cap.2

Cap. 2

— Hoje tem uma festa importante. Consegui uma promoção na empresa e quero estar com a mulher mais linda da noite. Claro que é você.

— Que tipo de pedido é esse, Mathias? Você sabe que não tenho tempo para essas festas que você gosta de ir. Além disso, já estou atrasada para o trabalho. — Selene ajeitou o cabelo, nervosa e, ao mesmo tempo, frustrada.

Ele sorriu, confiante.

— Relaxa. Com o que consegui, você nunca mais vai precisar sair vendendo nada por aí, nem morar nessa casa caindo aos pedaços.

— É bem confortável — rebateu ela, cruzando os braços. — E um luxo para quem sempre viveu dependendo dos outros. Você sempre menospreza o que é meu.

— Não é isso. — Ele tentou suavizar a voz. — Eu gosto de você, Selene. Mas quando falo, é porque só quero o melhor para nós. Por isso quero te incluir na minha vida. Quero apresentar você às pessoas que são importantes. Então... você vem?

— Onde é essa festa?

O sorriso dele se alargou.

— Numa boate nova. Todo mundo vai estar lá. Inclusive suas amigas estão convidadas, se quiser levá-las.

Ela hesitou.

— Você sabe que eu não gosto dessas coisas. Tenho que trabalhar, não posso sair cedo.

O olhar dele endureceu por um instante antes de se recompor em um suspiro resiliente.

— Sempre a mesma desculpa. Você nunca me acompanha, nunca conhece meus amigos… — Ele suspirou, teatral. — Parece até que tem vergonha de mim.

Selene respirou fundo.

— Não é isso. Eu só não gosto de barulho, bebida, essas coisas… Você sabe que não são lugares adequados para mim. Além disso, é impossível eu ter vergonha de você.

Ele se inclinou, a voz baixa, quase uma ameaça envolta em doçura.

— Então prova. Vem comigo hoje. Só hoje. Quero que todos saibam que você é minha futura esposa.

O coração dela acelerou. A ideia de festa e bebida a deixava desconfortável, mas o tom dele a prendia.

— Não tenho roupa pra isso.

Mathias sorriu, vitorioso.

— Por isso vou te levar no meu apartamento antes. Eu comprei algo perfeito pra você.

— Mathias… — tentou protestar.

Ele segurou o queixo dela, firme demais.

— Selene, só quero que esteja ao meu lado. Não me deixa passar vergonha, tá? É só uma festa… o que pode acontecer?

A chantagem a atingiu em cheio. Selene desviou o olhar, cedendo com um suspiro.

— Só hoje. E, falando nisso, você me pediu em noivado e nem uma aliança me deu! E está falando todas essas coisas.

Ele riu, tocando o rosto dela.

— Quem sabe você não tem uma surpresa hoje? Estava só esperando o momento certo.

Os olhos dela brilharam, ingênuos.

Ele, satisfeito, murmurou:

— Vai ser uma noite inesquecível, meu amor.

Mais tarde, ele a buscou no trabalho e a levou ao seu apartamento no centro da cidade.

Tudo ali parecia exagerado — espelhos, brilho e um luxo forçado, de quem precisa provar algo.

Sobre a cama, um vestido vermelho a esperava. Curto. Decotado. Um convite indecente que fez Selene quase enfartar de constrangimento só de olhar a peça.

— Isso é uma roupa ou uma provocação? — Selene arqueou a sobrancelha.

— Não exagere, é apenas um vestido que, por acaso, vai te deixar ainda mais linda.

— Nem sei se isso cobre minha calcinha. E essa lingerie transparente? Mathias, o que é isso? Que tipo de festa é essa?

Ele riu baixo, sem humor.

— Para de agir como uma santa. As meninas do orfanato não eram tão puras assim. Por que você insiste em ser diferente? Sei que você queria seguir o mesmo caminho daquelas freiras, mas agora você está aqui fora. Não precisa ser tão recatada. Além disso, essas coisas qualquer moça usa.

Ele se aproximou por trás, encaixando o corpo no dela. As mãos firmes em sua cintura, o hálito quente no pescoço, beijando-a e fazendo sua pele arrepiar com o gesto.

— Não é isso… mas o que você está pedindo é demais. — Ela tentou se afastar. — Nem as meninas que gostam de festa usariam algo assim. Você está muito enganado se acha isso normal.

— É perfeito. Elegante. — O tom dele era venenoso. — Você, com esses trapos, nunca entendeu o que é roupa de verdade. Aliás, vi sua amiga Mima usando um dos vestidos que te dei. Ficou linda. Mas você… — Ele a olhou de cima a baixo. — Você tem um corpo ainda mais bonito. Não deveria deixar ela pegar as roupas que eu te dou, porque era a minha namorada que deveria estar usando. E não é você minha namorada?

