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O silêncio era quase absoluto no hangar principal da base tática. Só o som ritmado das botas ecoava pelos corredores estreitos enquanto o relógio digital marcava 06:47.
Adam Petrov caminhava à frente, imponente como uma tempestade contida. O uniforme impecável, os ombros largos, o olhar glacial. Cada passo seu exalava autoridade. Era como se o chão se curvasse sob ele.
— Fico impressionado como você consegue parecer ameaçador antes mesmo do café — disse Mike com seu eterno tom debochado, ajustando o rifle no ombro enquanto caminhava ao lado do amigo.
— E você ainda vive pra comentar — Adam respondeu, seco, mas com um canto de sorriso que quase ninguém notaria… exceto Mike.
Mike sorriu mais largo, como se tivesse ganhado um prêmio. Ele era o atirador de elite mais ousado da força, e o único que conseguia provocar Adam sem morrer tentando.
— Ouvi dizer que nossa mente brilhante da tecnologia chega hoje. Aposto cinquenta que é um nerd espinhento com problemas sociais.
— Desde que saiba fazer o trabalho, não importa — Adam respondeu, estalando os dedos com a luva tática. Sua mente estava totalmente na missão que tinham em mãos. Não havia espaço para distrações. Nem para o passado.
Ou era o que ele achava… até a porta abrir.
O som metálico da porta automática se abrindo reverberou pela sala de comando.
Silêncio.
Ela entrou com passos hesitantes, os olhos observando tudo com cuidado. Os cabelos castanhos avermelhados estavam presos em um coque baixo, e os olhos verdes-acinzentados, outrora vivos, agora pareciam carregados de neblina.
Sophia Scoot.
O nome ecoou na mente de Adam como uma explosão surda. Por um segundo, o mundo ficou em câmera lenta. Ela parecia menor. Mais magra. Havia sombras novas sob seus olhos e uma rigidez em seu corpo que ele nunca conheceu. Mas era ela.
— Capitão Petrov — a voz dela cortou o silêncio, firme, porém contida. Sem emoção. Sem tremor. Como se ele fosse apenas mais um rosto entre tantos.
Adam engoliu seco.
— …Scoot?
Mike, do lado, arregalou os olhos e sussurrou baixinho como quem pressente o caos:
— Ah, merd@…
Sophia mantinha o olhar fixo em Adam, mas seu corpo estava levemente tenso, como se estivesse pronta para fugir se ele se aproximasse. Era a postura de quem construiu barreiras altas demais para deixar qualquer um atravessar.
— Eu serei responsável pela análise forense e monitoramento tecnológico desta unidade — continuou ela, sua voz impecável, mas o coração acelerado denunciava o contrário. Ele ainda conseguia escutar os batimentos dela... mesmo depois de tudo.
Adam olhou para o chefe, confuso, traído pela surpresa.
— Você não me disse que seria ela.
O superior apenas deu de ombros.
— Achei que sua experiência pessoal não interferiria no profissionalismo da equipe.
Mike pigarreou alto, cortando o clima pesado:
— Bom, pelo menos agora sabemos que nossa nerd da tecnologia não tem espinhas. Só um passado em chamas com o chefe.
A tensão era densa o suficiente pra ser cortada com uma faca.
Horas depois, Adam se encontrava sozinho no seu gabinete. A sala escura era iluminada apenas por telas com dados da missão, mas ele não conseguia se concentrar em nada.
Ela estava ali.
Depois de cinco anos.
Viva. Mais bonita. Mais triste. E tão distante quanto a última vez que ele a viu — naquele maldito quarto, onde seu mundo desabou.
“Ela não tentou se explicar”, ele pensou. “Nem sequer correu atrás. Como se fosse mesmo culpada.”
Mas então… por que a dor nos olhos dela parecia tão verdadeira?
Sophia, por outro lado, digitava códigos freneticamente na sala ao lado. A mão tremia levemente enquanto analisava as rotas de extração. Ela sabia que aquele momento chegaria, mas nunca pensou que o impacto de vê-lo de novo seria tão devastador.
Adam não mudou. Continuava alto, perigoso, dominante… e absurdamente bonito. Mas os olhos dele… ah, os olhos não mentiam. Ele ainda a odiava.
E por mais que parte dela gritasse que era inocente, outra parte... ainda se culpava.
Na sala de monitoramento, Mike apareceu na porta com uma xícara de café.
— Eu devia entregar isso pro Adam, mas decidi que você merece mais — disse, entregando a bebida e se encostando no batente com seu sorriso característico. — E, sinceramente? Você é dez vezes mais simpática.
Sophia esboçou um sorriso fraco.
— Obrigada, Mike…
Ele inclinou a cabeça.
— Faz cinco anos, né?
Ela assentiu, encarando o café como se ele tivesse todas as respostas.
— Eu sempre achei estranho… aquela história. Aquela noite. Aquela “coincidência” absurda.
— Não fala disso, por favor — sussurrou ela, apertando a xícara com força.
Mike suspirou.
— Ok. Mas só quero que saiba... nem todo mundo acreditou no que pareceu.
Sophia olhou para ele com os olhos marejados.
E Mike, pela primeira vez, não brincou.
— Eu só espero que o "Wolf" ainda saiba farejar a verdade.







