Capítulo 6

O filme iria ser longo sem ela ao meu lado, mas eu nunca saberia se iria ser, pois apesar dos anos de amizade, nunca fomos exatamente ao cinema juntos. Na teoria, para família dela, já tínhamos acabado com a bilheteria de todos os cinemas. Porém, na prática, nunca chegamos tecnicamente nem na calçada de um cinema juntos.

E para o meu azar ficar cada vez maior, Estevan estava aos amassos na fila do meio. Era muita sacanagem comigo, mas um dia isso iria ter volta. Um dia eu teria a sorte ao meu lado. Passei de fininho ao lado dele, mas parecia que ele tinha um radar de “Daniel/Banana se aproximando” que me detectava com menos de um metro de distância. Era frustrante ter um primo como ele, que era o oposto de mim. A sala estava praticamente vazia, não literalmente, pois poucas pessoas estavam assistindo realmente o filme.

— Diz, grande Daniel! — falou baixinho deixando a garota que ele estava agarrado para o lado. Nunca tinha visto uma garota ficar tão descabelada quando estava com Estevan, como vi naquele dia. Ela estava até com falta de ar.

— Oi Estevan. — cumprimentei sem jeito e me ajeitando para não ficar na frente de quem, realmente, estava assistindo o filme.

— A Elle saiu de novo com outro cara? — perguntou irônico e debochando da minha cara. Ele fazia de propósito.

— Isso mesmo. — respondi irritado vendo a cara de deboche que ele fazia.

— Querida, você pode ir comprar um refrigerante para mim? — perguntou para garota descabelada, que mais parecia um robô atendendo aos comandos do seu dono. Ele não era popular na escola, mas com as mulheres... Isso era outro assunto. Estevam sempre estava aos beijos com alguma gostosa de Burnet. Quando ela saiu, me sentei ao lado dele, me sentido um bosta.

— Sim, meu Tudão. — respondeu ao se levantar, e para Estevan não deixar de ser Estevan, quando ela levantou, ele deu um tapa bem forte na bunda dela que a fez saltitar e sair rindo como uma demente. O cinema mais parecia àqueles bares de esquina nas estradas solitárias do Texas, a diferença era que nos bares, os casais iam para o banheiro transar, ou ao menos, iam para trás do bar, no escuro para terminar o serviço.

— Me diz, que tipo e o cara que ela resolveu sair agora? E por favor, não me diga que é um doido por figurinhas... — perguntou rindo — Essa seria muito para o meu pobre coração.

— É um tal de Edward. — respondi coçando a cabeça e arrumando os óculos no rosto — acredita que ele tem uma Harley 1980?

— Isso não importa Daniel. — respondeu ele, sério — Ele está com a garota dos seus sonhos, e você aqui assistindo um filme que nem queria assistir. — às vezes Estevan me puxava um pouco para realidade. O problema era que eu sempre caia de cabeça, e isso doía muito. — Você odeia filmes românticos...

— Eu sei... — olhei para ele. — Mas você também não gosta. O que você tá... — fiz uma pausa percebendo o real motivo de ele estar assistindo aquele filme — Ah! Deixa pra lá.

— Você vai mesmo assistir ao filme e depois descrever pra ela contar para o pai dela? — perguntou incrédulo, mas com olhar de sério.

— Vou. — respondi triste.

— Um dia você tem que deixar de ser mole. — falou balançando a cabeça — Você bem que podia ter o letreiro luminoso com seu nome e a seguinte frase: Daniel Banana.

— Voltei rapazes... — a garota descabelada voltou com dois copos de refrigerante. Estava um pouco escuro, mas pude ver claramente que ela era muito bonita, assim como todas as garotas que Estevan saia. Uma loira de cabelos avermelhados, mas acho que era a luz. Corpo bonito, usava blusa decotada e saia curta exibindo suas longas penas. Ela não me era estranha.

— Essa é a Jess, nossa colega de sala. Está na aula de matemática. — eu sabia que a conhecia de algum lugar.

Jess era inteligente, mas também tinha um imã para homens errados, e isso incluía Estevan, que nunca tinha sido um anjo. Ela sempre me pedia ajuda, mas sei que era pelo fato de eu ser primo de Estevan, e querer se aproximar dele. No fim, ela nem precisou, já estava abrindo as pernas para ele, no primeiro sorriso galanteador dele.

— Eu vou deixar vocês mais à vontade. — falei a me levantar indo em direção às cadeiras mais altas.

— Se precisar de companhia para o baile... — falou Jess, com a voz melosa. Eu sabia que era por causa de Estevan. Uma garota em sã consciência nunca me chamaria para sair, e nem muito menos, para o baile. — Pode me chamar.

— Minha linda, a única garota que ele quer levar ao baile, já tem companhia. — falou Estevan rindo. Ele também sabia ser mau às vezes.

— E quem é? — perguntou curiosa.

— Estevan, não... — foi tarde demais. O filtro que existia no cérebro estava definitivamente gasto, e ele abriu aquela boca de trapos.

— Elle Austin... — respondeu rindo, mas logo ele percebeu que não era para falar nada. Jess não era apenas uma garota qualquer que tinha boas notas, ela também era uma das populares, que não sei o porquê de ela também falar comigo. Ela era uma bomba atômica.

— A Elle? — soltou um tom de choque — Não acredito... Mas, mas... Vocês são amigos.

— Por favor, não fale isso pra ninguém mais. — implorei. — Por favor. — o pedido foi o mais lamurioso possível. Eu não confiava na Jess, e hoje tenho a plena certeza que na época não era para ter confiado naquela cara de anjo dela.

— Pode confiar em mim. — falou levando a mão ao peito de modo teatral — Minha boca é um tumulo...

— Obrigado. — suspirei agradecido — Vou deixar vocês agora.

— Desculpa Hermano ... — falou Estevan sem jeito.

— Depois falo com você. — me virei e segui subindo para o lugar mais alto do cinema. Eu já tinha perdido boa parte do filme, mas deu para entender o final. O mocinho era apaixonado pela mocinha do filme, mas ele era algo diferente e não poderia viver o amor que ele sentia por ela por ser diferente, porém ela insistiu e lutou pelo amor dos dois. Ele não era humano, e ela era, e ainda assim o amor prevaleceu. Ela foi transformada e os dois se tornaram iguais. Eu queria ter a possibilidade de fazer alguém se apaixonar por mim, pelo simples fato de eu ser como era. Era triste ser sozinho, cheio de espinhas e ainda virgem. Vendo os dois protagonistas se beijando me bateu uma inveja que nunca tinha sentindo na minha vida.

Como seria ser beijando?

Como seria o gosto dos beijos de Elle?

Era o que eu mais queria saber.

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