Selene recuou um passo, o coração acelerado.

— Eu nunca deixei ela usar minhas coisas. É que a Mima é acostumada a dividir tudo, então sempre pega o que quer e quando quer. E eu não vou usar isso.

Mathias suspirou, impaciente, e passou o dedo pela alça do vestido.

— Você nunca se veste pra mim. Nunca se permite ser mulher. Tem vinte e dois anos, Selene. É só uma noite.

— É vulgar. — Ela cruzou os braços, desconfortável.

— Você acha? Mas não pode usar ao menos para me agradar? Você gosta mesmo de mim? Porque, quando fala que quer se casar comigo, parece que não passa de uma mentira.

— Não é verdade... Você sabe que tudo o que quero é ficar com você.

— Então fica...

Ele tomou o rosto dela e a beijou com força por um instante, apertando-a em seus braços.

As mãos deslizaram pelas curvas dela, guiando-a para a cama.

— Vai dizer que não gosta de ser desejada? — sussurrou, rouco.

Selene o empurrou, arfando.

— Mathias! Não quero isso.

Ele recuou, sorrindo falso.

— Tudo bem, só estava te provocando. Mas, pelo menos, veste o vestido e os saltos. Faz isso por mim.

Ela fechou os olhos, exasperada. Ele sempre sabia como dobrá-la. Quando voltou a olhá-lo, o sorriso dele já era de vitória.

Minutos depois, Selene saiu do banheiro. O vestido mal cobria as coxas; o decote revelava mais do que escondia. Tentou puxar a barra, inútil — o tecido subia de novo.

— Perfeita. — Ele sorriu, satisfeito. — Agora, sim, é minha Selene.

No chão, uma caixa de sapatos a esperava. Saltos altos, finos, impossíveis. Ela mal conseguia se equilibrar neles, mas Mathias não pareceu se importar.

— Não precisa se preocupar — disse, rindo. — Você nem vai precisar andar muito com eles em breve.

Ela não entendeu o comentário, mas também não questionou. Quando saíram do apartamento, ela seguiu se segurando nele, tentando se adaptar àqueles saltos desconfortáveis.

Na boate, as luzes piscavam frenéticas. O som alto, a fumaça, o perfume barato — tudo parecia sufocante.

— Não gosto daqui… — murmurou Selene, apertando o braço dele. — Além disso, não estou vendo os tipos de pessoas que você comentou.

Mathias fingiu não ouvir e a levou até uma mesa reservada.

— Relaxa, amor. Só quero que se divirta. — Empurrou um copo em direção a ela. — Beba.

— Eu não quero, você sabe que não sou boa com álcool. Nem um gole sequer.

— Selene… — o tom dele endureceu. — É só uma bebida. Confia em mim.

Ela hesitou. Queria agradá-lo, então cedeu, bebendo pelo menos uma dose. E foi essa dose que acabou lhe dando uma vertigem estranha.

O líquido queimou sua garganta. O segundo copo desceu mais fácil. O terceiro a deixou tonta, enquanto estava sentada ao lado dele naquele lugar vazio que ele dizia estar esperando os amigos chegarem.

As luzes giravam, o som vibrava dentro dela. O corpo estava leve demais.

— Mathias… acho que não estou bem… — sussurrou, levantando-se enquanto ele segurava o riso.

Ele a segurou pela cintura, conduzindo-a. O sorriso dele era frio, quase satisfeito ao vê-la cambalear, enquanto falava algo inaudível ao telefone. Ela ouvia vagamente ele perguntando qual era o quarto.

— Vem comigo. Eu cuido de você.

O corredor era escuro. A visão dela, turva. Ele abriu uma porta e a empurrou para dentro.

— O que está acontecendo? — a voz dela saiu fraca.

Mathias a empurrou contra a cama. O olhar, gélido.

— Selene… vou te dar um único conselho pra não acabar ferrada.

— Mathias? — ela tentou se erguer, mas caiu sem forças.

— Se comporta. Faz tudo o que ele mandar. Sabe? Obedece, e talvez saia viva depois de uma semana. Vou avisar suas amigas sobre sua ausência. Não queremos problemas... — A voz dele era serena demais para o horror que dizia.

— O que está dizendo? — ela perguntou, tentando segurar o braço dele.

— Depois de uns três dias, eles vão te largar em algum canto. Aí você se vira.

Selene arregalou os olhos.

— O que você fez?

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