DAMIAN WINTER
Provocar Stella Harper havia se tornado um dos meus passatempos preferidos. Ela reagia de maneira fascinante: os olhos arregalavam, os ombros enrijeciam, a respiração se tornava irregular. Cada reação denunciava o quanto ela se esforçava para se manter profissional. Depois da última provocação no meu quarto ela passou o dia inteiro me evitando como o diabo foge da cruz. Não me surpreende. No entanto, irritantemente, isso só tornou tudo mais interessante. Ela não fazia ideia de que eu ouvira cada palavra que disse sobre mim no escritório. Mas o que ela não sabia, e isso eu fazia questão de manter assim por enquanto, era que eu a observei desde o começo. Desde o primeiro dia. Eu estava assistindo à entrevista dela com o Collins. Eu não pretendia acompanhar todas. Apenas algumas. Mas então ela entrou. Seu currículo estava tecnicamente bom, pelo menos na superfície. Ela estava indo bem no começo, mas no fim se deixou ser derrubada pelo nervosismo edecidiu revelar que tudo era mentira. Obviamente não foi essa "honestidade" que me fez contratá-la. Ela simplesmente me interessou. E o que me interessa, eu pego. Naquela época, achei que seria fácil. Contratá-la, mantê-la por perto. Ela tentaria resistir, claro. Sempre resistem no começo. Mas depois… o padrão se repetiria. Só que Stella não seguiu o padrão. Ela não demonstrava ter algum interesse por mim, no máximo devia me achar atraente, essa indiferença era tão frustrante quanto viciante. Mas acho que estou ficando impaciente, já que minhas provocações estão ficando menos discretas. E agora sinto que a senhorita Harper tem um tesão reprimido pelo robô aqui. Quando a porta do carro que enviei para buscar Stella se abriu, percebi que o meu tesão por ela está em alta, mas não tenho nenhuma intenção de reprimi-lo... Ela estava diferente. Totalmente fora do padrão da secretária que eu conhecia. O vestido preto era justo o suficiente para acentuar suas curvas, mas elegante demais para ser classificado como vulgar. Se ela estava tentando me provocar... funcionou. O cabelo loiro caía em ondas suaves sobre os ombros, e a maquiagem realçava seus olhos claros e a linha firme da mandíbula. Ela parecia perigosa. O tipo de mulher que um homem deveria manter distância, se tivesse bom senso. Infelizmente, bom senso não era algo que costumava me guiar em assuntos como esse. Eu a quero. — Senhor Winter. — disse ela, ao se aproximar. Porra, esse foi um belo impacto visual. Não era só o vestido que marcava sua cintura com perfeição. Nem o detalhe das alças finas que deixavam os ombros à mostra ou o decote que revelava mais do que já vi desde que a conheci. Foi o conjunto. Sempre soube que Stella era bonita. Mas nunca a desejei tanto como nesse momento. — Você está muito bonita, senhorita Harper. Ela ruborizou, abaixando o olhar com um sorriso tímido. — Obrigada, senhor Winter. — Permita-me. — estendi o braço com naturalidade. Ela hesitou por um segundo antes de entrelaçar o braço no meu. A pele dela era quente. O perfume leve, floral. E isso me atingiu de um jeito irritante, porque eu preferia descobrir essa coisas se ela estivesse nua na minha cama. O restaurante era sofisticado, com vista para o lago. Caminhei ao lado dela com a mão pousada em suas costas para guiá-la. O toque prolongado me deu a desculpa perfeita para sentir sua pele um pouco mais. Müller nos esperava já com um copo de uísque na mão e levantou-se, sorridente. — Senhor Winter! — Müller. — cumprimentei com educação. — Espero que não tenha esperado muito. — Nada que um bom uísque não resolva. — ele riu, e em seguida seus olhos pousaram sobre Stella. Ele a analisou de cima a baixo, demorando mais do que deveria. — E esta bela