O amor pode estar bem ao seu lado, basta apenas você abrir seus olhos, ou permanecerá cego, e no contexto, ela era a cega. E sofrer por não viver a plenitude de um grande amor, era burrice, e nesse caso, o burro era eu. Eu não era o tipo dela. Mas, quem sabe um dia ela abrisse os olhos e percebesse que era eu poderia ser o grande amor de sua vida? E que sem mim, ela não poderia viver? Essa minha mente que sempre me pregava peças. No dia de São Nunca, ela iria acordar e perceber que não poderia viver sem mim. Aliás, não queria que ela pensasse assim, queria apenas que ela me notasse. Seria o bastante para viver feliz, pois eu era conformado com o que a vida me oferecesse.
Principalmente, quando era algo vindo dela.
— Que horas vocês voltam? — perguntou senhora Austin, retirando os pratos da mesa.
— Às 23:00 mãe — respondeu Elle apressada, e logo me lançou um olhar de que ia aprontar. Droga! Ia sobrar para mim.
— Você vai trazer ela em casa, não é Daniel? — perguntou senhor Austin saindo da mesa para ajudar sua esposa a levar os pratos para cozinha.
— Sim senhor. — respondi sem jeito, e Elle me olhou com gratidão. O pior de tudo era que eu sabia que ela ia aprontar, e ainda assim, a ajudava.
— Bom cinema. — falou a mãe de Elle ao voltar para sala de jantar — E cuidado com minha boneca...
— Mãe... — gemeu Elle, suplicando para a mãe dela não falar mais nada.
— Ah... Deixe de coisa, querida. Você já deveria estar acostumada com as brincadeiras que fazemos na frente do Daniel. — sorriu senhora Austin para filha e não estava nenhum pouco preocupada com a cara amarrada da filha — Ele é praticamente da família.
— Certo mãe... — respondeu Elle bufando. — Boa noite.
— Boa noite, Senhor e Sra. Austin. — falei apertando a mão apenas do senhor Austin.
O céu estrelado poderia conspirar ao meu favor, mas não foi assim que aconteceu. Infelizmente eu era a versão da cinderela masculina, e antes das oito horas da noite, perderia a minha princesa para algum babaca, e a minha carruagem viraria abóbora e eu nem chegaria a experimentar a presença dela. Ainda bem que eu não tinha sapatinho de cristal, ou ia ser mais frustrante ainda. Ela parecia tão animada, e se soubesse da minha tristeza, não teria esbanjando sorrisos apaixonados por um cara que no fim das contas, nem ia lembrar o nome dela mesmo.
— Comprei os ingressos. — falei de modo inocente, mas já sabia o que viria a seguir — Vamos entrar?
— Eu vou sair com o Edward. — respondeu encolhendo os ombros no carro — Eu sei que vou ficar devendo mais uma...
— Tudo bem. — resmunguei simplesmente, e me virei para olhar as pessoas passando na rua — Pode ir. Eu entendo.
— O que foi? — perguntou me olhando.
Seus olhos brilhavam mais que as luzes da cidade. Elle era a perfeição em forma de mulher. Não parecia com aquelas magricelas loiras de capa de revista, mas uma mulher de corpo bem definido pela prática de exercícios e por não ter frescuras em escolher um prato com bastante frango frito. Elle era o tipo de mulher que jogava Nintendo por pura diversão, e ainda vibrava com o Super Mário.
— Nada. — respondi simplesmente.
— Você nunca me diz o que te incomoda... — disse bufando, cruzando os braços.
— Porque não tenho nada a dizer — falei mais calmo, mas por dentro queria gritar o quanto ela era burra. Queria gritar que eu a amava, e que faria qualquer coisa para fazê-la feliz.
— Edward vai me esperar na frente do cinema... — disse ela — Você vai ficar bem?
— Vou. — disse sério, sem olhar pra ela.
— Eu prometo sair com você depois, só para compensar os inúmeros favores que me faz. — prometeu em sorriso torto — Se não fosse por você, eu não teria como sair de casa. Meu pai nunca autorizaria minha saída com Edward, mas com você, ele deixa.
— Pois é... — falei suspirando — Eu sou o seu estepe.
— Dani... — murmurou manhosa e não dava para resistir a aquele sorriso — Você é o melhor amigo que eu tenho. O melhor amigo que uma garota pode ter...
— É, eu sei. — falei sem paciência, mas tentei ao máximo esconder minha frustração — Pronto, chegamos. — disse estacionando o carro ao lado do cinema.
Do outro lado da rua estava ele, o tal Edward escorado em uma Harley-Davidson preta, de jaqueta de couro preta, camisa branca e calça justa... Preta. Típico bad boy dos anos noventa, com cara de bunda. O que me deixava mais curioso, era como aquele cabelo tingido de cobre ainda permanecia na cabeça dele. Era tanto gel concentrado em uma só região, que poderia ser fornecido como concreto para grandes empresas em construção. O cara parecia até bonito, mas algo me dizia que ele não faria bem a Elle. Temia que algo ruim pudesse acontecer com ela, e eu teria o resto da minha vida para lamentar, por não conseguir protegê-la dele.
— Elle, você tem certeza que quer ir com esse cara? — perguntei um pouco receoso.
— Tenho sim. — falou saltando do carro em três segundos — Por quê? Que falar algo para mim?
— Não. Não tenho. — respondi nervoso.
— Entendo... — disse ela me olhando feio, logo em seguida sorrindo — Volto em duas horas. Assista ao filme para me dizer como foi...
— Como sempre faço... — falei descendo do carro.
— Você é incrível! — ela veio saltitando na minha direção, e por um momento, pareceu que íamos nos beijar. Pura ilusão minha — Assista ao filme... — disse beijando minha bochecha e a vi seguindo em direção ao cara de gel de concreto. Ele estendeu um capacete para ela, e ela logo em seguida montou na moto junto com ele, que ao sair ainda teve a covardia de soltar uma piscadela para mim.
Eu sei, eu era um burro. Mas fazer o que? Adorava aquela mulher, e só em ter a amizade dela, já me bastava.