaixando o olhar como quem carrega um segredo antigo demais.

— Ela tem esse cheiro porque… uma feiticeira esteve no orfanato anos atrás. Disse que ela precisava se esconder. Que alguém do passado a queria morta. A feiticeira selou a essência dela. Cobriu seu lado humana. Nem eu entendia. Achei que fosse só mais uma superstição. Ela nunca manifestou nada, não acredito que ela seja uma loba, apesar de também sentir esse cheiro forte que engana qualquer lobo.

Me aproximei lentamente de Scarlet. Podia ouvir o coração dela disparar. Ela tremia, mas não recuava. Ela era Corajosa ou inconsciente?

— Você pode acreditar ser humana. Pode ter vivido como uma. Mas eu sinto. O seu cheiro é de uma loba. Uma loba poderosa. E eu preciso de você.— Ela engoliu em seco.

— Por um ano… fingir ser sua noiva? Sua Luna?

— Depois, você estará livre. Quando a próxima Lua cheia vier, e eu puder reivindicar o poder que me falta, não precisarei mais de você.

Seus olhos brilharam com desafio.

— E se eu disser não?

Inclinei o rosto, mais perto, sentindo o calor dela, o medo, a raiva, a confusão. Era quase doce.

— Você pode dizer o que quiser, Scarlet. Mas sabe que eu sou um Alfa e não vou te dar outra opção.E você é o tipo de loba que todos querem possuir.

Eu te salvei uma vez. Mas não posso prometer que poderei salvar de novo… se estiver longe de mim.

Ela respirou fundo, encarando a própria ruína no reflexo dos meus olhos.

— Um ano — repetiu. — Depois disso, estamos quites.

— Um ano, só preciso que esteja comigo por um ano até a primeira Lua cheia do próximo ano, preciso que entenda que são doze Luas cheias até a primeira Lua do próximo ano — confirmei. — E nenhum

A Alcatéia não pode saber que você não se lembra se é uma loba ou humana como prefere acreditar. Se querem uma Luna… terão a mais forte de todas.

Ela assentiu, mas o que ela não sabia era que…

Mesmo que o acordo fosse por um ano, havia algo nela que mexia com a parte mais instintiva de mim.O meu lobo que gritava que ela era minha. E que nenhum feitiço, memória perdida ou medo apagaria o que nos unia. Mesmo que ela ainda não soubesse disso.

Assim que entramos na mansão, Scarlet ainda tremia. O medo estava impregnado na pele dela, mesmo tentando disfarçar. Seu olhar confuso alternava entre mim e os corredores da casa como se esperasse ser traída de novo a qualquer momento.

—Este é seu quarto — murmurei, abrindo a porta de uma das suítes. — Descanse. Voltarei mais tarde.

Ela assentiu, hesitante, olhando ao redor com cautela. Antes que eu me afastasse, sua voz me alcançou:

—Você vai me contar... por que eu? Por que quer que eu finja ser sua Luna?

Virei o rosto, mas não respondi. Ainda não era o momento. Havia perguntas demais dentro dela. E segredos demais dentro de mim.

Caminhei pelos corredores de pedra até a ala leste da mansão, onde os anciões já me aguardavam. A porta dupla foi aberta sem cerimônia, e seus olhos me examinaram como se pudessem arrancar respostas apenas com o silêncio.

—Alfa Dimitri — disse o mais velho deles, com a voz rouca. — Soubemos que voltou, conseguiu derrotar aquele inconsequente lobo que não devia ser alfa nem nenhuma das regiões , mas voltou acompanhado. Sabemos que trouxe a jovem do leilão e a apresentou como sua noiva.

Assenti com um leve movimento de cabeça.

—Ela agora está sob minha proteção.

—Proteção ou posse? — perguntou outro, mais ríspido. — Pretende se casar com ela? Encontrou sua Luna, afinal?

—Soube — continuou um terceiro ancião — que ela possui o mesmo rosto e corpo da sua antiga Luna. Aquela que desapareceu na noite da Lua Sangrenta.

Engoli em seco. O nome não foi dito. Mas o rosto dela, sim, ainda vivia nos olhos de todos ali. O mesmo rosto que agora me encarava quando Scarlet me olhava.

—É ela? — insistiu o primeiro. — A Luna perdida retornou?

Fechei os olhos por um segundo, lembrando da profecia sussurrada pelos antigos.

“Aquela que foi levada retornará sem memória. Oculta em cheiro humano, mas com alma de loba. Somente o sangue derramado e a Lua Cheia revelarão seu verdadeiro nome.”

—Ainda não posso responder — falei por fim. — Mas sei que ela carrega dentro de si algo adormecido. E é por isso que ela ficará aqui, como minha prometida. Por um ano. Até a próxima Lua cheia do ciclo completo.

—Você vai arriscar a Alcatéia por uma dúvida, Alfa? Vai expor seu coração... de novo?

Levantei o queixo.

—Já perdi muito por hesitar. Desta vez, não hesitarei.

O silêncio caiu pesado na sala. Um dos anciões encostou as mãos sobre a mesa de pedra e disse:

—Então que seja. Mas saiba, Dimitri… se ela for uma ameaça, você deverá escolher entre ela… e seu trono.

Assenti, embora um aperto me tomasse o peito.

Scarlet quem realmente é você?

E por que, quando olho nos seus olhos, sinto que já pertenço a você desde antes de te conhecer?

continua...

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