dama? — Stella Harper, minha assistente. — Respondi esperando que aquele olhar interessado em seu rosto mudasse. Mas é claro que ele ignorou. — Senhorita Harper… encantado. — disse, segurando a mão dela por tempo demais. — É um prazer, senhor Müller. — respondeu Stella, educada. Eu puxei a cadeira para ela antes que ele o fizesse e como previsto, vi sua expressão decepcionada. Sempre antecipe os movimentos do seu inimigo. — Vamos nos sentar. A conversa começou centrada no mercado europeu, mas não demorou para Müller desviar a atenção. — Senhorita Harper, o senhor Winter é tão exigente quanto dizem? Deve ser complicado trabalhar com um homem tão… controlador. — O senhor Winter é um líder excepcional. Exigente, sim. Mas justo. “Bela resposta”, pensei, quase sorrindo. Mas Müller estava longe de se dar por satisfeito. — Quantos anos você tem? — Vinte e sete. — Solteira? — Sim, mas… — Uma mulher jovem e muito bonita… uma surpresa estar sozinha. Senti a mandíbula travar. — Eu foco no trabalho. — respondeu Stella. — Ah, mas deveria aproveitar a vida… mulheres como você não deveriam se esconder atrás da rotina. — Ela pode aproveitar a vida da forma que considerar adequada, Müller. — cortei. Ele riu, desconfortável. Durante o jantar, observei os olhos dele se arrastarem sobre Stella diversas vezes e isso me incomodava. Mas piorou quando, no fim do jantar, Müller segurou novamente a mão dela. — Se algum dia quiser trabalhar comigo… prometo que pagarei melhor que o senhor Winter e prometo não ser tão exigente ou controlador. Stella soltou uma risada educada, desconversando, mas meu sangue ferveu. O caminho até o carro foi tenso. — Senhor Winter… está tudo bem? — perguntou ela, ao ver minha expressão. — O senhor parece… bravo. — Estou muito bem, senhorita Harper. Cuida da sua própria vida. Ela arregalou os olhos, surpresa. — Eu… o quê? — Já falei que você fica mais atraente calada. Mas também pode ser menos irritante se não me fizer repetir o que digo. — Minha mão tocou seu queixo, e ela não recuou. Seus olhos ficaram presos nos meus, sua respiração estava acelerada. — De agora em diante tome cuidado com o CEO Müller e se ele te procurar me avise, entendido? — Sim, senhor. — Não sei se ela entendeu mesmo ou só concordou para não me fazer falar outra vez. Mas essa resposta está aceitável. [...] No voo de volta, após resolvermos todas as pendências na Suíça e fecharmos os contratos, o silêncio se instalou novamente entre nós. Stella lia um relatório no tablet, e eu fingia estar concentrado nos meus papéis. Mas, na verdade, meu olhar ia para ela com mais frequência do que eu gostaria de admitir. — Você realmente consideraria aquela proposta do Müller? — perguntei. Ela me olhou, confusa. — O quê? Claro que não. Achei que estava óbvio que era apenas uma tentativa barata de flerte. — Mesmo assim… — insisti, mais áspero. — Ele tinha razão em uma coisa. — Em quê? Inclinei-me para mais perto. — Que você é bonita. Jovem. E qualquer homem notaria isso. Ela corou, desviando o olhar como sempre fazia. Como se não conseguisse lidar com esse tipo de atenção. Foi o estopim. Antes que qualquer palavra saísse da boca dela, capturei seus lábios nos meus. Não pedi permissão. Simplesmente a beijei. Foi bruto. Quente. Furioso. E completamente diferente do que estou habituado. Ela ofegou contra minha boca, mas não se afastou de imediato. Senti sua indecisão, a tensão nos músculos, o tremor nas mãos que se apoiaram em meu peito. Mesmo assim, permaneci ali, pressionando minha boca à dela como se precisasse marcá-la de alguma forma. Me afastei devagar, mantendo os olhos presos nos dela, que agora estavam arregalados pelo choque. — Você só pode ser minha secretária.