Mundo de ficçãoIniciar sessãoO helicóptero cortava os céus da madrugada como uma lâmina afiada. Dentro, o clima era denso, mas não pelo barulho das hélices — e sim pelo silêncio entre duas pessoas que, há cinco anos, diziam “eu te amo” antes de dormir.
Adam, sentado à frente, analisava o mapa holográfico da operação. A projeção flutuava diante de seus olhos atentos. Seu semblante era inabalável, mas a tensão em sua mandíbula denunciava o turbilhão interno.
Mike, como sempre, quebrou o gelo:
— Sabe, Sophia, fico me perguntando... o que leva uma mulher tão inteligente a se meter com esse mal-humorado aí?
Ela não respondeu. Apenas sorriu de canto, nervosa. As mãos tremiam levemente ao revisar os comandos do tablet que segurava. Não pelo risco da missão, mas pelo homem sentado a poucos passos dela. Adam.
Ele ainda exalava tudo que ela lembrava — frieza, força, domínio — mas agora havia algo a mais… algo quebrado nos olhos dele. E isso a despedaçava por dentro.
— Foco — Adam cortou o momento como uma navalha. — Chegamos em 10 minutos. Posição tática em solo será padrão L-estratégico. Mike, cobertura. Scoot, você se posiciona no caminhão-técnico e assume os drones.
— Ai, como ele é carinhoso — murmurou Mike, rolando os olhos.
Sophia engoliu em seco.
— Sim, senhor.
A descida foi rápida. O grupo se dividiu, e cada membro assumiu sua posição. O ar estava frio, úmido. O alvo era um depósito clandestino de armas escondido em uma zona abandonada da cidade. Tudo indicava que poderia haver reféns.
Sophia conectou os cabos no painel improvisado no veículo. Seus olhos corriam pelas imagens dos drones, filtrando calor, detectando movimento, cruzando dados. Seus dedos dançavam no teclado, mas sua respiração estava descompassada.
Adam a observava de longe.
Ela estava brilhando no que fazia.
Mas tremia.
Ela sempre foi ágil, focada. Agora parecia em guerra consigo mesma.
— Movimento na ala leste. Três sinais de calor. Armados. — ela avisou pelo ponto no ouvido, com a voz firme, mas o tom mais alto que o normal.
— Recebido. — respondeu Adam, já se posicionando com Mike.
Sophia deu dois passos para o lado para ajustar a antena do drone… mas o nervosismo, somado ao terreno irregular, a traiu. O pé escorregou numa poça escondida pela grama alta. Ela cambaleou.
— Ah! — soltou, quase caindo.
Mas não caiu.
Duas mãos firmes a seguraram pelos braços com força e rapidez.
Adam.
— Cuidado — disse ele, baixo, quase rouco.
Os olhos de Sophia se ergueram para os dele.
E naquele instante, o mundo pareceu parar de novo.
O toque dele queimava.
As mãos grandes seguravam seus braços com delicadeza contida. Mas foi o olhar… o olhar que a desmoronou. Porque ele não parecia bravo. Nem frio. Nem distante. Ele parecia… preocupado.
E esse gesto simples… Essa gentileza inesperada…
Fez seus olhos se encherem d’água.
— Me solta, por favor — sussurrou ela, quase inaudível.
Adam recuou imediatamente, como se tivesse levado um choque.
— Desculpa. — disse, com os olhos fixos nela.
Sophia virou o rosto, limpando discretamente os olhos. O controle da respiração falhava. As mãos tremiam. Mas ela voltou ao teclado, mesmo com a visão embaçada. Ela não podia desabar. Não ali. Não na frente dele.
Mike, ao longe, observava tudo pelo canto do visor e murmurou pra si mesmo:
— Isso vai dar uma confusão dos infernos...
A missão seguiu.
Com frieza profissional, Adam comandou a equipe com perfeição. Nenhum refém foi ferido. Os alvos foram neutralizados. Tudo funcionou como planejado… tecnicamente.
Mas no coração da operação, tudo estava fora do controle.
Horas depois, já na base, Sophia recolhia seus equipamentos quando ouviu uma batida leve na porta.
Ela se virou devagar.
Adam estava ali. Sem uniforme completo. Sem a máscara de líder. Apenas um homem… carregando um passado.
— Eu... — começou ele, mas a voz falhou.
— Estou bem — respondeu ela rapidamente, tentando evitar a dor de prolongar a conversa.
Adam assentiu. Mas não saiu.
— Você… parecia assustada. Não com a missão. Comigo. — disse, com os olhos mergulhados nos dela.
Sophia congelou. Seu coração disparou.
— Não tem a ver com você — mentiu.
Mas ele era o “Wolf”.
E lobos sabem farejar a verdade.
— Alguma coisa aconteceu com você, Sophia. — ele disse, baixo, firme. — E um dia... você vai me contar.
E saiu.
Deixando ela ali, sozinha, com as lágrimas finalmente caindo, misturadas com o gosto amargo de tudo que ainda estava por vir.







