MESES ANTES...
O coração de Adoria doeu com o silêncio no quarto. Ela sabia que o filho era obcecado pelo amor de infância, mas isso não significava que ela precisasse gostar da garota. Não tinha problemas pessoais com Ester, mas adorava especialmente a Katherine. A menina praticamente se tornara parte da família, sempre ajudando, emprestando dinheiro quando os tempos eram difíceis, consertando coisas na casa e fazendo-lhe companhia quando Jonas e Adônis viajavam a negócios. Katherine tinha um coração bondoso e sua presença era um conforto sempre. Ester, por outro lado, nunca tinha levantado um dedo. Na verdade, ela era ríspida e indiferente, só aparecendo quando lhe convinha. Mesmo assim, Adônis sempre dava desculpas para o comportamento dela. Se Ester mandasse pular, ele perguntava a altura. Se ela mandasse ele se ajoelhar, ele estaria no chão na hora. Adoria odiava ver o filho traindo a noiva emocionalmente, mas toda vez que ela tentava dizer alguma coisa, ele a interrompia com a mesma frase: “Mãe, somos só amigos. Estou ajudando ela. Eu jamais trairia a Kate.” No fim, ela parou de tocar no assunto. Mas, vendo Ester se debruçar sobre Adônis, com os dedos distraidamente traçando padrões na mão dele, Adoria não conseguiu se conter. Pigarreando, ela fixou o olhar no filho. — Adônis, querido, você contou tudo isso para a Kate? — A voz dela era leve, mas o olhar penetrante que ela lançou a ele dizia muito. Ao ouvir o nome de Katherine, o sorriso de Ester se afiou como uma navalha. Ela passara anos acreditando ser a única mulher na vida de Adônis. “Para sempre” ele lhe prometera uma vez. E então, no segundo ano da faculdade, Katherine entrou e destruiu essa ilusão. A lembrança a fez ranger os dentes. Mas agora? Agora ela tinha toda a atenção de Adônis novamente. Ela apertou a mão dele, inclinando-se levemente, para garantir que Adoria notasse. Adônis, alheio à tensão que crescia na sala, revirou os olhos. — Claro que ela sabe. _ disse ele, com a voz casual e indiferente. — Ela entende o quanto a Ester significa para a nossa família. Somos amigos de infância. Não tem como ela não aceitar isso. Ester deu um sorriso irônico, mal conseguindo conter o riso. Ah, querido Adônis. Ele não fazia ideia do que estava por vir. Nas últimas duas semanas, estivera ao lado de Ester, tentando ajudá-la, completamente alheio à tempestade crescente. E, claro, esquecera-se de contar isso a Katherine, porque, na sua cabeça, deveria ser óbvio. Adoria, porém, não achou tanta graça. — Mmm. — cantarolou, inclinando a cabeça. — Que interessante. Só espero que você esteja certo, querido. Ester, incapaz de resistir, soltou uma risadinha suave. — Ah, qual é, Adoria. Nós duas sabemos que Katherine não é exatamente do tipo ciumenta. — Sua voz era pura doçura e veneno. O sorriso de Adoria não vacilou. — Não, ela não é. — concordou ela, cruzando as mãos no colo. — Ela é inteligente o suficiente para saber quando alguém não vale o seu tempo. O golpe acertou em cheio, e por uma fração de segundo, a expressão de Ester vacilou. Mas antes que ela pudesse revidar, Adônis interveio, esfregando a nuca com um sorriso torto. — Tá bom, tá bom. — disse ele, balançando a cabeça. — Não vamos começar nada, tá? — Ele lançou um olhar para a mãe, meio carinhoso, meio exasperado, mas não soltou a mão de Ester. — Eu sei que você só está cuidando da Kate, mãe, mas acredite em mim. Está tudo bem. Adoria suspirou, mas não disse mais nada. Ela sabia que não deveria discutir com um homem que se recusava a enxergar o óbvio. Enquanto isso... Katherine puxou a barra do vestido preto, o tecido sedoso que se ajustava perfeitamente ao seu corpo. A jaqueta jeans jogada sobre os ombros adicionava um toque casual, contrastando com a elegância do traje. Ela olhou para o próprio reflexo por um instante antes de suspirar, alisando um cacho solto. Esta noite não era para pensar demais. Mas era impossível não fazê-lo. Seus dedos deslizaram até o anel de noivado na mão esquerda, o metal frio contrastando fortemente com o calor de sua pele. Uma promessa. Era isso que deveria ser. Uma promessa de eternidade, de amor que não vacilava, de um homem que sempre apareceria. Mas Adônis não estava ali. Ele deveria estar. Ele deveria abraçá-la, beijá-la na têmpora e sussurrar algo ridículo para fazê-la rir. Em vez disso, a única coisa que tocava sua pele era a dor da ausência. Ela engoliu em seco, forçando o nó na garganta para baixo, mas isso não impediu a dor no peito. Katherine cerrou a mão em punho, como se isso de alguma forma impedisse a dor de transbordar. Mas ela já estava lá, apertando suas costelas, arranhando seu coração. O aniversário dela. Ele tinha perdido o aniversário dela. Ela disse a si mesma que estava tudo bem, que essas coisas aconteciam, que talvez ele tivesse um bom motivo. Mas desculpas não a manteriam firme para sempre. Não quando a decepção a atormentava, não quando se sentia estúpida por esperar, por ter esperanças. Uma lágrima escorreu por sua bochecha, silenciosa e traiçoeira. Ela a enxugou com as costas da mão, respirando fundo, trêmula. Não era assim que deveria ser. O amor não deveria ser como esperar em um quarto vazio, segurando um anel que começava a parecer mais pesado do que deveria. Ela piscou para o próprio reflexo, como se procurasse uma resposta no espelho. Mas tudo o que viu foi uma garota com um vestido bonito, segurando uma promessa que começava a parecer mentira. Uma batida na porta interrompeu seus pensamentos e, quando ela abriu, seus amigos estavam do outro lado, sorrindo. — Pronta para uns drinques de aniversário? — perguntou Wolly já passando o braço por cima dos ombros dela. — É, Kate, vamos tirar você dessa cobertura antes que você comece a ter uma espiral de desgraças. —Lucas acrescentou com um sorriso maroto. Ela deu um meio sorriso, mas não conseguiu evitar a pergunta que estava circulando em sua mente a noite toda. — O Adônis vem? — ela perguntou a eles, com a voz leve, mas carregada de algo ilegível. Wolly e Lucas trocaram um olhar antes de Wolly suspirar. — Quer saber? Vamos tomar aquele primeiro drinque antes de começarmos a falar dele. Lucas a cutucou. — Além disso, aniversariante, você tem opções hoje à noite. Katherine soltou uma risadinha, balançando a cabeça. — Certo. Vamos. E com isso, eles seguiram para onde a noite estava prestes a ficar muito mais interessante.