Bruno abaixou os olhos para a xícara à sua frente. Mexeu o café distraidamente, como se pudesse encontrar, no redemoinho do líquido escuro, uma resposta para tudo que havia feito. A voz dele saiu baixa, embargada por um arrependimento tardio:
— “Não pude ver meu filho pequeno... nem dando os primeiros passos...”
Rafaella permaneceu sentada, firme, o olhar fixo nele. Sua voz, quando veio, foi cortante. Sem tremores. Sem lágrimas. Apenas uma frieza que vinha da alma de quem já sofreu demais.
— “Você me obrigou a isso.”
Bruno a encarou, mas ela não desviou.
— “Quantas vezes, Bruno? Quantas vezes você me disse uma palavra de amor? Nunca.” — ela largou a colher sobre o pires com um leve tilintar. — “Você não queria uma esposa. Queria uma sombra obediente. Um objeto elegante ao seu lado nos jantares da elite. Uma mulher submissa, que tomasse os remédios certos, falasse o mínimo e sorrisse para as fotos.”
Bruno tentou intervir, mas ela levantou a mão, interrompendo-o com um olhar afiado.
— “