4 - Nós dois ganhamos

STELLA HARPER

Fingir estar doente não exigiu esforço. Depois do que aconteceu ontem, meu corpo inteiro se sentia como se tivesse sido atropelado por um caminhão invisível. Havia um peso emocional esmagador que me mantinha deitada, imóvel, encarando o teto manchado do meu apartamento.

O beijo que Damian me deu parecia ainda queimar na minha boca como uma marca. Não foi um beijo... foi uma invasão. Uma quebra de barreira.

Assim que saí do avião ontem, tudo em mim gritava para fugir. Meu coração batia tão forte que mal consegui dormir na noite passada. E quando finalmente dormi, sonhei com ele. Ainda consigo lembrar do peso do corpo dele sobre o meu, a mão segurando meu rosto, os olhos famintos e meus gemidos implorando por mais.

Então hoje, ao acordar, liguei para o RH e disse que estava passando mal. Nem precisei me esforçar para fingir o resfriado. Meu tom já era o de alguém quebrado.

Passei o dia inteiro pensando em pedir demissão. Cheguei a abrir o notebook, digitar algumas linhas e apagar tudo logo em seguida. A verdade me encarava cruelmente: eu não podia me dar esse luxo.

Minhas contas estavam atrasadas. O aluguel venceria em quatro dias e os agiotas do meu pai logo apareceriam. Sair daquele emprego significava escolher a fome, a rua e talvez até a morte. Bem talvez eu esteja exagerando um pouco, minha querida Leah nunca me deixaria passar fome ou não ter onde morar, mas não quero colocar sobre ela o fardo de sustentar nós duas.

Mas como continuar ali depois daquilo? Depois de ver no rosto dele aquela ausência total de arrependimento?

Me encolhi no colchão e me enrolei numa coberta fina, tentando me convencer de que era só um pesadelo. Que aquilo tudo iria passar.

Foi quando a campainha tocou.

Franzi a testa. Ninguém viria aqui nesse horário e Leah estava trabalhando.

Aproximei-me da janela lateral e puxei a cortina com cuidado. Meu coração afundou.

Damian Winter estava parado na porta do meu prédio. De terno, como se estivesse em mais um dia normal no escritório e o olhar dele era de quem veio caçar.

Dei um passo para trás, como se ele pudesse me ver dali.

A campainha tocou de novo. Uma, duas, três vezes.

— Stella. — a voz dele soou irritada do lado de fora. — Eu sei que está aí. Abra a porta.

Fechei os olhos.

Engoli em seco, respirei fundo e, com os dedos trêmulos, destranquei a porta.

— O que você está fazendo aqui? — minha voz saiu baixa e defensiva.

Os olhos dele escanearam o ambiente: a parede descascada, a bagunça no sofá, os pratos acumulados na pia. Mas a expressão dele não mudou como se não fosse surpresa e voltou seu olhar para mim.

— Você não está doente. — ele disse, entrando sem pedir permissão.

— Sai da minha casa, senhor Winter.

— Não é isso que você quer.

— Você não sabe o que eu quero.

— Não? — Ele virou o rosto analisando novamente tudo que estava à sua volta. — Você quer fugir. Porque está com medo do que aconteceu.

— Do que você fez. Corrija a frase.

Ele se aproximou devagar e eu me afastei.

— E deve estar pensando em pedir demissão. Mas sabe que não pode.

Meu estômago revirou. Ele falava como se estivesse narrando meus próprios pensamentos.

— Por que você está aqui? — sussurrei.

Ele tirou um envelope da pasta que trazia e estendeu para mim.

— Estou aqui pra resolver as coisas entre nós.

Peguei o envelope com cuidado. Dentro havia um contrato. Comecei a ler. À medida que os olhos percorriam as cláusulas, o sangue foi sumindo do meu rosto.

— Isso só pode ser brincadeira.

— É uma proposta. Você continua trabalhando pra mim. Mas... também será minha companhia íntima.

— Você quer que eu durma com você. Por dinheiro.

— Quero um acordo limpo. Você é atraente, competente, e precisa de ajuda. Eu terei uma mulher que me satisfaz, uma secretária eficiente e você terá a ajuda financeira que necessita em troca da sua colaboração. E... de não engravidar. Nós dois ganhamos.

Jogo o contrato na mesa e olho para ele incrédula.

— Eu não sou uma prostituta.

— Não estou dizendo que é. Mas todos temos um preço, Stella.

O nojo que senti me fez querer vomitar.

— Você é um monstro.

— Não finja surpresa. Você me conheceu no ambiente corporativo. Acha mesmo que alguém chega onde estou sem fazer o que é preciso para conseguir o que quer? Estou sendo objetivo. Você precisa de dinheiro. Precisa desse emprego. E eu... estou atraído por você, Stella. Mas não estou disposto a fingir que isso será romântico.

— Eu não vou assinar isso. Nunca.

Ele deu um passo à frente e pude ver seu olhar endurecendo.

— Tem certeza? Porque eu não teria vindo aqui se não soubesse que você está numa situação... delicada.

Engoli em seco.

— Você não sabe nada sobre mim.

— Lembra-se? Você entrou aqui com um diploma e um currículo falsificados.

— …Mas eu já expliquei tudo!

— Essas explicações não constam no seu arquivo, querida. Eu posso te levar ao tribunal a qualquer momento. Além disso, creio que não preciso te lembrar — ele olha para o envelope do banco sobre a mesa — Você tem dívidas a pagar. Muitas.

Meu corpo gelou.

— Você investigou minha vida?

— Não se preocupe com detalhes insignificantes, você só precisa fazer o que estou dizendo e tudo ficará bem. Eu sou um homem que protege seus interesses. E, nesse momento, você é um deles.

— Isso é chantagem!

— É a verdade. Você pode ir à polícia se quiser. Mas vai sair daqui direto pra um tribunal por falsidade ideológica. E com ficha criminal, esqueça qualquer outra vaga em uma empresa.

Lágrimas começaram a brotar nos meus olhos, quentes e revoltadas.

— Eu odeio você.

Ele me entregou a caneta.

— Pode me odiar à vontade. Mas assine.

Fiquei parada, encarando o contrato como se fosse uma sentença de morte. Meu nome já estava impresso no cabeçalho.

Assinei. Chorando. Minha mão tremia tanto que a letra saiu torta. Quando terminei, larguei a caneta como se queimasse meus dedos.

Damian não esboçava reação, nem emoção. Como se estivesse apenas fechando mais um negócio.

Meu rosto estava molhado de lágrimas, mas meu estômago ardia com desprezo.

Ergui o queixo, tirei a camiseta pela cabeça e a joguei no chão. Depois, abri o botão do short e o deixei escorregar pelas pernas, ficando só com minhas peças íntimas.

— Quanto custa por vez? — O encarei sem disfarçar a mágoa por trás das lágrimas.

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